29 novembro 2009

Para quem gosta de desenhar



os lápis são uma tentação. Por isso fomos espreitar a Viarco, que produz lápis e outros produtos para desenho altamente sedutores. No sítio da empresa descobrimos um pouco da história dos lápis no nosso país.
A origem do fabrico de lápis em Portugal remonta ao ano de 1907 quando o Conselheiro Figueiredo Faria juntamente com o seu sócio o Engenheiro Francês Jules Cacheux decidem construir em Vila do Conde uma unidade industrial de fabrico de lápis, designada por “Faria, Cacheux & Cª” também conhecida como Portugália.
Apesar da Portugália ter sido pioneira e bem sucedida no desenvolvimento e produção de artigos de escrita no país pensa-se que a sua actividade terá sido gravemente afectada com a entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial, principalmente pela Grande Depressão de 1929/31.
A viragem dá-se em 1931, quando Manoel Vieira Araújo, industrial experiente da chapelaria e figura proeminente de S. João da Madeira, decide diversificar o ramo de actividade da Vieira Araújo & Cª, Lda, e adquire a Fábrica Portuguesa de Lápis. No ano de 1936 é registada a marca que acompanharia gerações de portugueses até aos dias de hoje - Viarco.
Como é que fazem os lápis?
Grafite, argila e água são misturadas no moinho cerâmico (mais argila ou grafite conforme a graduação pretendida B, HB, H...), até se criar uma massa consistente e uniforme. Esta massa será colocada em sacos e introduzida numa estufa que lhe retirará a maior parte da água. O resultado, uma pedra de argila e grafite, vai ser triturada e reduzida a pequenos grãos de mistura que posteriormente serão introduzidos em rolos compressores para eliminar quaisquer impurezas existentes na argila.
Após este processo, o produto resultante será compactado num martelo pilão, formando um cartucho maciço de grafite com graduação pré-determinada que será colocado na prensa de onde sairão os “fios” de mina. Estes “fios” são cortados à medida pretendida do lápis, entrarão para uma máquina de secar que lhes retirará a água que ainda resta e vão cozer num forno à temperatura 1020ºC. Para que as minas fiquem resistentes, macias, aptas a escrever e apagar serão ainda de ser impregnadas de gordura por osmose.
As minas de cor têm por base da sua concepção o caulino, tylose, água e os pigmentos que lhes darão a cor pretendida. Estes produtos são introduzidos no misturador, formando uma massa consistente que será esmagada entre os rolos compressores, eliminando assim eventuais impurezas que prejudiquem a boa utilização do lápis de cor.
A partir desta fase, o material resultante seguirá o percurso já descrito anteriormente entre o martelo pilão e a máquina de secar, sendo que as minas de cor não irão ao forno cozer e são impregnadas de estearina e outras ceras em vez de gordura.
Para continuar a ler esta história fascinante, vá pelos seus dedos.
A Viarco tem novidades: uma aguarela de grafite para pintura, barras de grafite aguarelável para uso em grandes superfícies e um estúdio portátil com utensílios incluídos. Fazem parte da a linha ArtGraf, vocacionada para os técnicos das artes plásticas e design.

28 novembro 2009

António Barreto ao i


"Parece-me óbvio que há uma falta de empresários, de capitalistas. Será um problema ancestral? Vem da nossa maneira passada de viver e de gastar? Dos desperdícios? Do facto de os ricos portugueses terem vivido à sombra do Estado durante 200, 300 ou 400 anos? De o Estado ter ocupado tudo desde os Descobrimentos? Não quero ir por aí, mas o resultado é este. Há poucos empresários, poucos capitalistas com capitais, as elites são fracas e têm uma noção medíocre do serviço público."

"Entre 1960 e 1995 houve uma verdadeira cavalgada: fomos o país que mais cresceu e se desenvolveu na Europa, com uma mudança demográfica completa, outra nos costumes, algo de absolutamente fantástico! De repente chegámos a 90 ou 95 e percebemos que não tínhamos inovado nem criado muito... Fizemos auto-estradas - qualquer país com um cheque na mão as faz -, mas não fizemos novas empresas, novos projectos, novos produtos. E perdemos muito do que tínhamos: demos cabo da floresta, demos cabo da agricultura, demos cabo do mar. Três coisas imperdoáveis, três erros históricos."

"Os poderes só receiam uma coisa: a opinião dos homens livres."

Mais no i

27 novembro 2009

Outras histórias de amor trágico



O amor é um substantivo carregado de sentidos. Tantos que abarca doenças, taras, manias, ciúmes, assassínios, necrofilias e muito mais.
Veja-se a história de Joana, que apareceu morta na mala de um carro, com a cabeça envolta num saco plástico, em Fagilde. Tinha 20 anos e andava no 1.º ano do Curso de Comunicação Social, em Viseu. O assassino era mais velho dois anos e estudava Engenharia do Ambiente, no Instituto Politécnico de Viseu.
No dia em que morreu, Joana Fulgêncio não foi jantar a casa, com a mãe, porque foi ter com o namorado, David Saldanha.
Foram vistos a fazer compras no centro comercial Fórum Viseu, no centro da cidade, pouco depois das sete. Era impossível confundi-los. Ela, 20 anos, alta, com lentes de contacto azuis, decote e minissaia. Ele, 22 anos, mais baixo do que ela, cabelo pintado de louro, calças ao fundo do rabo e maquilhagem nos olhos. Andaram às compras no Fórum. Depois, terão ido jantar ao Palácio do Gelo, outro centro comercial, enorme e muito movimentado, à saída da cidade.
Há quase cinco anos, Joana e David cruzaram-se por acaso na rua, sorriram e amaram-se logo. Pouco depois começaram a namorar: no dia 3 de Julho de 2005. O número 03-07-05 tornou-se mágico. Está gravado em capas de cadernos, em fotografias, em quadros, em t-shirts, em sapatilhas. Era com ele que Joana apostava no Euromilhões.
Ele tratava-a com nomes tão sugestivos como couve, manga, abelha, árvore.
A Joana tinha a vida toda planeada. Daqui a dois anos comprar uma casa no Porto, casar com o David e ter dois filhos, chamados Mariana e Bernardo. Joana conheceu David aos 15 anos e nunca teve outro namorado. Apesar disso, David era ciumento. Não deixou a namorada participar nas praxes académicas, afastava-a de amigos e amigas, criticava-a por usar minissaia, e até de perder peso, porque poderia atrair outros homens. Punha-a a comer Nestum.
Apesar de possessivo, teve várias escapadelas, até mesmo relações com outras raparigas. Mas voltava sempre para Joana, o que sempre a deixava feliz.
Discutiam e reconciliavam-se. Até que ela apareceu dentro da mala do Peujeot 306 com que tinham saído, para jantar fora, despenhado num socalco junto ao rio. O crânio estava desfeito e metido num saco de plástico. David, que apareceu ferido, num bar de Fagilde, contou à Polícia uma história de ameaças, carjacking e sequestro. Mas depois, ao ser confrontado com as imagens de uma câmara de video-vigilância, confessou que foi ele que a matou com um objecto metálico. Matou a namorada desferindo-lhe golpes no crânio. A seguir, como o sangue se espalhasse por todo o carro, envolveu a cabeça de Joana num saco de plástico, meteu o corpo na bagageira e empurrou o carro pela ravina, junto à barragem.
Há quem veja nisto uma história de amor. A mim parece-me mais uma história de terror, com muita demência à mistura.

Cultura cívica


Há no nosso país uma tolerância medieval para com os abusos de poder, sejam eles do poder judicial, sejam do poder executivo.
O acidente que se deu hoje em Lisboa entre duas viaturas de alta cilindrada do Estado é bem a prova disso. Supostamente, não se pode circular a mais de 40 dentro das localidades. Mas circula-se muitas vezes a velocidades três ou mais vezes superiores.
O acidente teve a particularidade de envolver nada menos nada mais do que o secretário-geral do Gabinete de Segurança Interna, Mário Mendes, e o sub-secretário-geral do mesmo organismo, Paulo Lucas.
Não sabemos se iam no banco de trás ou no da frente e se levavam ou não cinto de segurança. Apenas que um dos veículos, ou o destes senhores ou o do motorista do presidente da Assembleia da República, ia em excesso de velocidade.
O que é imperdoável num estado de direito.

Dormir com a morta



Supostamente uma notícia é o relato objectivo (o mais objectivo de um acontecimento). Mas os jornalistas são gente e, como tal, dados a ter muitas opiniões e a deixá-las espalhadas pelo que escrevem. E quando o assunto lhes permite explorar uma qualquer veia de poetastro, é ver como baralham tudo o que são dados. Os acontecimentos reportam-se a um um vietnamita de 55 anos, que dormiu junto do corpo morto da mulher durante cinco anos. Um imitador moderno dos preceitos românticos.
A notícia pouca informação dá, embora revele bastante do lado "apaixonado" do jornalista, que escreve: "Há histórias de amor assim, que fogem à compreensão das mentes humanas comuns; há paixões que nem a morte esmorece, literalmente. Há uma ternura que nem a morte é capaz de travar, uma vontade de abraçar o corpo de alguém que se amou, ainda que esse alguém não passe já de um cadáver em decomposição, que nada pode impedir."
De resto, como podem ver, a notícia é confusa. A mulher morreu em 2003, o homem, com saudades, ia dormir sobre a campa (o que fez durante 20 meses). Depois, por causa das condições climatéricas, escavou um túnel até ao corpo da mulher, retirou-o da tumba e levou-o para casa, vestindo-o e dormindo abraçado ao cadáver.

26 novembro 2009

Guerra Junqueiro

CARTA
(A um amigo que me pediu versos)

Como hei-de ser um Petrarca,
Cantar como um rouxinol,
Se o meu termómetro marca
Quarenta e dois graus ao sol!

Da lira bárbara e tosca
Nem saem trovas d’Alfama.
Enxota o Pégaso a mosca,
E eu durmo a sesta na cama.

A hipocondria maciça
Conduzo-a, não há remédio,
Na jumenta da preguiça
Pelas charnecas do tédio.

Eu trago a inspiração oca.
Ando abatido, ando mono;
Meus versos abrem a boca,
Como os porteiros com sono.

Não tenho a rima imprevista,
Os guizos d’oiro ou de opala,
Que à asa da estrofe o artista
Sublime prende ao largá-la.

P’ra lapidar à vontade
Um belo verso radiante,
Falta-me a tenacidade,
Que é como o pó do diamante.

A musa foi-se-me embora;
Para onde foi nem me lembro;
Só a torno a ver agora
Lá para os fins de Setembro.

Anda talvez nas florestas
Fazendo orgias pagãs,
Entre os aromas das giestas
E os braços dos Egipãs.

Deixá-la andar lá dois meses
Colhendo imagens e flores,
Para espanto dos burgueses
E ruína dos editores.

Enfim, o calor achata-nos.
Vamos aos bosques pacíficos
Onde os guarda-sóis - os plátanos -
Têm forros novos, magníficos!

[in A musa em férias, 1879]

25 novembro 2009

Cavaco igual a si próprio


Enquanto ministro foi pródigo em gaffes. Enquanto presidente por que seria diferente? E, apesar da idade, continua tão nervoso como há anos. Facilmente perde a compostura e nota-se uma certa falta de ideias seja para o que for. Mas o povo é soberano (oh oh oh) e ele é, de facto, o Presidente da República Portuguesa.
Quando o homem sair da presidência ver-se-á que fait divers foi esse das escutas: que interesses serviu, quem quis encalacrar quem. Para já, uma certeza: Cavaco mais uma vez fica mal no retrato: 1, 2, 3.

24 novembro 2009

No país do politicamente correcto


As taras não olham a credo, cor de de pele, estado civil ou opção sexual.
Parece que à medida que se vão combatendo umas, surgem outras, fruto da sanha higiénica que enforma o agora.
E a América nisso parece campeã. Há no puritanismo de muitos wasp um desejo afim do que atravessou a Alemanha nazi. Tudo se faz em nome das boas acções.
E as acções chegam a ser hilariantes: "a Apple não se responsabiliza pelas avarias dos seus equipamentos, se estes pertencerem a fumadores. O alerta foi dado por uma cliente norte-americana que se dirigiu a uma loja da Apple para reparar o seu computador, que voltou intacto. O funcionário disse que a garantia tira a responsabilidade à Apple de reparar equipamentos “infectados de nicotina”, porque esta substância tem riscos para a saúde."

Marte tinha água e muita


Pelo menos é a ideia com que se fica ao olhar para a cartografia do hemisfério norte do planeta. Quem quiser pode ir até aqui e descarregar um mapa em alta definição.

Os perigos do facebook

É canadiana e estava há ano e meio sem trabalhar, a receber pensão de uma seguradora. Tinha-lhe sido diagnosticada uma depressão.
A mulher, de seu nome Nathalie Blanchard, gosta de passar o tempo com amigos virtuais e pôs fotografias suas no Facebook, onde aparecia sorridente e festiva. A seguradora cortou-lhe a pensão, alegando que parecia estar curada dos sintomas depressivos.
As imagens mostram-na na praia e em festas com amigos. Fotografias que, no entender da seguradora - que teve acesso ao seu perfil online -, evidenciam a total recuperação da rapariga. Ela assegura que as fotografias datam de umas férias que resolveu tirar por indicação médica, mas alega que continua a registar sintomas depressivos.
Cá para mim, devia marcar consulta com o seu Dr. House.

O nosso Silvio é uma pop star


A Itália é um mundo. A revista Rolling Stone do mundo é outro mundo, escolheu para rockstar do ano o nosso querido Silvio. A capa corre a expensas de Shepard Farey, o mesmo que trabalhou com Obama, durante a campanha eleitoral.
Carlo Antonelli, explica em editorial as razões da escolha: o estilo de vida de Berlusconi supera a definição do que é o rock and roll.
Rod Stewart, Brian Jones and Keith Richards and Oasis já foram capa da dita revista. Este ano a escolha foi ainda mais fácil e unânime: Silvio é que é.

Para que não houvesse dúvidas

da finalidade da avaliação dos professores, o DN de hoje esclarece. A avaliação nunca pretendeu melhorar nada. Apenas quis poupar dinheiro ao Estado.
"A decisão de avaliar todos os professores até Dezembro terá efeitos no orçamento do Ministério da Educação. As progressões na carreira vão custar pelo menos 20 milhões de euros em aumentos salariais já em 2010. Se a isto a nova ministra da Educação juntar o fim da categoria de titular, generalizando o acesso aos escalões salariais mais altos, o impacto financeiro ainda será maior."

Escutas e face oculta


Temos passado ao lado dos acontecimentos judiciários do Portugal de 2009, porque o pó é muito e impede que se tome posição. Sem um bom conhecimento dos assuntos (ainda por cima quando o assunto é a corrupção de figuras do Estado) facilmente se cai na histeria futebolística: contra ou a favor. No entanto, os últimos acontecimentos são de tal modo inquietantes que resolvemos deixar aqui algumas interrogações.
José Sócrates não é figura pela qual tenhamos simpatia. Mas daí a alinharmos pelo linchamento vai um passo grande.
Os juízes são homens e, como tal, têm os seus apetites de poder e as suas idiossincrasias. Mas enquanto juízes têm de defender a lei. Ora no caso das escutas a Sócrates parece evidente que não só quem fez as escutas, como quem as autorizou agiu no desrespeito da lei.
Sócrates não é apenas um homem do PS, é o primeiro-ministro de Portugal. Portugal é um país que tem responsabilidades não só para com os seus habitantes como para com parceiros europeus e doutros continentes.
O primeiro-ministro só deveria ser escutado depois de ter sido indiciado pela prática de algum crime. Mas escutaram-no - durante meses - no decurso das várias campanhas eleitorais e não só sem que tal acontecesse.
Algo que desde logo obriga a que se pergunte: Com que finalidade?
Havendo hierarquias, como pode o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Aveiro desrespeitar ordens do Supremo Tribunal de Justiça?
Há algo no meio disto que não cheira bem.

20 novembro 2009

Inquietações do presente: a gordura

Ser gordo é ser o quê? Há uma quase demonização da gordura. Mas também há quem aproveite para brincar com o assunto, escolhendo como alvo figuras pop. Isso mesmo aconteceu com algumas que foram retocadas pelo Photoshop. O resultado é este:

Cantora de sucesso


Casal maravilha


Sexy symbol


Rainha da pop


Mais fotos ao alcance de um gesto.

O homem que partiu o pénis


As fantasias à volta dos órgãos sexuais (masculinos ou femininos) é coisa para encher muitos tomos. E normalmente não passam disso, de fantasias.
O homem chama-se Francis (ou Flint, o que vai dar no mesmo) e, quiçá inevitavelmente, é americano. Diz ele que depois de ter ido ao cinema com a namorada, foram para casa cheiinhos de vontade e quando estavam a chegar a vias de facto, zás, o pénis partiu-se e ficou, diz ele, como o nariz do Gonzo, esse marreta irrepreensível.
Como o caso é insólito e a fome de protagonismo danada, veio para a net com a história. "This is where shit hit the fan." O resto é uma história banal.

Jeanne-Claude (1935-2009)



Jeanne-Claude Denat de Guillebon era a mulher de Christo Javacheff. Juntos embrulharam monumentos e paisagens um pouco por todo o mundo.
Assinavam sempre assim: Christo.

Dois filmes sobre extermínios

Dois filmes sobre extermínios: Katyn, do polaco Andrzej Wajda, e Shoah, do francés Claude Lanzmann. Um sobre o extermínio comunista. Outro sobre o extermínio nazi.

Katyn, de 2007, é sobre a matança de mais de 20 mil militares polacos pelo Exército Vermelho, em 1940, quando a URSS invadiu a Polónia. Narram-se os últimos dias das vítimas antes de serem enterradas no bosque de Katyn, (nas proximidades de Kiev, Ucrânia).


Shoah, de 1985, é um filme de 9 horas, que custou a Claude Lanzmann, o realizador, 11 anos de trabalho (gravou 350 horas de filme). Não tem efeitos especiais, apenas relatos e imagens dos campos tal como foram encontrados. O filme fala cruamente do engenho nazi para a morte em massa, desde os primeiros momentos, em que utilizavam os camiões como câmaras de gás, servindo-se dos tubos de escape (anidrido carbónico), até ao uso do gás zyclón, que matava as vítimas em apenas 10 ou 15 minutos.



Errata: onde está «extermínio comunista» deveria estar «extermínio bolchevique».

"Hit the Bitch"


Os dinamarqueses têm sido muito falados por causa das campanhas publicitárias que engendram e envolvem mulheres. Há tempos falámos de uma que se destinava a promover o turismo. Agora, está a dar que falar uma contra a violência doméstica.
Há um jogo que mostra uma mulher a levar bofetadas, umas atrás das outras, enquanto a pontuação da masculinidade do agressor vai aumentando. Quando atinge os 100% é classificado de idiota. A mulher cai, quase desmaiada.
Ora, se ele só é idiota no fim, que raio de publicidade é esta? Uma espécie de vingança catártica? Bate, filho, bate com força que pelo menos assim descarregas a fúria virtualmente...
Quem vai ao sítio para jogar encontra a seguinte mensagem:

"Dear non-danish visitor,

Due to an extremely high amount of traffic "Hit the Bitch" has been limited to only allow users from Denmark.
However, domestic violence is a global problem, so please support the fight against it in your local country.
Thanks for your interest.

Kind regards
Children exposed to Violence at Home"

Podem ler mais sobre o assunto indo aqui. E podem ver uma amostra do jogo a seguir.


18 novembro 2009

Vítor Nogueira


Torre

À noite, somos todos mortais outra vez.
Para que serve uma torre de vigia?
Já se sabe que na selva é mesmo assim:
procurar lenha, acender uma fogueira,
manter os mosquitos afastados.

Contudo, à luz do dia, sobrevoar o mar largo
sem ser visto, escalar ao menos uma vez
o elevador de Santa Justa.
São pombas, nos beirais, ou são os corvos
da mui nobre cidade de Lisboa?

[in Mar Largo, &etc, 2009, p. 40]

17 novembro 2009

Dos prémios literários


Ninguém pergunta a um gestor ou a um empresário o que vai fazer com o que ganha. No entanto, não há jornalista que não caia no chavão quando se trata de um escritor ou de um poeta.
José Emilio Pacheco, que ganhou o prémio Reina Sofía de Poesía Iberoamericana, entrevistado por Antonio Astorga, do ABC, responde à pergunta:
«A esta edad, el galardón tengo que emplearlo en gastos médicos. Si me hubiera pillado con treinta años me lo habría gastado en Ibiza».
Há poetas assim, que brilham onde outros claudicam.

Quase 550 mil desempregados em Portugal

Há 5 017 500 pessoas empregadas em Portugal. Os desempregados são 547 700. Dados hoje publicados pelo INE.

O Banco de Portugal prevê contracção económica de 2,7 por cento este ano.

A economia ressente-se. Os desempregados são muitos. Os salários são baixos. Mas...

O que é preciso é contenção. E a contenção é tanta que há empresas com lucros faraónicos, como a PT, a tal que gasta milhares de euros em publicidade a prometer custos baixos para os clientes.

Cinco mil milhões de euros só para a PT em 9 meses


A linguagem das empresas é peculiar e visa o lucro. Algumas dessas empresas usam o seu poder para passar mensagens aos accionistas e também aos clientes. Fazem-no em forma de notícia, como a que transcrevemos a seguir.
O que me incomoda sempre nesta maneira de redigir as notícias são as mensagens subterrâneas. Coitadinha da empresa, cujos lucros astronómicos não foram, neste ano, tão elevados como no ano anterior.
Os salários no nosso país são muito baixos. Mas os nossos gestores auferem vencimentos tão elevados quanto os dos congéneres estrangeiros.
Os serviços que pagamos são tão caros ou mais do que os estrangeiros.
Mas como não temos alternativa, ou pagamos ou não temos. E, como se não bastasse, ainda temos de ler notícias assim:
"A PT obteve um resultado líquido de 371,9 milhões de euros (ME) nos primeiros nove meses do ano, o que representa uma queda de 14,2 por cento face aos lucros de 433,5 ME do período homólogo, anunciou a operadora."
Repare-se: "Nos primeiros nove meses do ano, as receitas da PT atingiram os 4973 milhões de euros."

16 novembro 2009

O bobo da corte


Cada terra com seu tolo. Cada ilha com o seu bobo.

Não sei se têm presente o cromo que tinha por hábito pôr-se por trás das pessoas quantas vezes apoiando o seu lindo queixo no ombro delas. Aparecia, seguia a câmara e tornou-se conhecido.

Na ilha da Madeira há um governante que me faz lembrar tal figura. De cada vez que abre a boca sai asneira. Consta que é muito apreciado entre os democratas tugas por ser um campeão de eleições. Papa-as todas.

Além de democrata dos quatro costados, é um expert em geografia, revelando-se também um consumidor de filmes de série B. Julga ele que o território continental português é uma ilha e designa-o por "Sicília hispânica". Às vezes, acontece: dizem-se verdades sem querer; põe-se a nu o que se anda a fazer.

Um monumento para o homem. Cada localidade deveria erigir-lhe uma estátua sob o lema: Herói Português do Século.

Capturado em cuecas e enfiado num buraco


Ser mau aluno a Matemática e a Educação Visual dá nisto: calcula-se mal as proporções e erra-se. Que o diga o romeno que ficou entalado na janela ao tentar assaltar um supermercado de Almancil, em Loulé (Algarve).
Quando o homem tentou entrar pelo postigo da cave, depois de tirar a grade que o protegia, ficou preso num supermercado com o sugestivo nome de Ali Super. Apesar da constituição estreita, o rapaz ficou entalado no pequeno espaço – que não terá mais de 40 cm – mais de 11 horas.
Por entre as várias tentativas para se soltar, terá despido as calças e assim o encontraram, manhã cedo, acabando por se tornar numa caricatura noticiosa. Mal tocava no chão com os bicos dos pés.

13 novembro 2009

Um museu em Portugal


Tem a palavra Pedro Lapa:

«Um museu não é uma galeria de exposições temporárias, mas também não é um monumento bolorento, fixo, definido de uma vez por todas.»

«Os museus são laboratórios. Não são uma casa de entretenimento, são uma casa de partilha e discussão de conhecimento. Têm que fazer investigação. Com as pressões excessivas e completamente irresponsáveis colocadas aos directores, de angariação quer de fundos, quer de públicos, têm perdido aquilo que os constitui como referência. Veja-se o caso do MoMA, do Pompidou, veja-se o que foram e o que são hoje. Um museu não pode descurar a investigação e nós tentámos não descurá-la. Muitos dos catálogos que produzimos são documentos fundamentais para o estudo de determinados artistas e movimentos.»

«quando nos aproximamos da contemporaneidade o público português não está tão habituado: quando fizemos o Gerhard Richter, em 2004, foram, salvo erro, 14 mil visitantes, hoje seriam 24 mil.»

«Em 2007 decorreram em simultâneo a Documenta de Kassel, a Bienal de Veneza, o Münster Skulptur Projekte e a Bienal de Istambul. Em nenhum desses eventos - em nenhum! - esteve um artista português. Os artistas portugueses são maus? Não. Há bons artistas portugueses, melhores do que muitos que estiveram nesses eventos. O que é que se passa então? Há um profundo desconhecimento, um desconhecimento que só pode ser suplantado, se existir capacidade portuguesa de integrar redes de circulação emergentes com os que serão [um dia] os artistas e curadores dos grandes eventos. O grande problema português é que as instituições têm sido conservadoras nas suas programações.»

Fonte: Público

David Claerbout






David Claerbout está desde ontem no Museu do Chiado (Lisboa) até 28 de Fevereiro de 2010. Nasceu em 1969 em Kortrijk, na Bélgica e, actualmente, vive e trabalha em Antuérpia.
Segundo palavras de Pedro Lapa, "trabalha numa era digital em que todas as categorizações de cinema e fotografia se desmoronaram, e as suas obras lidam com a fusão entre ambos, e de forma a produzir uma experiência física no espectador".
Para ver melhor as imagens basta clicar em cima delas (parte com origem aqui).


12 novembro 2009

O peso das instituições


O cristianismo ganhou força por ter sido ousado, chamando a si os humildes, protegendo-os primeiro e depois servindo-se deles para conquistar poder. Uma vez instalado e após muitas cisões e debates, governou, enriqueceu até que a modernidade lhe foi retirando audiência.
A Igreja há muito representa um conservadorismo faccioso e parece apostada em defendê-lo contra o tempo, mesmo que o século seja dominante no seu seio desde finais do século XIX.
A eutanásia e o casamento de pessoas do mesmo sexo são as grandes batalhas de momento, depois de ter perdido a do aborto. Talvez por isso, mudou de estratégia e aparece mais aguerrida a veicular a sua mensagem. No que mais não é do que uma luta contra os que ainda a frequentam.
A Igreja parece ver-se a si própria como um museu vivo. Quer preservar a todo o custo ideias e valores ultrapassados. E se se nota haver quem dentro dela propugne abertura e seja capaz de trazer para o seu seio temas fraturantes, surge aos olhos do agora ainda demasiado colada a dogmas tão activos como os de defender que a Terra está no centro do Universo.
Ainda não assimilou completamente que cada vez mais os indivíduos querem decidir por si as suas opções de vida e que quanto mais conscientes são, melhores católicos podem ser.
Que a eutanásia seja um assunto muito complexo, entende-se. Que o casamento de homossexuais a incomode tanto soa mal. Se os bispos portugueses já são capazes de dizer que "ser homossexual não é pecado, como ser heterossexual não é virtude", deveriam dar o passo seguinte que era deixar que cada um decidisse em consciência. Até porque como já alguém disse: "Uma igreja que abençoa carros, casas e barcos seria incompreensível que não pudesse abençoar uma união entre duas pessoas."

11 novembro 2009

José Luis Rey

José Luis Rey ganhou o XXII prémio Internacional de Poesia Loewe, com o livro Barroco. O poeta tem 36 anos. O júri era composto por Víctor García de la Concha, director da Academia da Língua, e pelos poetas Francisco Brines, José Manuel Caballero Bonald, Antonio Colinas, Jaime Siles, Cristina Peri Rossi (que ganhou o prémio no ano anterior), Jaime Siles e Luis Antonio de Villena.
Espanha tem esta coisa, dá prémios a poetas novos. Em Portugal continuamos num mundo pequeno e fechado, em que são sempre os mesmos.
Aqui ficam excertos de poemas de José Luis Rey, retirados da página do autor.

APARICIÓN DE VENUS EN LAS BAÑERAS DE HUNGRÍA

Mis niños con las manos perfectas de robar.
Mi maleta llena de pájaros.
Los ladrones volaban
y esperan cada tarde el momento adecuado, mi dinero, mi vida,
y espían los milagros y siempre tienen sed.
Y entonces, bajo rosas, a ciegas, entre el cielo,
en todos los tejados, dilo así.
Y di cómo soñábamos,
y quiénes fueron jóvenes, y quiénes sumergieron sus vestidos
en la harina solar para ver otros días
y nada se les dio.
(...)


PLENITUD

Cuando murieron los poetas ingleses y franceses
la rosa florecía.

Cuando murieron los húmedos poetas alemanes
la rosa florecía.

Cuando murió Montale y el cielo se llenó de diamantes asmáticos
la rosa florecía.

La rosa florecía
cuando murió también Whitman el núbil.


Verde siempre el vestido de este aire.
Yo vivo con la rosa que no muere.

10 novembro 2009

Memórias em contraluz


Petter Moen (1901-1944) foi um jornalista e resistente norueguês que a Gestapo capturou. Enquanto esteve preso redigiu um diário em pequenos papéis que enrolava e atirava por um ralo de ventilação. Como não tinha lápis nem caneta, grafava o que via e pensava em papel higiénico.
Esteve detido sete meses (corria o ano de 1944) no quartel general da Gestapo em Oslo. Período no qual perfurou cada letra sobre papel higiénico com um prego, dando testemunho do horror nazi.
Morreu num naufrágio com outros 400 prisioneiros quando era levado para a Alemanha. Um dos sobreviventes deu a conhecer a proeza de Moen quando acabou a guerra e o livro viria a ser editado em 1949, na Noruega, sendo depois traduzido para várias línguas.
O manuscrito encontra-se no Museu da Resistência de Oslo, mas não está exposto.

Fonte: El País

Pirâmide pintada descoberta em Calakmul




No recinto arqueológico de Chiik Nahb, junto à linha fronteiriça entre o México e a Guatemala, descobriu-se uma pirâmide com cenas da vida quotidiana dos Maias, que datam de há 1350 anos.
As pinturas dão preciosa informação sobre as classes sociais, sobre o tipo de alimentação e sobre a indumentária usada na época.
Até à data, a maior parte do conhecimento sobre os costumes e a sociedade dos maias tinha apenas em conta a vida das elites e das classes altas (guerras, cerimónias religiosas e protocolares). Os desenhos mostram outros membros dessa sociedade.
Um artigo sobre a descoberta foi publicado aqui (mas só pode ser lido pelos subscritores da publicação científica).

Fonte: El País

09 novembro 2009

Vagina, para que serves?


A vagina tem múltiplas funções. A mais insólita será a de servir como cofre de objectos roubados. Ou de droga, como de vez em quando também vem a público.
L.D., de 29 anos, natural da Croácia, levava na sua vagina dois anéis, três brincos, três pendentes com pedras preciosas, um fio com cerca de meio metro, um relógio Omega Speed Master, duas pulseiras e duas medalhas com motivos religiosos.
L.D. era uma das mulheres usadas por um grupo nómada (a notícia classifica-o assim), composto por catorze indivíduos de ambos os sexos (quiçá um soneto), maioritariamente oriundos dos Balcãs, mas também de Itália, que se dedica à prática de furtos em residências (Palmela, Setúbal, Moita, Seixal, Telheiras e Pontinha, Leiria foram alguns dos lugares que visitaram).
Parece que os homens ficam em casa a tomar conta das crianças e as mulheres partem ao ataque. Quando as mulheres regressam aos lares (apartamentos e rulotes), os homens encarregam-se dos objectos, procedendo à sua venda ou ao seu encaminhamento para fora do país.

Cartas da Península, de William Warre


William Warre era luso-britânico. Nasceu no Porto, em 1784, e estava destinado a prosseguir o negócio da família britânica, ligada ao comércio do vinho. As invasões napoleónicas trocaram-lhe as voltas (ingressara no Exército britânico aos 19 anos). Foi na qualidade de oficial inglês que regressou ao solo natal, na altura com 24 anos, para cumprir o que lhe pareceu ser a sua vocação histórica: ajudar a salvar Portugal da invasão estrangeira. Participou não só nas mais importantes batalhas das Guerras Peninsulares, mas também na resistência dos portugueses.
Lutou na Batalha da Roliça (o primeiro combate da Guerra Peninsular) e na do Vimeiro, que conduziram directamente à libertação de Lisboa, e esteve com o general Sir John Moore na sua famosa e terrível retirada na Corunha, ainda hoje lendária na história britânica. Esta catastrófica marcha de Inverno através de montanhas cobertas de neve culminou na batalha desesperada nos cumes das colinas da Corunha e na morte prematura do general Moore. Warre escreveu numa carta para casa relatando a honra de estar na retaguarda e de ser o último oficial a embarcar a 16 de Janeiro, no momento em que os franceses tomavam a cidade.
O capitão Warre esteve presente na libertação da sua cidade natal, o Porto; no cerco e tomada de Ciudad Rodrigo; e testemunhou a brutalidade do segundo cerco e saque de Badajoz, em Abril de 1812. Embora tivesse apenas 27 anos na altura, foi o oficial principal na intimação do Forte de São Cristóvão e fez prisioneiros os generais Philippon e Weyland - os comandantes franceses de Badajoz -, que lhe entregaram as suas espadas pessoalmente.
Participou na épica e decisiva batalha de Salamanca, em Julho de 1812, que muitos estrategas militares consideram ser aquela em que Wellington demonstrou as suas grandes qualidades estratégicas, ainda mais do que em Waterloo.
As suas cartas foram publicadas em 1909, por iniciativa de um sobrinho e mereceram uma segunda edição em 1999, pela mão de um sobrinho-bisneto. Dez anos depois, regressam pela mão da Alêtheia. Cartas que, embora pessoais, contêm muitos dados militares e são, por isso, um curioso documento da época de 1808 a 1812.

08 novembro 2009

A mania das sondagens

As sondagens são úteis quando as perguntas são pertinentes. Quando se realizam para saber se uma lei deve ou não ser aplicada são ridículas. Se a lei é lei, é porque foi votada pela assembleia onde estão os deputados que o país escolheu.
Imaginem que agora se fazia uma sondagem para saber se as escolas deviam ter ou não crucifixos, quando a lei diz que a opção religiosa de cada um é um direito. Que interessa que X por cento dos inquiridos digam que sim ou que não?
Pois isso mesmo acaba de acontecer em Itália, país que não pára de dar mostras do mais puro infantilismo.
Será que alguém se lembra de que as leis de países democráticos contemplam as minorias?

07 novembro 2009

A volta ao mundo pelos museus


Museus e galerias de todo o mundo numa página chamada blablart. E ainda outras coisas mais. Para quem gosta de viajar sentado.

Os insondáveis mistérios de Deus


O que é um padre? É uma pessoa do sexo masculino que recebeu o sacramento da Ordem, ou seja, o poder e a graça de exercer funções e ministérios eclesiásticos que se referem ao culto de Deus e à salvação das almas. A sua acção deve pautar-se pela santidade (é responsável por uma paróquia, onde preside a Sagrada Eucaristia, bem como atende à confissões, aconselhamentos e outros; doou sua vida ao serviço do Evangelho e vive para servir a Deus e aos leigos por meio da evangelização). Um padre tem o poder de perdoar os pecados, de converter o pão e o vinho no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e de conferir, conforme o seu grau, outros sacramentos.
O padre Fernando Guerra, que exerce funções em Covas de Barroso, concelho de Boticas, tem 74 anos e gere quatro paróquias da diocese de Vila Real. Passou do anonimato para os telejornais por causa de armas. Já no seminário, ao que se diz, era apodado de pistoleiro.
Consta que herdou uma pistola do pai e que possui licença de uso e porte de arma para um revólver (curiosamente a única arma que não apareceu durante as buscas efectuadas pela GNR). Apreenderam-lhe várias armas, todas ilegais, algumas com os números de série rasurados, bem como um saco de pólvora e dinamite.
O sacerdote tinha em casa um pequeno arsenal. Para quê? Certamente para enfrentar o Demónio que, como se sabe, adora tiroteios.
Foi professor durante cerca de 30 anos e é pároco há 50. Como nos disse o nosso douto primeiro-ministro, os professores ganham muito. Veja-se: o padre Fernando tem nada menos nada mais do que 33 imóveis registados em seu nome só no concelho de Montalegre, mais duas casas em Boticas e sete na cidade de Chaves. Além disso, possui alguns carros de gama alta.
Há quem diga que tem procurações de muita gente para fazer negócios e que empresta dinheiro com juros de 4%. Certo certo é estar colectado em nome individual como sócio de uma empresa, sediada numa das suas residências, neste caso em Covas de Barroso, concelho de Boticas, de comércio e retalho de carpetes e cortinados, que curiosamente não apresenta movimentos comerciais há vários meses.
Os mistérios de Deus são insondáveis. O padre Fernando é um leal servidor e, por isso, Deus tem-lhe recheado a existência neste vale de sombras e sofrimento com algumas alegrias. Se até se chama Guerra, Fernando Guerra.

06 novembro 2009

Gabriel Ferrater

Ócio

Ela dorme. À hora em que os homens
já estão despertos e a pouca luz
entra para os ferir.
Com tão pouco temos tanto. Não mais
que a sensação de duas coisas:
a terra gira e as mulheres dormem.
Em paz, façamos caminho
até ao fim do mundo. Não precisamos
de fazer nada para ajudar.

[tradução de Rui Almeida deixada na caixa de comentários da versão original e das traduções para castelhano.]

05 novembro 2009

Gabriel Ferrater

Oci

Ella dorm. L'hora que els homes
ja s'han despertat, i poca llum
entra encara a ferir-los.
Amb ben poc en tenim prou. Només
el sentiment de dues coses:
la terra gira, i les dones dormen.
Conciliats, fem via
cap a la fi del món. No ens cal
fer res per ajudar-lo.

[in Mujeres y días, Seix Barral, 2002, pág. 262]

Ocio

Ella duerme. Es la hora en que los hombres
ya despertaron, y una escasa luz
entra todavía a herirlos.
Con muy poco nos basta. Solamente
el sentimiento de dos cosas:
la tierra gira y las mujeres duermen.
Reconciliados, nos apresuramos
hacia el fin del mundo. No nos es preciso
hacer nada para ayudarle.

[tradução de Pere Gimferrer, pág. 263]

Ocio

Ella duerme. La hora en que los hombres
ya se han despertado, y poca luz
entra todavía para herirlos.
Con muy poco tenemos bastante. Sólo
el sentimiento de dos cosas:
la tierra gira y las mujeres duermen.
Conciliados, caminemos
hacia el fin del mundo. No necesitamos
hacer nada para ayudarlo.

[tradução de M.ª Àngels Cabré, in Las mujeres y los días, Lumen, 2002, pág. 213]

Paulo Gouveia, arquitecto



Paulo Gouveia morreu. Construía no arquipélago dos Açores desde o início dos anos 80, tendo sido responsável pelo Museu do Vinho e pelo Museu dos Baleeiros, ambos na ilha do Pico. Fez também um exaustivo levantamento e caracterização das principais intervenções arquitectónicas durante o século passado no núcleo central da cidade de Angra (onde nasceu), trabalho de doutoramento apresentado na Universidade de Évora em 2002, e reunido no livro Angra do Heroísmo: Arquitectura do século XX e memória colectiva.
O projecto de recuperação do Museu dos Baleeiros, no Pico, teve início em 1983 e prolongou-se até 1989. Foram reabilitadas as antigas casas de botes, integrou-se no conjunto uma tenda de ferreiro anexa e acrescentou-se um espaço novo para biblioteca e arquivo (no terreno ao lado comprado para o efeito). Dois anos depois de aberto, foi candidato ao prémio Museu Europeu do Ano e em 1993 o projecto de recuperação e reabilitação recebeu uma Menção Honrosa nos Prémios Nacionais de Arquitectura da Associação dos Arquitectos portugueses e da Secretaria de Estado da Cultura.
Já no Museu do Vinho, na mesma ilha, mas na vila da Madalena, Paulo Gouveia foi responsável pelo projecto de adaptação, restauro e reabilitação dos edifícios existentes (a casa conventual da Ordem Religiosa das Carmelitas), construção do miradouro e edifício do lagar, cuja primeira fase ficou pronta em 1999. Entre outros edifícios, o arquitecto desenhou também a nova sede da Fanfarra Operária Gago Coutinho e Sacadura Cabral, em Angra do Heroísmo, inaugurada no ano passado.

04 novembro 2009

A Madeira tem feito muito pela equididade

Alberto João Jardim é um campeão. Ganha sempre eleições. E ganha outras coisas.
A impunidade faz-se com a complacência nacional. Uma complacência colorida, pois há muito verde de fúria, de inveja, seja lá do que for, misturado aos laranjas, rosas, azuis.

03 novembro 2009

A telenovela prossegue

Mário Nogueira é um agente infiltrado. Quis, desde a primeira hora, marcar a agenda política do governo. O governo já fez saber que não cede por dá cá aquela palha. Mário Nogueira, como bom agente infiltrado, já grita Aqui d'el rei! O rei encolhe os ombros e passa adiante.
Mário Nogueira se percebeu nunca o disse: o governo está-se nas tintas para a educação. Interessa-lhe sim o que poupa em salários com a actual lei. E sabe que a propaganda não é nada barata. Precisa de dinheiro para isso. Não pode pagar salários e continuar a manter a propaganda. A vida é feita de prioridades e a educação não é uma prioridade. A prioridade é a sobrevivência do governo. Vêm aí dias difíceis. E o défice há-de voltar à ordem do dia. Para já, ainda há muito dinheiro enterrado em bancos e noutros negócios. O dinheiro não é elástico.
Mário Nogueira quer conservar o protagonismo. Quer fazer valer o seu estatuto de comuna, essa espécie maldita. O governo não gosta de comunas. O governo é socialista. E há muito se percebeu que de propaganda e marketing sabe muito. Mário Nogueira representa apenas uma parte do professorado.
O governo é que sabe. Se diz que as coisas são para continuar, é porque são. A campanha eleitoral já passou. E há muita gente insatisfeita. O governo não pode agradar a minorias tão pouco relevantes como os professores. Os empresários são mais importantes e já foram muito claros: salários, quanto mais baixos melhor. Os portugueses há muito convivem pacificamente com a miséria.

Quando a igreja é vingativa, a resposta vem da lei

Sê fiel. Cumpre os mandamentos. Se não acatares esses nobres princípios, vais para o desemprego. Ameaçar é tudo, embora às vezes os resultados estejam longe de corresponder ao que se desejava. Que o diga o Arcebispado do arquipélago das Canárias, obrigado a indemnizar com 210 mil euros uma professora que tinha sido despedida por viver com um homem com quem não estava casada.
O caso remonta a 2000, quando o responsável de ensino da diocese canária, Hipólito Cabrera, confirmou à docente que o seu contrato não seria renovado por manter uma relação afectiva com um homem que não era o seu marido, de quem se havia separado previamente.
A professora sentiu-se lesada e agiu. Dizia ela: "Parece que voltamos à época da Inquisição. Se te separas do teu marido, se bebes uns copos, se tens um filho solteira ou se te juntas a um sindicato, retiraram-te a idoneidade". E atacava: "Não sou cura, nem freira, nem fiz voto de castidade. Aos padres pedófilos, não os afastam e deixam que continuem a dar aulas de religião".
O caso arrastou-se nos tribunais e deu brado. Agora veio a sentença. Porque Espanha é um país de Direito. E a lei, ah a lei é dura mas é a lei. Mesmo para a Igreja.

Fonte: JN

02 novembro 2009

Tatankacephalus cooneyorum


Um casal de paleontólogos norte-americanos descobriu, em Montana, «a versão biológica de um tanque militar», um anquilossauro herbívoro que andou pela Terra há 112 milhões de anos, durante o Cretáceo. O animal, com 6 metros de comprimento, tinha o corpo couraçado, coberto de centares e de placas ósseas. Deram-lhe o nome de Tatankacephalus cooneyorum, que significa cabeça de bisonte.
A descoberta faz recuar a espécie em 50 milhões de anos.

Fontes: 1, 2, 3

Rui Miguel Ribeiro


A tarde

Nesta desaceleração
espero que os dias corram iguais,
uniformes e sem resistência.
Procuro de cada mistério
entender o mais simples.
Fico pelo que é mais rente,
mais sólido, com menos construção.

Já não chega ter os horários,
as entregas e as rotinas,
para aceitar o ritmo de furo lento
da vida. Mais próximo cresce o detalhe.
É mais precisa a dúvida.

Cai a tarde e a pausa continua
e com ela expira o natural desejo
de um prazer, um apetite pela
diagonal de luz que vai dividindo
o espaço, a marca invisível
que fica de mais um dia.

[in XX Dias, Averno, 2009, pág. 24]