17 novembro 2008

Aprender

Fala Ron Aharoni, professor de Matemática Pura, que dava aulas na universidade em Israel e que, há oito anos, aceitou o desafio de ensinar ao 1.º ciclo. Autor do livro Aritmética para os Pais (Gradiva), veio a Portugal participar na Conferência Internacional sobre Educação da Fundação Calouste Gulbenkian, este ano dedicada à Matemática.
«Os pais aprenderam melhor do que os filhos?
Sim, aprendemos muito melhor do que eles. Aconteceu algo na educação em todo o mundo... O maior problema é que os professores não ensinam porque lhes foi dito para não ensinarem. No ensino estão os profissionais mais fracos, os que não foram para outras áreas como as tecnologias. E isto é um problema em todo o mundo. Foram poucos os países que tiveram sabedoria para dar salários atraentes aos bons professores. Não sei como é que se resolve este problema, que é grave.
A solução passa por ensinar os professores?
O principal caminho para ensinar os professores é através dos bons manuais escolares. Os manuais que existem vão na direcção errada, porque promovem actividades divertidas e a aprendizagem fica perdida. O problema é que os livros saltam etapas ou seguem teorias modernas.
(...) A verdade é que todos ensinam o que sabem e não o que os outros precisam de saber. Por isso, os académicos ensinaram teorias ou estatística. Também ensinaram actividades divertidas e isso é horrível, porque as crianças não precisam de estar divertidas, elas precisam de compreender e só se o fizerem é que aprendem a gostar. A Matemática não tem que ser divertida, mas compreendida.
(...)
É importante saber a tabuada?
Se cada vez que queremos escrever uma carta tivermos que pensar como é que se juntam as letras... Para a Matemática o raciocínio é o mesmo: é preciso ter automatismos e a tabuada é essencial. Os pais podem ajudar os filhos a aprender, por exemplo, a dizê-la de trás para a frente.
(...) Qualquer actividade em que a criança tenha de se concentrar é boa para desenvolver a capacidade de trabalho que a Matemática exige. Outra coisa muito importante e que sempre ensinei aos meus três filhos é: ser preciso nas formulações, dizer correcta e claramente o que se quer dizer, nunca deixar os outros adivinharem o que se quer dizer, mas usar as palavras certas.
(...)
O Governo português iniciou este ano a distribuição de computadores portáteis às crianças do 1.º ciclo. Concorda?
Não conheço o projecto. Sabemos que o cérebro das crianças é completamente diferente e que trabalha muito rapidamente. Se elas podem aprender com o computador? Todas as tentativas feitas até hoje nesse sentido falharam. Não sei se porque as crianças preferem brincar no computador do que trabalhar... Penso que no 1.º ciclo o contacto com o professor é o mais importante. Muitos pais podem apoiar os filhos nos primeiros anos, mas há-de chegar uma altura em que deixam de conseguir fazê-lo.
E depois, o que é que podem fazer?
Quando eles sabem mais do que nós é bom, faz parte da vida, é sinal de que estão a crescer! Mas os pais também podem investir na sua aprendizagem, como ler um livro ou estudar. Não é difícil!»
Fonte: Público

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