Há postais de que as pessoas gostam. Há momentos que emocionam as pessoas. Há situações que comovem as pessoas.
Gostar, emocionar, comover: todo o meu ser (mais uma expressão linda linda) reage assim ao belo (lindo lindo) discurso do senhor professor Carlos Reis. Diz o sr. professor que a revalorização dos textos literários, enquanto "repositórios de uma cultura, de uma memória cultural e de um legado estético" e as alterações na linguagem introduzidas pelas tecnologias de informação e comunicação são dois aspectos tidos em conta nos novos programas.
Leitores, limpem as lágrimas. Carlos Reis é de um singeleza tão arrebatadora. Esta preocupação pelo literário e pelas novas tecnologias é absolutamente extraordinária. Quem haveria de se lembrar de algo assim tão lindo lindo salvo um génio como o sr. professor e a respectiva equipa?
Agora, para quantos deixaram de acreditar em Deus mas acreditam em Carlos Reis, o mundo da leccionação fluirá como nunca, pois as alterações metodológicas, didácticas, científicas, sociais e técnicas dos últimos anos que motivaram "reajustamentos" nos programas e, nalguns casos, "alterações substanciais" encarregar-se-ão de mostrar como a língua materna é moderna, gira, bué de fixe.
Não bastava a incapacidade cada vez maior de perceber o que se lê (logo que se saia da disparatada listagem de obras literárias do plano nacional de leitura), fruto das modernices pedagógicas ("metodológicas, didácticas, científicas, sociais e técnicas")... Não, era urgente gastar uns quantos euros com uma equipa que criou e vai distribuir os pozinhos de perlimpimpim... E assim tudo será mágico.
A maior parte dos manuais do ensino básico são elaborados por gente que gosta muito de esquemas, de imagens giríssimas, de perguntas bacocas. Ou seja, gente com a velha escola salazarista de tudo dirigir. Gente que, vê-se logo, nada lê, mas cuja preocupação é como a do senhor professor doutor Carlos Reis - serem modernos, actuais, lindos lindos.
Se julgam que fazemos bluff, folheiem esses manuais. Seja qual for a editora e a equipa redactorial e vejam se não é como dizemos.
Há uns anos houve uma editora, a Raiz, cuja percepção de manual era bem distinta da mediocridade instalada, mas não deve ter tido clientes à altura. Eu, por exemplo, sei de um senhor que é actualmente presidente de um conselho executivo e que se queixava muito da falta de perguntas.
O país, em vez de gastar os tais euros a formar professores como devia, gasta-os em show off, na certeza de que cada equipa que passa pelo Ministério da Educação pode fazer a porcaria que quiser que a culpa será sempre endossada aos que obedecem.
O novo programa é um amontoado de TLEBS que só virá complicar a vida dos alunos - porque as TLEBS enfermam do tique estruturalista que sempre se esquece que só a partir de determinadas idades os alunos são capazes de reflectir sobre a língua. Antes têm que ultrapassar os vícios apreendidos no meio onde vivem e onde se movem. Mas isso que importa, se falar de tecnologias é tão bem e tão in?
http://livrodeestilo.blogs.sapo.pt/206639.html
ResponderEliminar