16 outubro 2011

Governar no medo é um modo de afundar mais um país

Portugal viveu durante séculos sob o jugo da inquisição. À inquisição aliava-se a ignorância, a crendice, o medo. Depois da inquisição os ares pareciam apontar noutra direcção, mas rapidamente se percebeu que o analfabetismo, aliado à subserviência, apenas sustentava a menoridade de uma população que vivia mal. Mesmo assim, deram-se passos importantes para mudar o ritmo de vida de alguns. O número de alfabetizados aumentou. O país de algum modo modernizou-se e essas alterações permitiram a chegada da república. Que rapidamente se defrontou com a dura realidade: à bancarrota juntava-se a guerra. A guerra pôs fim ao sonho de liberdade. Seguiram-se muitos anos de ditadura que, uma vez mais, nos afastaram do desenvolvimento da Europa. No entanto, o país conseguiu, em poucas décadas, ganhar balanço e desenvolver-se. Embora com o velho problema de sempre: uma classe dirigente mentalmente débil e uma população maioritariamente resignada e mal formada.


Portugal é um pequeno país. Com um tecido empresarial pequeno, cheio de chico-espertos que exploram quem trabalha e que pouco investem. A produtividade é, por isso, baixa. Embora os horários de trabalho sejam pesados.
Mas em Portugal há muito dinheiro a circular. E há quem saiba como o canalizar em seu proveito.
Infelizmente, a maior parte da população, por preguiça, desinteresse e má formação, é facilmente manipulável e tende a acreditar que não há solução. Quem pode, foge aos impostos. Quem pode, aldraba os outros. Quem pode, faz pela vida. Ora num cenário assim é fácil aterrorizar as pessoas. É fácil convencê-las de que as decisões políticas do momento são inevitáveis. Que se não for assim, se corre o risco da falência completa.
A crendice continua a dominar o país. Mesmo que muitos saibam das fortunas que fulano e beltrano conseguem à mesa do erário público. Mesmo que os membros do governo e das autarquias continuem a beneficiar de mordomias de ricos (motoristas, classes executivas, subsídios para isto e para aquilo, cartões de crédito, uma leque de secretárias, assessores e outros criados para todo o serviço), os portugueses aceitam, resignados, que lhes metam a mão no bolso e lhes tirem o pouco que ganham... por trabalharem.
Os portugueses acham natural que Passos Coelho tenha mudado de retórica tão rapidamente. Porque o bode expiatório José Sócrates ainda está muito fresco. Ainda serve e é eficaz. Mas assim que acabar esse bode expiatório, como é que os portugueses vão ficar ao perceberem que a sua resignação e que o seu silêncio foram cúmplices de uma política que ajudou a crise a crescer e que contribuiu inexoravelmente para nos afundar muito mais?


Já repararam que deste governo ainda não saiu uma medida que potencie o crescimento económico?
Já repararam que a equidade é uma miragem?
Já se aperceberam de que ainda não houve sinal de que o Ministério da Justiça tenha encontrado solução para os processos económicos que impedem o Estado de arrecadar milhares de milhões de euros em impostos?
Já deram conta de que nem nas pescas nem na agricultura nem na indústria apareceu uma medida que contribua para o desenvolvimento desses sectores?


A resignação e o medo que nos acompanham há tantos séculos têm impedido o país de crescer e continuam a afastar-nos de um nível de vida europeu. Em Portugal o custo de vida é maior do que na Alemanha ou do que em França, mas os salários do comum dos cidadãos é manifestamente inferior. Já os salários dos nossos gestores é em muitos casos superior. Algo que costuma ser próprio de ditaduras.

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