23 novembro 2011

Da ignomínia

Quando há milhares de portugueses que não têm emprego nem recebem subsídio, com casas para pagar e filhos para sustentar, a quem se diz "Aguenta, não deixes de acreditar", sem que se lhes dê nada mais do que a oportunidade de enfileirar o grupo dos pedintes, que vão mendigar sopa à assistência social, pagam-se rendas altíssimas a senhores cuja situação económica é mais do que suficiente para pagarem o alojamento.
A situação é, no mínimo, indigna. Mas releva de uma mentalidade que está na origem dos problemas económicos do país: viver acima das suas possibilidades.
Um ministro não precisa de receber do erário público subsídio de alojamento. Mas um desempregado precisa de receber subsídio de desemprego.
Um governo que brinca com as palavras como se elas fossem vazias é um mau governo. Um primeiro-ministro que deixa mensagens no facebook a pedir crença é o mesmo primeiro-ministro que atribui subsídios de alto valor a colegas de governo (num sinal claro de favorecimento pessoal). Recorde-se que o subsídio de alojamento corresponde a 75% do valor das ajudas de custo, calculadas em função da remuneração que os governantes auferem.
Chamam-lhe justiça. Dignidade. E outras coisas. Mas o nome concreto disso é ignomínia. Pois deixa-se que pessoas passem fome e sofram humilhações indignas para se conservarem mordomias.
Em tempos de crise não há direito a mordomias pagas pelo erário público.
Portugal sempre foi assim. Na monarquia. No tempo da ditadura. Depois do 25 de abril.

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