06 abril 2008

O desperdício. A mediocridade. Ou a gestão da coisa pública

«Portugal continua atrasado. Não se deve evidentemente confundir atraso com estagnação ou ausência de mudança. Não. Portugal mudou muito. Esquecemo-nos é que os outros também e, agora, mais depressa. E nem queremos saber que os outros estão a mudar melhor. Nos países de Leste, por exemplo, a educação, o património e a vida nas cidades fazem a inveja dos portugueses. Estamos seguramente menos atrasados, relativamente aos países desenvolvidos, do que há quarenta anos. Mas entrámos, desde o princípio do século, num período de atraso crescente. O progresso da civilização material, regra primeira da governação portuguesa, é feito à custa do Estado e das obras públicas.

É tudo o que parece fácil. Assina-se o cheque e pronto, já está. O construtor faz a obra, o ministro inaugura. A instrução fica para trás, a cultura também. A formação técnica e profissional é medíocre. O investimento das pequenas e médias empresas definha. O património degrada-se, as ruas das cidades igualmente. Perde-se a floresta e a água. A ciência avança ao retardador. Nas grandes metrópoles, a vida continua esquálida e desconfortável. A circulação automóvel agrava-se e o tempo perdido é cada vez maior. Mas faz-se obra. Constrói-se. É preciso dar nas vistas. Gastar o que custou a poupar. Dar emprego depressa, mesmo se mal e precariamente. Gastar o que vem da Europa. Fazer obra pesada.»

António Barreto

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