25 maio 2008

Jorge Gomes Miranda


PREPARATÓRIA



Nessa manhã tocara-me a mim

ir ao quadro. A mim,

que ainda não tinha morfado

quase nada.

Quando ouvi o professor dizer o meu nome,

apeteceu-me replicar: “vai mas é apanhar no…”

Em vez disso levantei-me e rapidamente

resolvi a equação.

Mais tarde, na aula de português,

em resposta a uma pergunta acerca do amor

e da esperança (era a véspera do dia da pátria),

sopesei as vírgulas, as palavras,

e num estilo sem faísca, serviçal

escrevi algo que sabia obter aprovação.

Lembrei-me a tempo de um ditado do avô:

a vida pune sempre os que mijam fora do

lamaçal.


(Velhos, Teatro de Vila Real, 2008)

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