30 junho 2009

Trinta anos de Walkman


Walkman era um aparelho que lia cassetes e se podia transportar facilmente. Os leitores portáteis de cassetes existiam há anos. O Walkman teve o mérito de ser um aparelho barato, prático (para os padrões da altura) e, sobretudo, bem publicitado pela Sony. O aparelho era azul e cinzento – e substancialmente maior do que qualquer moderno leitor de áudio.
O walkman foi lançado em 1979. Anunciado a 21 de Junho, começou a ser vendido no Japão no 1º de Julho. E o sucesso foi retumbante. Marcou o mundo da música da década de 80.
Por cá, dois poetas juntaram-se numa espécie de homenagem. Falamos de Walkmen, de José Miguel Silva e Manuel de Freitas, que recorda os tempo de uma banda, os Tuxedomoon.
Aqui fica um poema de Manuel de Freitas, retirado da pág.16 desse livro, com o título Loneliness (e dedicado "à memória de Eduardo Guerra Carneiro").


Há refrões que não são fáceis de aprender:
Here comes loneliness.
Foi essa, desde o início, a nossa história.

Que passos te levam
ou não levam agora aos mesmos
bares, a portas fechadas,
àqueles de que nem pudeste despedir-te?

Procuras uma resposta,
a forca simples de um olhar.
Mas é demasiado tarde,
canções
que fingindo a vida nos sepultam.

Pina Bausch (1940-2009)


A coreógrafa alemã Pina Bausch, que fundiu o teatro, a dança moderna, a pantomima e o musical, moldando um novo estilo, morreu. Tinha 68 anos. Disse numa entrevista: "Todos os pormenores são tão importantes! Tudo é pormenor."
António Pinto Ribeiro, ensaísta e consultor da Fundação Gulbenkian, diz: “Pina Bausch deixa um reportório absolutamente invulgar e único; é uma das artistas e autoras mais criativas do século XX, cuja obra ultrapassa largamente o domínio da dança. Um dos aspectos mais notáveis é ela ter começado pela dança tradicional e, depois, ter ultrapassado todas as fronteiras, tornando-se numa das heroínas da cultura do século XX. É uma obra atravessada por um grande humanismo, no modo como retrata as contradições da natureza humana, e no olhar sábio que lança sobre o homem e sobre a mulher”.


29 junho 2009

O discurso da pobreza


Essa coisa do "pobres mas felizes" soa um pouco a "o povo é soberano", mas vai-se a ver e a soberania é apenas fachada e a felicidade é o mesmo lado da moeda. Maneira de dizer que apesar dos sofrimentos e das faltas se conserva o espírito.
Basta andar pelas ruas para ver a felicidade espelhada nos rostos. Até assusta tanta felicidade. É como perguntar a alguém que chora se está triste... quantos não dizem que não, que choram de alegria. Sim, Portugal é o país da euforia. E quiçá da esquizofrenia.
Portugal tem 1,8 milhões de pobres. Por coincidência, é esse o número de reformados existentes no país e cuja pensão média é de 385 euros.
Só em quatro concelhos, a pensão do reformado médio permite ultrapassar o limiar de pobreza (360 euros). São eles Lisboa, Setúbal, Porto e Aveiro.
Nas cidades é mais comum encontrar casos de miséria extrema e abandono, apesar do crescente número de equipamentos sociais. E também de pessoas com vergonha de pedir ajuda. Veja-se o caso de um idoso que foi encontrado morto já em decomposição, no Porto, na semana passada. Na cidade, a solidão é muito mais densa. Vale a pena ler Nos rastos da solidão, de José Machado Pais (Ambar, 2006).
Já os ricos, coitados, devem andar tristes. Ascende a mais de 24 milhões de euros (24.301.669 euros) o montante total que os cinco arguidos do caso BCP (Banco Comercial Português) - os ex-membros do Conselho de Administração (CA) Jardim Gonçalves, Filipe Pinhal, Christopher de Beck, António Rodrigues e António Castro Henriques - receberam entre 2001 e 2004, respectivamente: 9693 milhões de euros, 2913 milhões, 2684 milhões, 2661 milhões e 1505 milhões. "Montantes que os arguidos, apesar de bem saberem não lhes serem devidos, fizeram seus e permitiram que os restantes membros do CA igualmente o fizessem", sendo recebidos nos anos seguintes, tendo a última vez sido em Junho de 2007
No final do estudo "Necessidades em Portugal – Tradição e Tendências Emergentes", os investigadores viram-se perante um país socialmente muito frágil, pouco capaz de se mobilizar individual e socialmente. Mas, apesar disso, com altos níveis de satisfação e felicidade. Como é que se avaliam esses níveis? Só pelo que as pessoas dizem? A ser assim...

28 junho 2009

Juan Bonilla


Denominación de origen: extranjero

La patria es estar lejos de la patria:
una nostalgia de la infancia en noches
en que te sientes viejo, una nostalgia
que sube a tu garganta como el agrio
sabor del vino en las resacas duras.

La patria es un estado: pero de ánimo.
Un viejo invernadero de pasiones.
La patria es la familia: ese lugar
en el que dan paella los domingos.

Una patria es la lengua en la que sueñas.
Y el patio del colegio donde un día
bajo una lámina de cielo oscuro
decidiste escpar por vez primera.

Mi patria está en el cuerpo de Patricia:
mi himno es su gemido, mi bandera
su desnudez de doce de la noche
a ocho de la mañana. Tras la ducha
mi patria se va al trabajo, yo me exilio.

[in Partes de Guerra, Pre-Textos, 1994, pág. 35]


Epitafio del enamorado

Si alguien quiere escribir mi biografia
no hay nada más sencillo.
Dispone de dos fechas solamente:
la del dia en que te conocí
y la del que te fuiste.
Entre una y outra transcurrió mi vida.
Lo que ocurriera antes, lo olvide.
Lo que suceda ya, carece de importancia.

[in El Belvedere, Pre-Textos pág. 18]


Contra San Juan

Pusiste amor donde no había amor
y allí creció la flor del desengño.
Donde aguardabas oro hallaste estaño
y el entusiasmo se enquisto en sopor.

Se equivocaron De Yepes y Sor
Juana, que amor sembrado en sitio extraño
no proporciona sino antiguo daño
al que no sobrevive su esplendor.

Así que el que sembrare en un erial
su amor, no cuente com que se agigante.
Ni lo recobrará, pues, contagiado,

su corazón habrá adquirido el mal
que impide que otro amor se le trasplante.
Él mismo en un erial se ha transformado.

[in Buzón Vacío, Pre-Textos, 2006, pág. 33]

Javier Rodríguez Marcos


Autorretrato

Estoy hecho de golpes, de agujeros,
de ceniza caliente que llena mis arterias
y me pinta una estrella en el cielo de la boca.
Soy el dueño de heridas extranjeras
que sangran todavía bajo las cicatrices,
y lo terrible del dolor ajeno
es saberse la causa.
Fui la llaga, el cuchillo.
¿Por qué esta vida nuestra viene siempre
de la mano de la muerte de alguien?
(Ya sé que cada paso traiciona un pensamiento,
que la única inocencia es no pensar,
pero la vana lógica
no sirve de consuelo).
Estoy hecho de huecos, de túneles, de barro
de palabras que significan poco.
Soy la sombra de lo que pensó alguien
hace ya muchos años. No soy lo que soñaron
(el sueño de aquel sueño, un fuego que se apaga)
Soy una piel reseca y poco más,
este golpe de huesos mal sumados.
Lo demás, viento y vanidad, miseria.

[in Mientras ardem, Hiperión, 1996, págs.39-40]


Todo

La resaca de todo lo vivido
como un charco de culpa.

Por pedirle a la vida
más de lo que esta ofrece,

este dolor es todo
lo que tengo,

este dolor es todo
lo que yo puedo darte.

[in Frágil, Hiperión, 2002, pág.59]

27 junho 2009

Irene Lisboa


Escrever

Se eu pudesse havia de... de...
transformar as palavras em clava!
havia de escrever rijamente.
Cada palavra seca, irressonante!
Sem música, como um gesto,
uma pancada brusca e sóbria.
Para quê,
mas para quê todo o artifício
da composição sintáctica e métrica,
este arredondado linguístico?
Gostava de atirar palavras.
Rápidas, secas e bárbaras: pedradas!
Sentidos próprios em tudo.
Amo? Amo ou não amo!
Vejo, admiro, desejo?
Ou não... ou sim.
E, como isto, continuando...

E gostava,
para as infinitamente delicadas coisas do espírito
(quais? mas quais?)
em oposição com a braveza
do jogo da pedrada,
da pontaria às coisas certas e negadas,
gostava...
de escrever com um fio de água!
um fio que nada traçasse...
fino e sem cor... medroso...
Ó infinitamente delicadas coisas do espírito...
Amor que se não tem,
desejo dispersivo,
sofrimento indefinido,
ideia incontornada,
apreços, gostos fugitivos...
Ai, o fio da água,
o próprio fio da água poderia
sobre vós passar, transparentemente...
ou seguir-vos, humilde e tranquilo?

[Transcrição da versão incluída por Eugénio de Andrade na Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa, págs. 386-7, Campo das Letras, 2000. Há uma outra versão, que se encontra nas págs. 300-1 de Poesia - I, Presença, 1991, organizada por Paula Morão. Não conseguimos averiguar qual a fonte de que se serviu Eugénio de Andrade e não sabemos, por isso, qual das versões é mais antiga.]

26 junho 2009

R I P


Morreu, ontem. Por overdose. Coitado. Era e não era. Em quase tudo. Ganhou milhões. Perdeu milhões. Deu o seu contributo. Chamam-lhe rei. Já lhe vimos chamar nomes piores. Cada um tem os insultos que merece. Talvez quisesse (a pequena moral é sempre tão alarve e cómica) ser o que todos somos, um Zé-Ninguém. Mas era o Michael Jackson. Tinha 50 anos. Que descanse em paz.
E que os vivos apurem a gula, pois à custa do era e não era factura-se um pouco mais. E os que ainda há pouco escarneciam do pedófilo enaltecem agora o artista. Isto de ser artista é quase o mesmo que ser e não ser. Mas Shakespeare não é para aqui chamado.

25 junho 2009

Paulo da Costa Domingos

CONSTRUÇÃO CIVIL

1.
Contra o vento que sopra
corremos a desejos inconcussos
por veleidade e atrevimento
enquanto raparigas carregam
seus violoncelos às costas
e nós aqui na obra evitamos
a magueira do cimento.

Escravas, que são!, da
vibração de cordas, de
esfregar os arcos
em gemidos conclusivos.

Nós, o mais que nos ocupa
são saladas de orelha,
como bons e pacíficos católicos
domina-nos a féria.


2.
A horas certas em regulares cadências
sobem ou descem palavras nossas
leva-as o vento na grua:
cartas de amor ao sindicato,
guias para a junta médica, a bola
(fora de jogo eu vi, o penalty),
elogios à fêvera da boa fêmea...

Que a elas soa como impropério
estimulante ofensa à paridade
(fossem antes solos de violino...)
na boca de bocas inúteis.

Nós, o menos que nos preocupa
é desenterrar os botins do lodaçal,
como bons e fiáveis operários
não perder no cimento fresco o nível.

Poemas transcritos daqui.

Delírios canadianos


A retórica tem destas coisas. Quando alguém quer veicular certo ponto de vista procura exemplos que o sustente, pois desse modo o seu ponto de vista tem algo de concreto que confirma não só a sua veracidade como o seu valor.
Don Tapscott faz isso mesmo no seu post. Quem o ler com atenção verifica que ele deduz, ou seja, formula uma opinião. Não descreve um facto. A diferença está nisso. Será um especialista em tecnologia, mas é um tanto ou quanto aldrabão em assuntos pedagógicos. Pelo menos no que nos diz respeito a nós, portugueses. Desde o tipo de matéria leccionada a crianças do 1º ano (astronomia), passando pela cuidada formação de professores (terá sido um pink dream do Mr. expert?), acabando nas extrapolações o que ele faz é política e lóbi.

24 junho 2009

Os Surrealistas


O surrealismo chegou tarde. Chegou bastante depois dos manifestos de Breton e quando o Estado Novo levava já 16 anos de existência.
Os surrealistas eram: Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas, Pedro Oom, Risques Pereira, António Maria Lisboa, Mário Henrique Leiria, Fernando José Francisco, Carlos Eurico da Costa, Carlos Calvet, Fernando Alves dos Santos, António Paulo Tomas e João Artur da Silva.
Cesariny é, digamos, a abelha mestra. Da sua acção, dos seus textos, da sua persistência provém o fulgor que o surrealismo teve entre nós. Sem ele, teria sido mais uma curiosidade, espécie de flor de papel para os manuais da história de arte e da história literária.
Mário Cesariny descobriu com Alexandre O´Neill a revolução surrealista. Foi considerado suspeito de vagabundagem pela Polícia Judiciária e cultivou a homossexualidade sem medo. Viveu para a liberdade, o amor e a poesia, a bandeira dos surrealistas. E deixou obra, obra temperada pela vida, pelos combates que quis e precisou de travar.
Agora, temos as comemorações. Vão-se sucedendo. O costume.
E o surrealismo tem a particularidade de ficar bem nas notícias, espécie de picante para gente fina, mas não subnutrida, claro.

Sesta à sombra

Que procurará tão inquieta a brisa no jornal? O tempo para amanhã, naturalmente.

Os cães fazem a sesta com a seriedade de autênticos profissionais.

As moscas, andorinhas do inferno.

Há quem escreva com sangue. Eu também molho a pena nas veias. Escrevo com café, por isso mesmo, insone. (Estou a abusar ultimamente.)

Não haverá tanta literatura bucólica porque não há quem pregue olho nos campos?


Enrique García-Máiquez em Rayos y truenos

Dizer e não dizer

Agrada-me que todo o mundo saiba o que penso, mas que ninguém adivinhe o que sinto.

Preciso de pôr um pouco de ironia no que digo; sem a ironia estou despido.

Digas o que digas, no final é como se não dissesses nada.

Em silêncio sei mentir.

Quando estou absolutamente convencido do que digo, quase sempre me engano.

Nunca acredito em tudo o que acredito.

Gosto de brincar ao jogo do gato e do rato comigo mesmo.

Quando não digo nada é quando digo mais coisas.

José Luis García Martín in Café Arcadia

Memórias de um Portugal antigo.


António Fernandes de Castro era a pessoa mais idosa de Portugal. Tinha 111 anos, era boa boca, ou seja, comia de tudo e morreu ontem. Nascido a 6 de Janeiro de 1898 (século XIX), António Fernandes de Castro viveu mais de 40.800 dias, cumprindo todo o século XX e entrando pelo século XXI.
A sua vida foi repartida entre o trabalho do campo, sobretudo no "ramo" das videiras, onde se revelou um negociante exímio, e o desempenho de vários cargos públicos, tendo sido regedor durante 33 anos. Podia entrar na casa de qualquer pessoa, mas apenas antes de o sol se pôr. Podia até prender quem infringisse as regras da Nação. No entanto, como o próprio relata num livro que a Junta de Freguesia editou aquando do seu centenário, era "um regedor bom", que nunca prendeu ninguém.
Durante dois ou três anos, foi também juiz de paz, com poderes para resolver os pequenos problemas que se passavam no seu território, mas também com autoridade para fazer conciliações em partilhas.
Outro cargo que desempenhou foi o de presidente da Junta, tendo sido no seu tempo que nasceu a primeira escola em Durrães, para evitar que os meninos da freguesia tivessem que "emigrar" para outras terras para tirar a quarta classe.
Integrou a Comissão Fabriqueira de Durrães, ficando ligado ao processo de construção da nova Igreja Paroquial.
Criou 10 filhos, que lhe deram mais de duas dezenas de netos e quase trinta bisnetos, tendo ainda conhecido dois trinetos.

22 junho 2009

Berlusconi ignora a lei?


Há pessoas que, apesar de eleitas em regimes democráticos, julgam poder estar acima das leis aprovadas pelos seus próprios partidos. Fazem-no por se considerarem ricas e porque ao fazê-lo esperam obter certo tipo de benesses. Alguns até podem considerar esses actos de transgressão um investimento.
Silvio Berlusconi é uma dessas pessoas? A justiça italiana crê que sim. E investiga o que pode ser prostituição e consumo de drogas nas casas do primeiro-ministro italiano.
Sabendo-se que as opções políticas do senhor, na linha do conservadorismo populista, são castigadoras quer quanto à prostituição, quer quanto ao consumo de estupefacientes, estamos perante uma situação muito grave. E se já associávamos Itália às histéricas gritarias familiares, não tarda olharemos para o país como a nação dos prepotentes aldabrões.

21 junho 2009

Os tormentos de Tony Blair


Tony Blair pediu ao seu sucessor, Gordon Brown, que efectuasse em segredo o inquérito independente à guerra no Iraque, por temer sujeitar-se a um julgamento público se o mesmo fosse feito às claras.
Blair parece ter ficado alarmado com a perspectiva de ter de depor em público e sob juramento quanto ao recurso a dados secretos e às suas numerosas conversações com o Presidente norte-americano George Bush quanto aos planos de avançar para a guerra.
Porque será? Aznar, Blair e Bush mais Barroso. O quarteto maravilha que jurou a pés juntos que havia armas de destruição maciça, tudo em directo da BA4, Ilha Terceira, Açores.

Corrida de saltos altos


Pela primeira vez em Portugal, a prova de corrida de saltos altos (stiletto) realizou-se no passeio marítimo de Alcântara, em Lisboa. Acorreram à linha de partida cerca de 300 pares de sapatos. Depois, foi ver quem, após os 280 metros de "pista", conseguia cortar a meta em primeiro lugar. A sorte e a destreza sorriram a Maria Filipa Guedes, que ficou assim com os mil euros.
Berlim (ver filme), Sydney, Moscovo, Amsterdão, Sófia foram outras cidades onde decorreram edições anteriores. As regras são simples, ser maior de dezoito anos e levar uns sapatos de salto alto, no mínimo com sete centímetros de altura. O resto é agilidade e boa disposição.



Criar empregos


A China está preocupada com a crise, vai daí pensa recrutar milhares de pessoas para... censurar a "lascívia".
As ditaduras sempre se preocupam com o que os seus cidadãos lêem, vêem e ouvem. Gostariam, claro, que apenas lessem, vissem, ouvissem, pensassem e sentissem o que os chefes querem.
O Google é um dos visados pela comissão de censura chinesa.
Na China a lascívia está apenas ao alcance dos altos membros do Partido.
Viva o Partido! Abaixo a lascívia... para os outros.

O paraíso da internet


Uma rapariga chamada Agustina Vivero tornou-se um fenómeno internacional por ser... flogger. Não é nenhuma beldade, não joga futebol, nem possui dotes relevantes. Diz ela "Sou uma celebridade 'quenem': que nem dança, que nem canta, que nem é actriz (...). Creio que tenho popularidade graças a uma página de Internet". A página é o fotoblog Cumbio. Tem 18 anos, é argentina, lésbica, gosta de comida de plástico e é afirmativa.
O fenómeno terá começado a 30 de Dezembro de 2007, quando Agustina Vivero decidiu reunir os seus amigos virtuais e fazer una festa. O fotoblog tinha poucas visitas e ela convidou vinte e quatro para a festa, mas foram trezentos. Em Janeiro de 2008, convocou-os novamente para um encontro à porta de um centro comercial de Buenos Aires chamado Abasto. No quinto encontro eram já três mil.
Essa multidão de adolescentes que segue um líder espontâneo chamou a atenção dos adultos. A notícia saltou para os jornais diários, para as revistas e para a televisão, por onde ela se passeou, falando com naturalidade da sua vida, dos seus pais, da sua namorada. Pouco depois recebeu uma proposta da Nike para uma campanha publicitária de roupa desportiva. A seguir veio o convite para um livro que relatasse a sua vida, Yo, Cumbio (Planeta Argentina, 2008).
Actualmente, as discotecas de toda a Argentina oferecem-lhe dinheiro -500 euros por noite- a troco da sua presença. Tem uma linha de perfumes e de vernizes de unhas, prepara um programa de televisão para adolescentes produzido pela Endemol, estuda jornalismo e continua a viver na mesma modesta casa em que vivia.
O fenómeno Cumbio há muito saltou fronteiras e jornais de referência como o New York Times já lhe dedicaram páginas. O mais recente foi o El País, onde colhemos a informação.

Chapéus há muitos







A moda sempre foi um sinal de civilização. Ao mesmo tempo, sempre incomodou, por mexer com a vaidade, a inveja, o poder, o dinheiro.
Hoje, que é sábado, trazemos aqui umas imagens do Royal Ascot ou das mulheres que aproveitam para mostrar a sua criatividade e o seu gosto no dia dos chapéus.

19 junho 2009

Jean-Michel Maulpoix


Dans les rues de la ville, il y a les excréments canins.
La passante d’aujourd’hui téléphone en marchant. Elle porte sur les oreilles un walkman.
La passante de naguère est devenue touriste.
La rue appartient aux « rollerbladers » : à ceux qui circulent et qui glissent, et non à ceux qui cherche ce mystérieux quelque chose qu’on appelle « la modernité ». Ceux qui roulent sur leurs patins ou sur leur trotinette ne cherchent rien : ils jouissent d’eux-mêmes. Voici que la rue s’est changée en salle de jeux ou terrain de sport...
On pourrait continuer ainsi...
« Dans les rues de la ville » : il y a trop de lenteur et de romantisme tardif dans cette expression, trop de flânerie heureuse ou mélancolique. Trop d’état d’âme pourrait-on dire. Trop d’élégie latente. Voilà donc un motif à présent nostalgique qui ne rend compte ni de notre réalité ni de notre vitesse.

Jean-Michel Maulpoix, Dans les rues de la ville ...

Fonte: JMM

Boca do Lobo nas bocas do mundo do design





Boca do Lobo é uma empresa de design que fica situada em Rio Tinto (arredores do Porto) e que muito tem dado que falar. O culpado é Pedro Sousa, cuja ambição é trabalhar com a NASA, a Agência Espacial Americana. Porquê? "Costumo dizer que, se um dia pudéssemos trabalhar com a NASA ia ser perfeito, porque a função deles é pesquisar novos materiais. Sempre que houve saltos no design foi muito devido às evoluções tecnológicas".
A Boca do Lobo tem outros dois designers, Amândio Pereira e Ricardo Magalhães, que, com Pedro experimentam, ousam, inovam. Com eles trabalham artesãos que fazem à mão as peças por eles arquitectadas. No início, a relação com os marceneiros não era muito pacífica. Torciam o nariz aos desenhos e às teorias de geometria descritiva. A persistência e alguma teimosia do artista resolveram o problema. "Hoje são os primeiros a querer coisas novas. Vêem o seu trabalho valorizado, vêem o que aprenderam uma vida inteira a ser aproveitado".
"Temos de fazer coisas que sejam a nossa visão do design, mas que as pessoas se identifiquem com elas. Não vale a pena fazer uma peça brilhante conceptualmente que só serve para outros designers, ou para estar num museu. O interessante é encontrar uma pessoa no outro lado do mundo que compreende essas peças, gosta delas e as compra".

Fonte: JN

Os Açores e os militares americanos

Quando se fala dos treinos aéreos nos Açores, a grande questão parece ser a do dinheiro (as "contrapartidas"). De facto, como já aqui dissemos, são meia dúzia os que vivem no concelho da Praia da Vitória, percurso usado pelas aeronaves. Falamos portanto de nada. Tanto mais que grande parte das pessoas que ali vivem nada farão que contrarie os desígnios americanos, quer por uma tradição de indiferença, quer pela dependência que ainda persiste.
Aqueles que se incomodam com o ruído, com a poluição atmosférica e com possíveis danos nas habitações são uma minoria.
Espanta-nos que só os deputados do PSD tenham inquirido nesse sentido o ministro dos Negócios Estrangeiros. Porque o PS também tem deputados eleitos pela Terceira na Assembleia da República.

18 junho 2009

Jorge de Sena


A ditadura obrigou-o a sair. Foi para o Brasil. Dali para os EUA (Santa Bárbara, Califórnia), onde trabalhou e morreu (1919-1978). Mécia de Sena ficou com o encargo da obra e, ao que se sabe, descurou obra própria em nome da do marido. A ela, mais uma vez, se deve a doação de manuscritos, objectos pessoais, obras de arte e a biblioteca do autor à Biblioteca Nacional de Portugal. Falta trasladar os restos mortais do autor para o nosso país.
O espólio de Jorge de Sena manterá a sua unidade e terá uma cota própria - a JS -, pois não será integrado nas respectivas colecções existentes na BNP. Quanto à sua consulta, os manuscritos só estarão disponíveis após ter-se completado o processo de inventariação e catalogação, que ainda demorará alguns meses. É neste período que se segue que os técnicos da Biblioteca aguardam por algumas surpresas, à medida que forem trabalhando o espólio, como o de poderem encontrar documentos inesperados. Entre os documentos já inventariados destacam-se várias cartas para Eugénio de Andrade, Ruy Cinatti e Ruy Belo, as recebidas de José Régio, os manuscritos em versão dactiloscrita de Sinais de Fogo, as Líricas, várias peças de teatro e muitos cadernos de poesia, artigos publicados em jornais e muitas notas pessoais e literárias.
Para completar o espólio doado à BNP, falta ainda chegar a Lisboa um grupo de obras pertencentes à sua colecção de arte privada. Aí se incluem obras de Dominguez Alvarez, António Dacosta, Vespeira e Bartolomeu Cid dos Santos, (datadas de 1940, 1950 e 1960) e uma pintura de José Augusto França.
Tantos anos depois e após muita zanga e outros imbróglios, Sena regressa aonde sempre pertenceu: Portugal. E bem se pode dizer que só temos a ganhar com isso, pois ele foi, além de um extraordinário poeta, um crítico rigoroso, autor de várias obras de referência sobre a nossa literatura, sem deixar de ser, também, um grande divulgador da poesia de outras línguas.

Constança Capdeville

Há nomes que são conhecidos de poucos. Sempre foi assim, continua a ser assim e não há razão para pensar que no futuro seja diferente.
Constança Capdeville nasceu em Barcelona e viveu e trabalhou em Portugal, onde faleceu. Foi compositora, pianista e percussionista, "precursora da escrita de obras para teatro musical em Portugal, género a que se dedicou mais especialmente a partir da década de 1980 com o grupo ColecViva, que fundou e dirigiu. A criação de Constança espelha assim a reflexão estética sobre a indissociabilidade entre a vida e as artes, sem nunca esquecer a importância da pesquisa sonora, corporal/gestual e literária da obra. É também de realçar a utilização de elementos cénicos em algumas das suas peças de câmara e a escrita de música para cinema." Ver mais aqui. Aqui e aqui.


17 junho 2009

Trânsito



Mais de metade das estradas portuguesas não estão bem sinalizadas, diz o título da notícia. Há muito isso é do conhecimento das pessoas, havendo mesmo uma série de gente que se dedica a fotografar dislates.
O que acontece é que foram pela primeira vez sistematizados num estudo da Associação Portuguesa de Fabricantes e Empreiteiros de Sinalização (AFESP) os muitos problemas das estradas de Portugal, nomeadamente, linhas tortas, apagadas, invisíveis ou pouco claras de noite e marcas que apontam para zonas erradas ou que contrariam os sinais verticais de trânsito.
Espera-se que em breve, fruto da campanha e do prémios desapareçam os absurdos que abundam pelo território nacional.

A sagrada predação


Há por aí, por aqui e por ali uma espécie de gente que sempre se elogia a si própria, sempre diz que o que faz é óptimo, quando não outro superlativíssimo. Há gente que não se enxerga e que sempre toma os outros por parvos.
Nem sempre, no entanto, pessoas assim encontram a única reacção aceitável, o sorriso de quem compreende e perdoa (isto falando em países de matriz cristã). Há quem reaja mal e se sinta ofendido, saltando para a arena e desembainhando a espada. Outros, optam pelo silêncio, sendo este ora de indiferença, ora de ressentimento.
O que custa mais a entender é que muitas dessas pessoas com o ego inflamado obtêm boas recompensas sociais, como se os seus pares, irmanados na mesma doença, tivessem estabelecido um pacto: o da sagrada predação.

16 junho 2009

Graciela Iturbide





Graciela Iturbide é uma fotógrafa mexicana. Podem ver algumas fotos aqui ou aqui.

15 junho 2009

Cultura não dá votos


Escolas que não sejam para imbecilizar alunos não têm apoios. Projectos que visem o desenvolvimento e a formação de públicos e consequentemente o desenvolvimento do país parecem votados ao fracasso.
No país de Sócrates e quejandos, a cultura é um apêndice ou algo afim da propaganda. O resto, são cantigas... pimba.
O que está a acontecer com Belgais é desolador e mostra quanto o interior do país é pobre e quanto o país é triste. Triste porque continua a pensar que tudo se resume à casinha, ao popó e aos trapinhos.
Belgais merecia mais. E vai sendo tempo do país acordar.

Da ignorância


É boa quando é douta. E má quando é parlamentar. Assim diz o título da notícia: "Vítor Constâncio afirma que os deputados são ignorantes".

Destaca-se ainda isto: "Há momentos em que fico muito satisfeito por não ser advogado", afirmou Vítor Constâncio.

Será que os advogados são ignorantes? Meus caros, venham de lá os vossos silogismos.

Demasiado...


Em 200o fui transferido do desemprego para um salário de 500 euros mês. Fui a grande contratação do Banco XPN. Algum tempo depois a minha carreira acabou, o banco despediu-me, pois para limpar o chão e o resto tinham quem fizesse o mesmo mais barato. A despromoção custou-me algumas risadas e umas quantas rodadas. Cerveja sem álcool, claro. Sempre fui um indefectível do Figo, até lhe escrevi um poema.
Agora vejo que ele está indignado com os valores da contratação do Cristiano Ronaldo. E, mais uma vez, concordo com ele. É uma vergonha gastar tanto dinheiro com o rapaz. Com ele, Figo, gastaram um pouco menos, mas, carago, foram 61,7 milhões de euros de há 9 anos. Agora, ainda por cima com a crise, o Cristiano não deveria ter ultrapassado o Luís Figo. Prémios ou o número da camisola, ainda vá que não vá, mas em valor de mercado não. De resto, Figo é um doutor e o Cristiano ainda não passa de um menino. Mas só o tempo dirá se Cristiano cresce e Madrid não o mata. Ao Figo não matou, embora em Barcelona não tenham gostado nada da brincadeira.
O que parece estar a matá-lo é o fenómeno Cristiano. E não se percebe porquê. O percurso profissional tem pontos de contacto.

Da fama



Ser uma estrela tem os seus quês. Que o diga Paris Hilton, que voltou a provar o gosto das parangonas por ter flirtado com Cristiano Ronaldo. Não sabemos se o contrato que ele assinou com o clube espanhol inclui os flirts e se aufere mais uns quantos milhares por isso.
Já a menina Hilton precisa disso como de ar e corre a notícia de que ela terá dito a Ronaldo que, juntos, poderiam ser mais famosos do que David Beckham e Victoria Beckham.
É que o seu caso anterior fê-la perder dinheiro.
Ora, no mundo das estrelas o que importa mesmo é o nada. Quanto mais disso, melhor. E os jornais, as revistas e as televisões adoram que seja assim. Ganham todos.

13 junho 2009

O silêncio regional

O sr. secretário regional do Ambiente e do Mar, Álamo de Menezes, deve ter uma palavrinha a dizer, pois ambos serão afectados pelos treinos americanos. Mas talvez não seja de esperar grande coisa do senhor secretário, já que durante o seu magistério educativo conseguiu a proeza de acabar com a formação de professores transformando-a numa macacada que apenas serve para uns quantos brincarem às escolinhas. Se seguir o mesmo modelo no Ambiente, ainda o veremos a dizer que os aviões são um importante contributo para a ecologia açoriana.
Por ora, ainda não o ouvimos pronunciar-se sobre assunto tão delicado. Aguardamos que o faça em breve.

Açores, americanos e poluição




Não bastava terem poluído a água e deixado restos nucleares espalhados pela ilha. Agora os norte-americanos querem transformar os Açores numa escola aérea, leia-se: querem uma área de mais de 274.300 quilómetros quadrados, a norte da ilha do Corvo, como base de treino dos F-22 e, no futuro, dos F-35.
Os aviões, que atingem velocidades supersónicas e têm sistemas de armamento muito sofisticados, terão como base as Lajes. Ou seja, quem viver na Terceira vai ter de sofrer regularmente o ruído e a poluição atmosférica desses brinquedos milionários. Além, claro, dos problemas que surgirão a pouco e pouco nas habitações, fruto da forte trepidação que se faz sentir à passagem das naves.
Tudo com o OK de Lisboa, que espera contrapartidas. Estas, como é sabido, têm sido enormes. Portugal tem ganho imenso com os americanos.
De resto, para o governo de Lisboa, na ilha Terceira vive pouca gente e à volta da base menos ainda. Afectadas serão apenas umas 30 mil pessoas. Nada de significativo, portanto. Se o número de depressões aumentar, se os cancros se multiplicarem, a culpa será, como é óbvio, dos cigarros ou até, quem sabe, das touradas. Dos aviões nunca. Isso é negócio e Portugal só lucra.