14 setembro 2009

Era uma vez... a lâmpada incandescente


Depois das experiências pioneiras de Humphry Davy, na primeira década de 1800, com um arco luminoso entre duas hastes de carbono ligadas a baterias eléctricas, veio a lâmpada incandescente. É que a lâmpada de arco voltaico era complexa e exigia potentes baterias para se manter acesa. Não se adequava à iluminação de pequenos espaços.
Daí que se tivessem investido energias na lâmpada incandescente, cuja luz emana de um filamento aquecido pela passagem da corrente eléctrica. Muitos foram os cientistas e inventores que experimentaram a lâmpada incandescente. Dentre eles destacaram-se Thomas Edison e o físico-químico inglês Joseph Swan, que chegaram, separadamente, a um modelo prático, em 1879. O principal problema era encontrar um filamento que aguentasse elevadas temperaturas por muitas horas, antes de se romper.
Edison e Swan basearam-se primeiro em fibras de carvão obtidas a partir de algodão. Funcionou, mas não era suficiente. Incansável, Edison experimentou de tudo, até fios de barba dos seus colaboradores. Encontrou por fim uma fibra de bambu com a qual criou um filamento de carbono que se aguentava por centenas de horas.
No entanto, a lâmpada por si só não bastava, era preciso também uma fonte de electricidade e uma rede de cabos para transportá-la.
Edison percebeu isso bem e construiu, em Nova Iorque, a primeira central eléctrica dos Estados Unidos. A partir de 4 de Setembro de 1882, passou a levar luz a um quarteirão do centro financeiro de Manhattan. No final do ano seguinte, o sistema já tinha 508 clientes e alimentava cerca de 13 mil lâmpadas. Era o início do sucesso ascendente de uma empresa de electricidade entretanto criada por Edison, que acabaria por se transformar na gigantescca General Electric.
Foi rápida a aceitação da lâmpada incandescente.
Em Lisboa, as lojas da Baixa já tinham luz eléctrica em 1880 - com lâmpadas incandescentes e de arco voltaico. No Teatro S. Carlos, a iluminação a gás deu lugar às novas lâmpadas em 1886.
Mais do que um luxo, a luz eléctrica mexeu com a vida quotidiana. Ao longo de 130 anos, a lâmpada em si não mudou muito, salvo alguns aperfeiçoamentos tecnológicos. O filamento de carbono foi substituído por um de tungsténio, que resiste muito mais ao calor. E, ao invés do vácuo, o interior do bolbo passou a ser preenchido com gases inertes.
O novo século ditou a morte da lâmpada incandescente. A lâmpada de Edison tornou-se persona non grata por causa das alterações climáticas. A União Europeia quer reduzir em 20 por cento, até 2020, as suas emissões de gases que aquecem o planeta. Para isto, quer conter em também 20 por cento o aumento do consumo eléctrico. De toda a energia que a lâmpada consome, apenas cinco por cento se transforma em luz. O resto perde-se sobretudo em calor.

A melhor alternativa, no momento, é a lâmpada fluorescente compacta, uma invenção também antiga, mas aperfeiçoada recentemente numa versão compacta. O seu rendimento é de 25 por cento - cinco vezes mais do que o de uma lâmpada tradicional.
Há outras soluções, como a lâmpada de hidrogénio - que não é tão económica - ou as lâmpadas de LED, que aguardam versões comerciais acessíveis. Mas, por ora, é a compacta fluorescente - as chamadas "lâmpadas económicas" ou "de baixo consumo" - que estão a conquistar o mercado.
E rapidamente. No ano passado, venderam-se 10,7 milhões de unidades em Portugal, mais 3,1 milhões do que em 2007, segundo dados da Associação Nacional para o Registo de Equipamentos Eléctricos e Electrónicos.
As incandescentes estão a seguir no sentido contrário. Desceram brutalmente desde 2007, quando as vendas atingiam 26,6 milhões de unidades. Para o ano passado, a Direcção-Geral de Energia e Geologia só possui dados para os dez meses entre Março a Dezembro, que no entanto indicam uma queda vertiginosa: 9,6 milhões de unidades.
A explicação para uma disparidade tão grande pode estar no facto de uma lâmpada fluorescente durar até 15 vezes mais do que uma incandescente. A cada substituição, são várias lâmpadas tradicionais que se deixam de comprar ao longo do ano. De resto, desde o princípio deste mês, os fabricantes já não podem pôr à venda na União Europeia as lâmpadas incandescentes mais potentes, de 100 watts (W), segundo um regulamento comunitário aprovado no ano passado. Em 2011, desaparecem das prateleiras as de 60W e no ano seguinte as de 40W e 25W.
A lâmpada económica pode vir a ajudar a poupar energia, mas criou um problema que não existia no invento de Edison. No seu interior, existe uma pequena quantidade de mercúrio e as paredes internas dos seus tubos de vidro estão cobertas com pó de fósforo. Quando já não funcionam, não devem ser deitadas no lixo normal. Têm, antes, de ser recicladas, através de um processo complexo e caro.

Fonte: Público

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