02 fevereiro 2009

Canibalismo em Lisboa no ano da graça de 1755


Numa notícia com o apelativo título de O SISMO DE 1755 CONTADO PELOS OSSOS DAS VÍTIMAS, podemos ver as descobertas e/ou ilações dos investigadores. Vejamos algumas dessas histórias que podiam ter sido escritas por Lovecraft, yal como as grafou Pedro Sousa Tavares, no DN: «Durante alguns minutos de terror, o assassino golpeou-lhe repetidamente o crânio, sem a matar, para que falasse. Procurava ouro e prata, ou alimentos escondidos, igualmente valiosos nos dias de anarquia que se seguiram àquela manhã de 1 de Novembro de 1755, dia de Todos os Santos.
Talvez tenham ouvido os seus gritos, antes do golpe na fronte que lhe acabou com a vida aos trinta e poucos anos. Mas, depois do terramoto, das ondas de seis metros que varreram a zona ribeirinha, e das chamas que consumiram grande parte de Lisboa, quem não morrera ou fugira já só pensava na própria sobrevivência.
A história da sua morte violenta teria sido apagada sem rasto. Tal como a de muitos outros crânios com sinais evidentes de agressão, incluindo, num caso, uma marca de bala esférica. Ou ainda a surpreendente revelação de um fémur com cuidadosos cortes de uma grande faca, prova "irrefutável" de que a fome levou alguns ao recurso extremo do canibalismo.»
Local do crime: a Academia de Ciências. Ah, sim, agora (desde 1836) é isso, mas ao tempo era o Convento franciscano de Nossa Senhora de Jesus.
Misturados com terra e restos de animais, encontram-se ali ossos dispersos de centenas ou mesmo milhares de indivíduos. Sepultaras falantes. Diz um dos investigadores: "Sabemos que houve violência, enquanto não foi possível restaurar a ordem, com o recurso a julgamentos sumários e mais de 40 enforcamentos."
Descarnação e canibalismo, juntamente com crânios literalmente rebentados por temperaturas que terão chegado aos mil graus. E mais. Há quem veja no ossário uma janela sobre as doenças, as carências, o quotidiano de toda uma geração que viveu há 250 anos.
Objectos, como cerâmicas, restos de vestuário, amuletos, medalhas e moedas - algumas, de prata, com alterações cloretadas, sugestivas de que os corpos poderão ter estado em contacto com água salgada - têm também revelado importantes pistas sobre a sociedade da época.

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