30 setembro 2009

Números

"Houve 3 milhões 678 mil e 536 cidadãos eleitores que se alhearam desse dever cívico [votar]. Os 36,56 por cento do PS passam para 21,75 por cento, se referidos ao número total de eleitores."

Santana Castilho no Público, edição papel

José Antonio Muñoz Rojas (1909-2009)

No dia 9 de Outubro faria 100 anos. Morreu ontem. Aqui ficam alguns dos seus poemas. Podem ler mais aqui e aqui, sítios onde fomos buscar:

De puntillas ha entrado en mi alma

De puntillas ha entrado en mi alma
sin sentirlo, ni si el alma tiene puertas,
aunque he sentido pasos, y calor,
y ese silencio que sucede.
No hay silencio como el de la soledad,
que no es tan fácil como se dice
eso de estar solo (pero eso es otra cosa,
siempre todo es otra cosa). Pero vuelvo
a la soledad que tan bien se lleva,
con ese silencio que se hace
en la soledad, y desvanece las compañías
que no son soledad, y nos hace
andar por dentro, sintiendo las resonancias
del silencio en la soledad, las olas
de la soledad en el silencio.

La dicha, qué es la dicha?

La dicha, qué es la dicha? (La palabra
no me hace feliz, dicho de paso). Yo diría
que es sencillamente ir contigo de la mano,
detenerse un momento porque un olor nos llama,
una luz nos recorre, algo que nos calienta
por dentro, que nos hace pensar que no es la vida,
la que nos lleva, sino que nosotros somos
la vida, que vivir es eso, sencillamente eso.

Tu oficio, poeta...

Para que algo quede de este latir,
para que, si alguien quiere mirarse, pueda;
para calmar quizá alguna sed, y que alguien diga
«a mí me pasó algo semejante».
Los poetas estamos para eso:
para ofrecerles tránsito a los demás,
para que se encaramen sobre nuestros latidos, y que divisen
un poco más allá, en médio
de tanta oscuridad como nos circunda.
A veces nada tiene sentido, ni siquiera
que me des la mano o esse
limón redondo tan bello en la vereda.
A veces lo que tiene sentido no tiene sangre,
ese poco de sangre por la cual se muere.
Todo es ganas de morir de otra manera,
ganas de imitar a los ríos y que la tierra vea
que hay otras aguas y otras penas, y los cielos
contemplen misericordiosamente
nuestras peregrinaciones.
Tu oficio, poeta, es contemplar,
que todo se te escriba dentro; luego,
quizá leer allí mismo, quizá decir a los otros
lo que allí mismo, escrito, tú lees.

29 setembro 2009

Do lucro e dos apêndices


A lógica do lucro é poderosa. E é-o de tal maneira que são raros os que lhe escapam. No entanto, para que esse poder seja exercido com eficácia, o lucro tem um imenso guarda-fatos e usa um imenso número de máscaras. O emprego ou a criação de emprego é um desses artifícios. Não há discurso público ou privado que não se sirva do argumento da criação de emprego para melhor alcançar o objectivo fundamental: a obtenção de lucro.
Diz-se que sem trabalho não há lucro. Dizer demasiado antigo e pouco eficaz nos tempos que correm. Obtém-se mais lucro com especulação do que com trabalho. Mas nem todas as empresas estão vocacionadas para a especulação. As regras de mercado e natureza social e estatutária das empresas, além das limitações dos empresários, impedem-nas de se movimentarem no meio da especulação e constrangem-nas a outras formas de obtenção do lucro.
O princípio mais clássico é o da exploração de mão-de-obra, havendo também a calotice (não pagar a fornecedores).
Parece que os empresários portugueses são excelentes. Há anos que ouvimos falar da baixa produtividade e de outras coisas assim, deixando sempre de fora o empresário e pondo sempre a tónica no trabalhador. É um pensamento mais fácil e socialmente muito mais bem remunerado. Pois se as pessoas começassem a duvidar das qualidades empresariais dos empresários punha-se em risco toda a lógica do sistema.
Não é que de quando em quando não venham a lume notícias reveladoras da dita "qualidade" empresarial. Por exemplo, a de que são muitos os que se servem da crise para porem em prática o seu apurado sentido predador: destruindo empresas e empurrando para o desemprego os que nelas laboravam.
Este ano já foram feitas 70 participações criminais referentes a actividades irregulares de empresas, 45 das quais por encerramento ilegal no âmbito da crise. Além dos 523 autos por infracções detectadas em incumprimento de formalidades nos despedimentos colectivos ou outras situações de lay-off.
A excelência empresarial exige, para continuar no bom caminho, que o Estado regule pouco e, sobretudo, que inspeccione ainda menos. Mas, pelos vistos, o Estado tem sido chamado a inspeccionar e a agir. Algo que deve incomodar os barões dos empresários, apesar de por ora parecerem mais preocupados com o Bloco de Esquerda e com possíveis alianças entre o BE e o PS. Pois se há coisa que incomoda os barões é sentirem-se postos de lado. E para estar nas bocas do mundo e para que o mundo perceba a excelência, o mérito, a nobreza e o requinte da classe empresarial portuguesa, nada como fazer barulho fora das coutadas, de preferência em terrenos baldios. Assim, podem continuar os seus afazeres, contribuindo para a riqueza do país (as suas próprias contas bancárias).

28 setembro 2009

Bruno Balegas de Sousa


Estudou Belas Artes durante 6 anos. E já foi projeccionista de cinema, carpinteiro, jardineiro, bagageiro e empregado de bar. Agora é carteiro. E continua a pintar e a fazer ilustrações. Tem um blog com imagens do que faz (1,2,3). O i dá-lhe a palavra. E nós tomamos a liberdade de escolher uma imagem do seu trabalho de ilustração.

27 setembro 2009

Dizem que é a "asfixia democrática"

A Madeira não é bem parte do território nacional, não só pelos ares quentes que lhe chegam de África, como também pelo modo como esses ares deformam os militantes do PSD local.
E a gente começa a perceber como é que se ganham eleições: vai desde a mais pura aldrabice (uma eleitora ao apresentar-se para votar descobriu que o seu nome já tinha sido descarregado) até ao constrangimento puro e duro (pessoas ligadas ao PSD que estavam a “condicionar o direito de voto, numa atitude pouco democrática”).
Razão tinha a nossa Manuela ao falar em asfixia democrática. Por cá, acontece mais a troca de boletins de voto (por sinal numa autarquia... PSD).

Do jornalismo


Vasco Ribeiro, docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, analisou a influência das fontes no noticiário político, produzido ao longo de 15 anos, pelo "Correio da Manhã", "Diário de Notícias", "Jornal de Notícias" e "Público". E concluiu que:
"(...) o jornalismo é, nada mais nada menos, do que o espelho de toda uma estrutura económica, social e política em que nós estamos inseridos. O jornalismo não é, nem nunca foi contrapoder."

"O problema é que o jornalismo não pensa e, infelizmente, tem vindo a pensar cada vez menos."

"Devia-se aprender nas escolas que o jornalismo é um ponto de vista, é uma informação muito efémera e evasiva... Os portugueses ainda não estão habituados a olhar para a Comunicação Social como um ponto de vista, mas como algo que é realmente verdade."

Fonte: JN

O último rei, D. Manuel II

Diz Vasco Pulido Valente: "infectado por uma actriz francesa, tinha sífilis". Como se não bastasse essa doença dos devassos, "o príncipe Félix Youssoupof, o assassino de Rasputine, veladamente dissera que ele era gay e frequentava os círculos gay da aristocracia inglesa".
Haverá coisa pior? D. Manuel era o que restava de uma dinastia. Não teve filhos. Não deixou, portanto, herdeiro ao trono, mesmo que já não houvesse trono. Que sentido faz falar de monarquia em Portugal?

26 setembro 2009

José Luis Piquero

Malo

Yo soy malo. ¿Recuerdas cuando Gina
me lo llamaba -Malo-, no con esa
complicidad coqueta tras mi típica broma
cruel a costa de alguien, sino en serio
y con la gravedad de lo que es cierto
y muy triste (ya estábamos
a punto de dejarlo).

Es curioso: de niños somos ‘malos’
sin más; después ser malo
se llena de matices: eres cínico
(malo), rebelde (malo), contestón
(malo).
Llegas a adulto y las palabras
recuperan su antigua contundencia:
te miran con sorpresa y rebuscado
espanto y ¡Tú eres malo!, dice alguien
resumiéndolo todo, tus traiciones
cotidianas, tus infidelidades,
tu vicio: causar daño.
Vicios: Bichos.
Ninguna casa está libre de bichos.

En cada grieta, bajo tu colchón.
Huyen de ti, te pican, te dan miedo.
Se alimentan de ti.

[in Monstruos perfectos, Renacimiento, 1997, p.33]

Género profesor (de Teoría Literaria-Lírica)

Ser necio y tener trabajo:
eso es la felicidad.
Gottfried Benn


Nos enseñaba a odiar la poesía,
y estas fueron sus víctimas: tantísimos
tontos de facultad, muy licenciados
en cháchara semiótica.
Los logros
conseguidos (menos lectores, menos
competencia) aseguran el relevo
en la especie académica (o el pincho
de las 12 entre clase y seminario).

Suya no fue la culpa si le hicieron,
en un rapto de olvido, indispensable.

[idem, p. 20]

Oración de Caí­n

Gracias, odio; gracias, resentimiento;
gracias, envidia:
os debo cuanto soy.
Lo peor de nosotros mantiene el mundo en marcha
y la ira es un don: estamos vivos.

De quien demonios sean las sonrisas,
derrochadas igual que mercancí­a barata,
yo nunca me he ocupado.
Gracias por no dejarme ser inconstante y dulce
mientras levanta el mundo su obra minuciosa de dolor
y nos hacemos daño unos a otros
amándonos a ciegas,
con torpes manotazos.

Yo soy esa pregunta del insomnio
y su horrible respuesta.
Bésanos en la boca, muchedumbre, y esfúmate,
que estamos siempre solos y no somos felices.

Gracias, angustia; gracias, amargura,
por la memoria y la razón de ser:
no quiero que me quieran al precio de mi vida.

Gracias, señor, por mostrarme el camino.
Gracias, Padre,
por dejar a tu hijo ser Caí­n.

[in Autopsia. Poesía 1989-2004, p.186]

Mais poemas do autor aqui.

24 setembro 2009

O imenso problema do ser ou não ser poesia

Eu gosto de ler. Leio legendas de filmes, mensagens publicitárias, títulos de jornais e os rodapés que passam na TV. Passo os olhos pelo que a net me oferece. Quanto a livros, bem, tenho ser honesto e deixar vir à tona a minha educação católica: passo adiante, aborrecem-me. E não é por serem em prosa. Basta que seja livro. Os livros foram uma obrigação enquanto andei na escola. Mal saí, respirei de alívio. Libertei-me desse tormento. E não me dei mal. Evitei as questões que incomodam uma meia dúzia. Essa que de tudo gosta de fazer campo de batalha, mostrando ao mundo o que é e o que não é arte, mostrando o que é ou não é poesia. Os da prosa falam de vendas. Os da poesia falam do que é a poesia.
A poesia é um assunto nacional. Porque são milhares os que rabiscam umas coisas a que chamam poemas e porque são centenas os que juntam esses rabiscos e os publicam. De resto, os livros de poesia interessam a duzentas ou trezentas pessoas (às vezes mais, às vezes menos e nem sempre as mesmas, convém dizer). Mas que pessoas... Adoram fazer uso do indicador e, quais timoneiros da classe leitora, apontarem o caminho. Porque, quais deuses, vivem num mundo à parte, onde a VERDADE brilha com intensidade.
Eu, que não gosto de ler, mas rabisco uns versos, também sei o que é a poesia. A poesia não é. Porque a poesia é. Não é algo absoluto, embora muito ditador encapotado ache que sim. É o que cada poeta faz dela.
E o que é um poeta? Um criador. Alguém que ousa escrever contra os espartilhos de uma época, indo mais além. Pode haver quem, dado às formas, seja um esteta e procure inovar misturando as muitas formas que a poesia tem tido ao longo dos tempos. Há quem prefira entendê-la como maneira de dizer. Dizer de um modo pessoal o que é seu, mesmo que esse seu esteja altamente contaminado por tudo o que já foi dito.
O diálogo entre omelhoramigo e o rascunhonet é curioso, porque mostra duas maneiras distintas de entender a poesia. Se calhar até não tão distintas, apenas pondo em choque duas individualidades.

As escolas podem ser lugares muito perigosos


Que o digam as crianças de uma escola de Tortosendo (Covilhã). Assustadas por terem a porta da sala de aula fechada atiraram-se da janela do primeiro andar. Uma menina e um menino. Ela fracturou a bacia. Ele partiu os pulsos. Podia ser uma história de amor, mas foi apenas um momento de pânico.
O outro caso passou-se longe do nosso país, em Durban, na África do Sul. Um avião caiu no recreio da escola. O aparelho, um Jetstream 41, com 29 lugares, partiu-se em três ao tentar aterrar no recreio da escola que fica perto do aeroporto.

Fonte: JN

23 setembro 2009

José Manuel Benítez Ariza

Las amigas

Es posible que sepan demasiado
de ti, después de tantos años, cuando
vuelven a la ciudad, tienen un título
o quizá un buen empleo y te presentan

a un tipo que se esfuerza por caer bien.
Y es que de nada sirve haber cambiado,
creerte algo más listo o tener una
docena de aventuras que contar,

para contrarrestar esta penosa
sensación de que sigues siendo el mismo
muchacho al que trataban con afecto

y una cierta distancia; de que son
cada vez más hermosas las amigas
y, me temo, también inalcanzables.

[in Casa en construcción, Renacimiento, 2007, p.124]


Los amigos

Si quisiera reunirlos en una fiesta -pienso
en una despedida, por ejemplo,
antes de un largo viaje-, posiblemente apenas
hablarían entre ellos, o tendrían
muy poco que decirse; y es fácil suponer
que el espacio previsto para el baile
o la conversación acabaría
irremisiblemente separándoles,
algo decepcionados, mientras yo
insisto en presentarlos, cuento anécdotas
que no vienen al caso
y les sirvo otra copa.
Pienso en cómo
los conocí, qué parte de mi vida
les pertenece, qué saben de mí
estos buenos amigos que no tienen
casi nada en común y representan,
sin saberlo, las vidas que soñé,
las que quiero olvidar, las que esa música
de fondo que yo sólo distingo de las voces
y las risas de la celebración
convoca para mí. Cómo han cambiado.
Cómo he cambiado yo, que no sé qué decirles,
cómo pedir disculpas por haber
mezclado todas las invitaciones,
por citarlos en tiempos, en lugares distintos,
con tipos que ellos creen que soy yo.

[idem, pp.73-74]

Outros poemas do autor: aqui.

22 setembro 2009

Jordi Virallonga

He ido a por palabras al mercado

He ido a por palabras al mercado,
a que me digan: ¡hola rubio, míralo
qué guapo va! ¿has ido al peluquero?
Cuánto tiempo sin verte ¿dónde estabas?
¿y los niños? Habrán crecido mucho.
¿Y tu esposa, qué dice tu mujer,
ya te deja venir solo al mercado?
Si fuera yo no te quitaba ojo,
pero ojito lo que haces que la llamo.

Se murió, iba a decirle,
pero preferí comprarle huevos,
medio pollo y un conejo.
La vida sorprendentemente es dulce
cuando todo pasa tal si el tiempo no pasara,
como pasa en los cuentos, en la cama,
es el guiño de mis hijos al decirme que estoy feo
o en las noches que no cierran bruscamente la ventana.

[in Por vivir aquí, Bartleby, p.135]

Gratitud

Me preguntas quién soy
pero dices qué es de mí,
por qué me encuentro mal y bebo
en vez de ir al siquiatra y al gimnasio.
Sospecho que mi vida es lo que no recuerdo,
pero siento que me basta lo que he sido.

Tú me miras con piedad,
y lo agradezco.

[in Respiro]


Inocencia

No es el verdugo quien dicta ni atiende
los asuntos mundanos. Sólo hace su trabajo.
También el asesino que asesina,
la víctima que muere, los testigos
que atestiguan que sí, que no o quién sabe,
todos ellos, la gente que pasaba,
la prensa que pensaba, hacían su trabajo.

Mas no temáis. Ni ellos ni yo ni nadie
debemos responder ante la historia.
Si acaso el rey o dios, que son irresponsables,
paradigmas verbales del odio y de la gloria.

[in a media voz]

Jorge Riechman

Las buenas intenciones (7)
(fragmento)

Nunca me han dolido todos los huesos
después de arar o segar de sol a sol.
Nunca he disparado un fusil.
Nunca he violado a una mujer.
Nunca me he desriñonado en una cadena de montaje.
Nunca he navegado en un mercante.
Nunca he linchado a un policía.
Nunca he conducido un camión.
Nunca he matado una gallina.
Nunca he comido faisán.
Nunca he ocupado una fábrica.
Nunca he dirigido una orquesta.
Nunca he torturado a un ser humano.
Me faltan, en suma, tantas experiencias
constitutivas de la humanidad
en su actual constitución. Yo no me explico
cómo consigo reunir valor
para el trabajo insensato de urdir versos.

[in Feroces, DVD, 1998, p.336]

Lo que un poeta puede hacer
con las manos atadas a la espalda

Pegarle
una patada en los cojones
al enemigo de clase que lo ató

Hacerle
concienzudamente el amor
a su chica maliciosa que lo ató

[idem, p.345]

Bienvenido al club

Eres uno de los pocos que podían aspirar a esto, en realidad
te estábamos esperando sólo a ti.
Hemos sabido siempre que eras diferente,
ahora ya has llegado: relájate y disfruta.

Nota cómo te crecen los músculos viriles
y pliegues cerebrales bajo las yemas de los dedos.
Nosotros vamos a volverlos rabiosos.
Tu piel adquiere un bronceado envidiable,
se te esponja la próstata, tus esfínteres conversan en inglés.
Ahora te tensaremos hasta la excelencia.
Nota cómo te crece una memoria mejor.
Eres otro, ya no eres quien eras,
nunca fuiste quien eras
pero tenías que llegar tan alto con nosotros
para saberlo.

Ahora ya has llegado.
Te lo mereces todo y nos lo debes todo:
te lo cobraremos hasta la última gota.
Bienvenido al club.

[in a media voz]

21 setembro 2009

Conspiração à portuguesa


O nosso Cavaco Silva e comitiva presidencial andam a ver muitos filmes americanos de série B e os resultados são o que são: anedotas de Verão.

20 setembro 2009

Adjectivos


O Público traz uma lista dos epítetos com que José Sócrates foi tratado ao longo do primeiro mandato. Não sabemos onde foram recolhidos, mas estranha-se que não apreça o de mentiroso, que tão frequente foi em cartazes e na boca das manifestações contra o primeiro-ministro.
Eis a lista: "determinado, vaidoso, teimoso, frontal, dissimulado, competente, preparado, sério, tenso, cuidadoso, rude, irascível, organizado, astuto, autoritário, profissional, reformista, comunicador, exigente, disciplinado, responsável, telegénico, sintético, intransigente".

18 setembro 2009

Problemas de jardinagem



As ervas daninhas, particularmente o trevo, apropriam-se do terreno e estendem os seus tentáculos tendo ocupá-lo ao milímetro. Assim sobreviverão melhor. Assim têm o alimento todo para si.
Há quem faça política com o mesmo princípio: o de dominar. O senhor presidente da República Portuguesa, cuja eleição ficou marcada pela promessa de atenção à economia (qual espécie de messias, com os resultados que todos conhecemos), afinal não está preocupado com o país, mas com quem o anda espiar. Talvez ele tudo tenha feito para impedir a crise, mas, chatice!, os espiões estragaram tudo. Vai daí pediu (sugeriu, indiciou, fez sinal para, etc. etc.) a um assessor para tratar do assunto (claro que não pediu, o assessor é que, suicidário, avançou para a coisa sozinho) da espionagem. E o assessor não esteve com meias medidas, contactou um jornalista por telefone e encontraram-se discretamente num café (iriam ambos de fato de treino?). O dito cujo que estava de férias e é um redactor nato (até escreve "a história não vai ser fácil de fazer, mas se a conseguir-mos pode ser a bomba atómica") passou-a a um colega madeirense que trabalhou a notícia com afinco durante mais de um ano. Entretanto, o relógio continuou ao ritmo de muitas notícias até chegar o dia de Verão ideal para fazer estourar a bomba-relógio. A qual (porcaria de material made in China) não estourou, apenas fez ploff. Um ploff deixa sempre algo no ar e o ar move-se e chegou à redacção de outro jornal que resolveu pegar num email secreto e interno do jornal concorrente e preparar outra bomba-relógio. Mais uma vez ploff. Por mais que se esforcem, não saímos disto. E estamos em plena campanha, assunto tão sério e inquietante que não interessa a ninguém fora de portas. Talvez agora, com isto das escutas que afinal não são escutas, peguem no assunto e mostrem ao mundo que Portugal tem um timoneiro forte e importante: Cavaco Silva, o homem que vai salvar Portugal e, quem sabe, o globo, da crise.
Nós, meros espectadores, divertimo-nos com a coisa. Comida, viagens, figuras de fato e gravata ou até sem gravata (que a modernidade já chegou aos governantes de Portugal) e um problema institucional gravíssimo: não se passa nada. E como todos sabemos, não há como o tédio para estragar tudo.

17 setembro 2009

25 ou 30 euros

Um voto. E um emprego. E pronto, é militante. Eu sou pela verdade. E pela honestidade. Dizem. parece que sim. A verdade são eles próprios que a divulgam. O resto? Qual resto? A verdade não tem restos. Tem vãos. E caixotes do lixo. Quando os caixotes do lixo vêm a público, bem... é um cheiro. Pfff, que cheiro. Mas deixemo-nos de paleio. Agora fala uma militante:

Direita e esquerda


Podia ser alguma gracinha sobre o PSD e o PS, mas não, trata-se de outras direcções. Mais precisamente da razão por que se circula pela esquerda ou pela direita.
Tudo começou pela esquerda.
Na Idade Média, os cavaleiros circulavam pela esquerda dos caminhos porque isso lhes permitia proteger-se com o escudo (colocado no braço esquerdo) de alguma emboscada vinda dos bosques e, além disso, mantinham a mão direita solta para cumprimentar quem com eles se cruzasse na estrada (ou empunhar a espada, caso fosse necessário).
Também é mais fácil montar a cavalo a partir da esquerda do animal, usando o braço mais forte (o direito) para nos erguermos.
No Japão, os samurais davam a sua direita no caminho para que as suas espadas, penduradas à esquerda na cintura, não andassem a ensarilhar-se nas dos outros passantes.
Argumentos históricos muito semelhantes explicam o gesto de apertar a mão direita quando se cumprimenta alguém (sendo a maioria das pessoas dextra): assim se garantia que nenhum dos interlocutores podia puxar da arma.
À razão bélica, juntaram-se imperativos de economia. Em finais do século XVIII, em França e nos EUA começaram a circular grandes vagões de mercadoria puxados por várias parelhas de cavalos. Estes veículos não tinham assento para o condutor, montado no último cavalo da esquerda, o que optimizava o ângulo de utilização da mão do chicote, a direita. Dadas as dimensões dos vagões, era melhor que estes se cruzassem pelo lado esquerdo, onde o ângulo de visão dos condutores permitia evitar colisões. Nascia a circulação pela direita.
Hoje, dois terços dos países e quase três quartos da população mundial conduzem pela direita.
Em Portugal só se conduz pela direita desde 1928, ano em que foram publicados dois códigos da estrada, onde se optava pela regra francesa e americana de a circulação se fazer pela direita das vias. Foi o caminho escolhido pela generalidade das nações europeias. Alguns não há tanto tempo como isso: a Suécia só mudou em 1967, a Islândia em 1968.
Desde a década de 1970 que nenhum país alterava o sentido da sua circulação rodoviária e um dos últimos foi Timor-Leste, em 1975, onde a Indonésia, na sequência da invasão, revogou o Código da Estrada português, impondo o trânsito pela esquerda. Agora foi a vez de Samoa, nação do Pacífico, que trocou o lado direito pelo esquerdo, por imperativos económicos: os automóveis mais baratos (em segunda-mão) estão na Austrália e Nova Zelândia, membros da minoria planetária que conduz pela esquerda. E assim o Samoa mudou o código da estrada nos princípios deste mês.

Fonte: Público

16 setembro 2009

Bares e pizzas e o mais que verão a seguir

A publicidade segue caminhos ínvios e o resultado é... dar que falar e obter sequelas. Supostamente, o primeiro vídeo destina-se a promover a Dinamarca como destino turístico. Mas em vez de uma história "doce" tornou-se um escândalo local. Coisas da vida publicitária.





15 setembro 2009

Fernando Pinto do Amaral


T-Clube

Seriam oito e meia ou pouco mais
quando chegámos, prontos a assistir
ao lento fim da tarde sobre o cais
com o estuário do rio a seduzir

o ameno convívio das pessoas
cumprimentando a Ana Salazar
e comentando como estavam boas
as tapas de pâté e caviar.

Entre beijos de afecto e circunstância
ia representar o meu papel:
simpatia com um toque de distância
de modo a não parecer muito infiel

à presença dos outros seres humanos,
afinal, convidados como eu
pròs frequentes rituais mundanos
do nosso Portugal tão europeu.

(...)

O resto do poema podem lê-lo no volume Poesia Reunida 1990-2000, editado pelas Publicações Dom Quixote em 2000.

14 setembro 2009

Era uma vez... a lâmpada incandescente


Depois das experiências pioneiras de Humphry Davy, na primeira década de 1800, com um arco luminoso entre duas hastes de carbono ligadas a baterias eléctricas, veio a lâmpada incandescente. É que a lâmpada de arco voltaico era complexa e exigia potentes baterias para se manter acesa. Não se adequava à iluminação de pequenos espaços.
Daí que se tivessem investido energias na lâmpada incandescente, cuja luz emana de um filamento aquecido pela passagem da corrente eléctrica. Muitos foram os cientistas e inventores que experimentaram a lâmpada incandescente. Dentre eles destacaram-se Thomas Edison e o físico-químico inglês Joseph Swan, que chegaram, separadamente, a um modelo prático, em 1879. O principal problema era encontrar um filamento que aguentasse elevadas temperaturas por muitas horas, antes de se romper.
Edison e Swan basearam-se primeiro em fibras de carvão obtidas a partir de algodão. Funcionou, mas não era suficiente. Incansável, Edison experimentou de tudo, até fios de barba dos seus colaboradores. Encontrou por fim uma fibra de bambu com a qual criou um filamento de carbono que se aguentava por centenas de horas.
No entanto, a lâmpada por si só não bastava, era preciso também uma fonte de electricidade e uma rede de cabos para transportá-la.
Edison percebeu isso bem e construiu, em Nova Iorque, a primeira central eléctrica dos Estados Unidos. A partir de 4 de Setembro de 1882, passou a levar luz a um quarteirão do centro financeiro de Manhattan. No final do ano seguinte, o sistema já tinha 508 clientes e alimentava cerca de 13 mil lâmpadas. Era o início do sucesso ascendente de uma empresa de electricidade entretanto criada por Edison, que acabaria por se transformar na gigantescca General Electric.
Foi rápida a aceitação da lâmpada incandescente.
Em Lisboa, as lojas da Baixa já tinham luz eléctrica em 1880 - com lâmpadas incandescentes e de arco voltaico. No Teatro S. Carlos, a iluminação a gás deu lugar às novas lâmpadas em 1886.
Mais do que um luxo, a luz eléctrica mexeu com a vida quotidiana. Ao longo de 130 anos, a lâmpada em si não mudou muito, salvo alguns aperfeiçoamentos tecnológicos. O filamento de carbono foi substituído por um de tungsténio, que resiste muito mais ao calor. E, ao invés do vácuo, o interior do bolbo passou a ser preenchido com gases inertes.
O novo século ditou a morte da lâmpada incandescente. A lâmpada de Edison tornou-se persona non grata por causa das alterações climáticas. A União Europeia quer reduzir em 20 por cento, até 2020, as suas emissões de gases que aquecem o planeta. Para isto, quer conter em também 20 por cento o aumento do consumo eléctrico. De toda a energia que a lâmpada consome, apenas cinco por cento se transforma em luz. O resto perde-se sobretudo em calor.

A melhor alternativa, no momento, é a lâmpada fluorescente compacta, uma invenção também antiga, mas aperfeiçoada recentemente numa versão compacta. O seu rendimento é de 25 por cento - cinco vezes mais do que o de uma lâmpada tradicional.
Há outras soluções, como a lâmpada de hidrogénio - que não é tão económica - ou as lâmpadas de LED, que aguardam versões comerciais acessíveis. Mas, por ora, é a compacta fluorescente - as chamadas "lâmpadas económicas" ou "de baixo consumo" - que estão a conquistar o mercado.
E rapidamente. No ano passado, venderam-se 10,7 milhões de unidades em Portugal, mais 3,1 milhões do que em 2007, segundo dados da Associação Nacional para o Registo de Equipamentos Eléctricos e Electrónicos.
As incandescentes estão a seguir no sentido contrário. Desceram brutalmente desde 2007, quando as vendas atingiam 26,6 milhões de unidades. Para o ano passado, a Direcção-Geral de Energia e Geologia só possui dados para os dez meses entre Março a Dezembro, que no entanto indicam uma queda vertiginosa: 9,6 milhões de unidades.
A explicação para uma disparidade tão grande pode estar no facto de uma lâmpada fluorescente durar até 15 vezes mais do que uma incandescente. A cada substituição, são várias lâmpadas tradicionais que se deixam de comprar ao longo do ano. De resto, desde o princípio deste mês, os fabricantes já não podem pôr à venda na União Europeia as lâmpadas incandescentes mais potentes, de 100 watts (W), segundo um regulamento comunitário aprovado no ano passado. Em 2011, desaparecem das prateleiras as de 60W e no ano seguinte as de 40W e 25W.
A lâmpada económica pode vir a ajudar a poupar energia, mas criou um problema que não existia no invento de Edison. No seu interior, existe uma pequena quantidade de mercúrio e as paredes internas dos seus tubos de vidro estão cobertas com pó de fósforo. Quando já não funcionam, não devem ser deitadas no lixo normal. Têm, antes, de ser recicladas, através de um processo complexo e caro.

Fonte: Público

13 setembro 2009

Os Açores e a vida sexual e os cachalotes


[Imagem daqui]

Os cachalotes gostam do arquipélago. Todos os anos marcam encontro nas suas águas tépidas. E lá vêm eles com as histórias dos mares por onde andaram. Assim encantam as fêmeas. Assim brincam e acasalam. Não pensem que é apenas ficção. Um estudo que será publicado na próxima edição da revista científica Canadian Journal of Zoology, do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, mostra isso mesmo.
"O estudo permitiu descobrir novos aspectos da vida social dos cachalotes que visitam os Açores, uma área de acasalamento, reprodução e alimentação. Os cachalotes que frequentam o arquipélago pertencem a uma população mais vasta, do Atlântico Norte, e fazem grandes migrações. Os machos deixam de viver em grupo quando atingem a maturidade sexual e movimentam-se desde o equador até ao Norte do planeta, enquanto as fêmeas permanecem habitualmente em águas mais quentes, integrando grupos maiores, que incluem subadultos e crias.
O estudo também revelou novidades ao nível do comportamento dos machos, apontando para um abandono do grupo mais tardio do que era conhecido. "Eles deixam o grupo apenas aos 16 ou 17 anos, o que é caso único no mundo". Os dados conhecidos apontavam para um abandono do grupo familiar entre os seis e os 10 anos, altura em que passam a integrar grupos de animais solteiros até atingirem a maturidade sexual e poder lutar pelas fêmeas.
No caso dos animais que visitam os Açores, a situação é diferente, apontando para um abandono mais tardio. Uma das possíveis causas está relacionada com a influência da caça à baleia, que dizimou um grande número de machos, obrigando-os a antecipar o ciclo de vida para assegurar a reprodução. Outra hipótese é que os machos continuem a sair cedo do grupo, mas por qualquer razão ainda desconhecida, voltam a reintegrar temporariamente o grupo das fêmeas quando chegam aos Açores. As conclusões deste estudo vão obrigar a repensar melhor este aspecto da vida dos cachalotes."

Fonte: JN

Green Porno, de Isabella Rossellini

Isabella Rossellini tornou-se uma afamada artista porno. O quê? Artista porno? Isso mesmo. É a realizadora e a actriz de pequenos filmes, que mostram a vida amorosa de insectos e outros animais.
A série de curtas-metragens Green porno pode ser vista no Sundance Channel ou no Youtube. Rossellini empresta o corpo, a voz e o humor para explicar os hábitos reprodutivos dos insectos e de seres marinhos.
Vale a pena ver. Deixamos aqui três filmes. Sobre as abelhas, as minhocas e os carcóis. E aranhas.








12 setembro 2009

Da prostituição


A propósito deste post, vale a pena ver como são as prostitutas quem decide o que fazem e como fazem. E os esquemas de que necessitam para estarem colectadas e poderem ter aquilo que todos têm: acesso ao crédito bancário.
Há muito moralista (alguns soit disant de esquerda) que encara a "mais velha profissão do mundo" segundo os pontos de vista de quem, qual Pilatos, lava as mãos (a consciência) com as suas opiniões, como se assim se resolvesse alguma coisa.
Vejamos alguns excertos da reportagem do DN:
«Apesar de o mercado do sexo ser cada vez mais diverso, ainda há muitas mulheres que vendem o corpo na berma da estrada. A explicação, segundo dizem, prende-se com a segurança. Fugir de um cliente violento numa mata é mais fácil do que gritar e pedir socorro entre quatro paredes.»
Repare-se no caso de Susana, uma prostituta: «A "facilidade" com que ganhou o dinheiro abriu-lhe o caminho. Pediu "a um chulo" que a levasse para um clube em Espanha "só para experimentar" e nunca mais deixou "esta vida". "Não consigo tanto dinheiro como aqui".»
«"é difícil entrar noutro trabalho e manter a vida estabilizada que agora temos", confessa Susana.
Uma opinião partilhada pelas duas mulheres já vividas que, à terça-feira, fazem três horas perto de Alenquer, no IC2. Idalina, 54 anos, e a amiga Madalena, 65 (...)
Ao final da manhã, a mais velha teve três clientes. A mais nova, que assinala o lugar na mata onde se prostitui com uma boneca, só teve um. "Nós só fazemos sexo à antiga. Aí as novas é que põem a boca em todo o lado", atira Madalena, de poucas conversas.
"Ela é que tem sorte. Às vezes tem um cliente que a leva para um quarto e dá-lhe cem euros", diz Idalina. "Se soubesses o trabalho que me dá", responde. Longe vão os anos em que se faziam valer dos atributos do corpo para cativar clientes. Hoje vale-lhes a paciência.
"Acha que as mais novas perdem tempo com eles? Recebem o dinheiro e ao fim de dez minutos mandam-nos embora. Se soubesse as dores com que fico nos joelhos para ganhar aqueles cem euros", diz Madalena, que recusa pormenorizar as circunstâncias que a conduziram ali. Deixa escapar que toda a vida trabalhou em fábricas ou a tomar conta "dos filhos dos outros". E o dinheiro não chega.
Idalina, mais espevitada, não tem problemas em dizer que quem a pôs na estrada foi o marido com quem casou aos 20 anos. Era a única forma de lhe alimentar o vício do álcool.»
«Paula, 32 anos, prefere prostituir-se na mata. "Entre quatro paredes estamos sujeitas a tudo. Podemos gritar que ninguém se mete. Aqui corremos para a estrada e alguém nos acode", diz.
O vestido de ganga justo ao corpo descobre-lhe as pernas. Os atributos físicos de Paula permitem-lhe uma média de dez clientes por dia, "agora em tempo de crise".
Paula lembra-se perfeitamente do dia em que começou a trabalhar como prostituta, há pouco mais de três anos. Trabalhava num lar e estava de relações cortadas com o pai quando soube que ele estava doente com um cancro. "Deixei o orgulho de lado e fui para perto dele. Mas tinha de ganhar dinheiro", conta.
Admite cobrar aos clientes "o preço normal", 20 euros por sexo vaginal e anal e 15 pelo oral. Sem beijos nem carícias. Ao final dos dias mais fracos, pondera baixar o preço do oral em troca de uma boleia para casa. "Quando estou mais stressada não venho. Mas obrigo-me a fazer um dia de trabalho normal, entre as 09.00 e as 18.00", diz.
Se aparece um cliente mais bruto, ou até sujo, Paula não hesita em mostrar-se indisponível.»
Os clientes são de todas as classes sociais. "Desde o peão da obra, ao engenheiro e até jogador de futebol".

Excertos de "O regresso de Jorge de Sena"

Diz Vasco Graça Moura «Jorge de Sena como poeta é "gigantesco e torrencial". "É evidente que a percepção do país a partir quer do exílio brasileiro, quer do exílio norte-americano contribuiu para um enorme coeficiente de amargura em relação à maneira como via Portugal. Voltou cá, em 1977, para fazer o discurso da Guarda, a que chamava 'o sermão da Guarda'. Foi com certeza uma grande satisfação para ele e, para nós, uma grande lição."
Nesse discurso, no Dia de Portugal, por onde passava Camões, Sena afirmou que "os portugueses são de um individualismo mórbido e infantil de meninos que nunca se libertaram do peso da mãezinha" e que a nossa história esteve "sempre repartida entre o anseio de uma liberdade que ultrapassa os limites da liberdade possível (ou sejam as liberdades dos outros, tão respeitáveis como a de cada um) e o desejo de ter-se um pai transcendente que nos livre de tomar decisões ou de assumir responsabilidades, seja ele um homem, um partido, ou D. Sebastião".»

Jorge Fazenda Lourenço salienta a articulação entre o carácter ético da poesia e a preocupação estética, num tempo em que estas duas vertentes estavam dissociadas.

«Depois do 25 de Abril de 1974, Sena regressou à pátria já em liberdade, mas ficou apenas dois meses. "O país na verdade nunca o reconheceu. E se no tempo da ditadura podíamos achar isso natural, já não o achávamos depois do 25 de Abril. Ele gostava de ter regressado", lamenta Mécia de Sena.
Na opinião de Fazenda Lourenço, essa ideia da incompreensão existe mais do ponto de vista do cidadão, porque como poeta sempre foi reconhecido. "Embora sempre restritamente, mas isso é o que acontece com todos os escritores portugueses." O facto de Sena não ter sido muito acarinhado depois do 25 de Abril está, na sua opinião, relacionado com a sua independência política. "As pessoas nas universidades portuguesas nunca acharam muito bem que Jorge de Sena viesse. Às vezes pelas razões mais estúpidas!" Lembra que o poeta Joaquim Manuel Magalhães foi testemunha de uma assembleia na Faculdade de Letras onde chegou a argumentar-se que ele não merecia regressar porque já não era português e porque nunca tinha sido antifascista. "Ele sempre foi inconveniente numa altura em que as pessoas não reconheciam esse tipo de autonomia crítica. Era uma altura em que se pensava pôr nos lugares as pessoas que poderiam de algum modo ser fiéis partidariamente."»

Fonte: Público (artigo de Isabel Coutinho).

11 setembro 2009

Jorge de Sena


"Quem muito viu..."


Quem muito viu, sofreu, passou trabalhos,
mágoas, humilhações, tristes surpresas;
e foi traído, e foi roubado, e foi
privado em extremo da justiça justa;

e andou terras e gentes, conheceu
os mundos e submundos; e viveu
dentro de si o amor de ter criado;
quem tudo leu e amou, quem tudo foi -

não sabe nada, nem triunfar lhe cabe
em sorte como a todos os que vivem.
Apenas não viver lhe dava tudo.

Inquieto e franco, altivo e carinhoso,
será sempre sem pátria. E a própria morte,
quando o buscar, há-de encontrá-lo morto.

[in Poesia III, Ed. 70, 1989, págs. 48-9]

[Pode também ser lido na antologia de Manuel de Freitas, A Perspectiva da Morte: 20 (-2) Poetas Portugueses do Século XX, Assírio & Alvim, 2009]

Jorge de Sena


"Mécia de Sena não entende o desinteresse editorial português na publicação de inéditos do seu marido e revela que na última década pretendeu ver editados pelo menos dois volumes, que compilam escritos políticos e na imprensa, e sempre viu os responsáveis que a contactaram acabarem por desistir."
Os restos mortais de Jorge de Sena chegaram recentemente a Portugal provenientes de Santa Bárbara, na Califórnia, onde faleceu a 4 de Junho de 1978, aos 59 anos. E foram hoje trasladados para o cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
O país presta-lhe homenagem institucional, enquanto os ditos "agentes culturais" continuam indiferentes à obra do poeta e ensaísta.

Fonte: DN

10 setembro 2009

Extravagâncias vocabulares


Há quase três anos (em Novembro de 2006), Jorge Mux, professor de filosofia e de linguagem e escritor de contos de ficção no seu tempo livre, sentiu necessidade de criar palavras que definissem situações e objectos nunca antes nomeados ou até inventados (mas prováveis, defende). Assim nasceu o "Exonario", que hoje conta com 800 palavras diferentes, únicas e insólitas. O Exonario é um glossário online composto por "nomes hilariantes e definições insólitas de duvidosa justificação".
"O requisito básico é que o nome não exista em nenhum outro dicionário e que seja justificado etimologicamente, sem haver redundâncias", explica.
O próprio nome do glossário, explica ainda, é em si uma palavra que existe unicamente no seu dicionário.
Além do Exonario existe também o Sexonario.

Fonte: i

09 setembro 2009

Javier Almuzara


Ayer

A veces el olvido es impaciente
y se deja caer como la niebla,
casi de súbito,
para ocultarlo todo
a una breve distancia.

Tan sólo han transcurrido algunas horas
y ayer es ya um vacío inexplicable.

[in Por la secreta escala, 1994, p. 58]

Retiro

Seguro de su gloria
expiró sonriente al recordar
que sólo le faltaba estar ya muerto
para ser inmortal.
Se durmió en los laureles
que el tiempo sabe cómo marchitar.
Dichoso aquel que en su soberbio estado
desconociendo la posteridad
se retira del mundo sin saber
que muere para siempre de verdad.

[in Constantes vitales, 2004, p.39]

08 setembro 2009

Um novo sítio da cultura


Há um novo sítio da cultura. Nota-se logo que é institucional. Pesado, com poucas imagens e muito texto. Ou seja, pouco atractivo se pensarmos em novos públicos. A lógica do espaço, embora servida online, enferma dos vícios antigos: corpo de letra miúdo, fundos claros e letras a cinzento (!) que se lêem mal, textos maçudos e com informação que não interessa ao menino Jesus.
Pode ser que a pouco e pouco ganhe visibilidade e se agilize, correspondendo pelo menos a procuras escolares (seja qual for o nível de ensino). Para já fica o espanto: 700 mil euros com um portal que “pretende assumir-se como motor para a mudança de paradigma da divulgação cultural em Portugal”. Os discursos do poder são sempre assim, inflamados, hiperbólicos. Mas vamos esperar para ver se daqui a meio ano já tem conteúdos digitais tridimensionais gratuitos. E se o mesmos são de molde a criar públicos e a fidelizá-los.

Opiniões de um economista e político

"Os empresários têm em média a quarta classe e os trabalhadores são pessoas que foram sacrificadas toda a vida. É claro que precisamos de trabalho mais qualificado, portanto mais bem pago."

"Temos dois milhões de pobres que são idosos. O nosso problema é que existe uma geração sacrificada que está a acabar lentamente, e acabar na indignidade: os agricultores não podiam descontar no tempo do fascismo e não têm descontos formados; com as domésticas acontecia o mesmo. São 120 euros as pensões de sobrevivência e as pensões sociais. E depois, quando avançam com o Complemento Solidário para Idosos, que é uma boa medida, obrigam as pessoas a apresentar as contas dos filhos, mesmo que estes estejam emigrados e os pais não saibam onde é que eles estão. Há 200 mil pessoas que beneficiaram de uma boa medida que devia estender-se aos dois milhões de pobres, ou a uma boa parte deles que são os idosos. Esse grande esforço é despesa, mas é uma despesa transitória."

"A Galp ganhou 500 milhões de euros este ano. 100 milhões de euros foram porque manipulou os preços. Algo reconhecido, está no relatório. Chamam-lhe viscosidade dos preços. E o presidente da Autoridade da Concorrência explicou-nos, com uma candura que só lhe fica bem, que viscosidade quer dizer que quando os preços do petróleo baixam a nível internacional cá o preço baixa muito devagar; e quando os preços sobem a gasolina sobe muito depressa. Só com essa diferença de cêntimos por dia são 100 milhões de euros de lucro. As contas são estas e estamos a perder com essa opção estratégica. Uma economia mais responsável não se permite perder dessa forma."

Diz Francisco Louçã a José Manuel Fernandes e Maria José Oliveira, in Público.

07 setembro 2009

A sida é um assassino de massas




Quem, senão Adolf para mostrar às meninas e aos meninos alemães que a sida é má? E quem senão Joseph e Saddam para fazerem companhia ao assassino número 1?
A ideia foi de uma agência de publicidade chamada Das Commitee, que criou cartazes com a imagem desses monstrinhos e os dizeres: "AIDS is a mass murderer" (ver aqui).
O ar lascivo das mulheres do cartaz é que cria incomodidade? Ou será o rosto dos algozes?

05 setembro 2009

I Encontro Nacional de Dezedores de Poesia



Começou hoje na Praia da Vitória o I Encontro Nacional de Dezedores de Poesia. Uma iniciativa da Companhia Independente de Artes (CIA) com a colaboração da Câmara da Praia da Vitória.
Pelo Auditótio do Ramo Grande passarão Maria de Jesus Barroso Soares, que será homenageada, São José Lapa, Maria do Céu Guerra, Luís Lucas, José Fanha, Pedro Lamares, José Rui Martins e outros.
Amanhã haverá um recital em homenagem a Vitorino Nemésio, poeta e romancista nascido na Praia.
No auditório está patente uma exposição de homenagem a Mário Viegas.

Como matar uma pessoa em nome da lei

Primeiro acusa-se alguém de um acto que não cometeu. Embora esse alguém estivesse no tal lugar na altura dos trágicos acontecimentos.
Segundo: esse alguém é sempre membro da classe C, ou seja, não tem recursos físicos nem mentais para perceber os meandros da lei e as máscaras que esta usa.
Terceiro: há um psiquiatra que o descreve como um "sociopata muito perigoso" sem nunca o ter examinado.
Quarto: surgem testemunhas que modificam as declarações a favor da acusação.
Quinto: o advogado que defende o alguém é incompetente ou está-se nas tintas, pois aquele alguém não tem meios que contribuam para o enriquecimento do advogado, nem o caso é suficientemente mediático para trazer fama ao douto causídico.
Resultado: se o alguém é americano e vive num estado onde há pena de morte, acaba morto. Anos depois podem ver a público provas que mostrem que estava inocente, mas para o tal alguém já não há retorno.
A notícia é aterradora: "Em 1992, Todd Willingham foi condenado à morte por injecção letal. Foi acusado de fogo posto, num incêndio na casa da família, matando as suas três filhas. Tinha 23 anos e foi executado 12 anos depois.
Agora, um relatório entregue em Agosto deste ano, à Comissão de Ética do Texas, um especialista em incêndios conclui, tal como outros dois peritos o tinham feito em 2004 e 2006, que o incêndio foi acidental." (vide)