O jornalismo em Portugal

Uma coisas é vê-los recostados a arrotar bitaites nas colunas semanais. Outra, bem distinta, é vê-los sem make-up. A realidade é suja:

«O director do jornal Sol, José António Saraiva, "lavou as mãos" das notícias sobre o processo "Face Oculta" publicadas por aquele semanário, colocando, na prática, toda a responsabilidade nas jornalistas Ana Paula Azevedo e Felícia Cabrita. A posição do director do Sol foi assumida no processo movido por Rui Pedro Soares, ex-administrador da PT, contra o jornal, os jornalistas e os responsáveis editoriais.» [Fonte: DN]

20 outubro 2010

Há ladrões... e ricos

Quem compra medicamentos? Toda a gente.
Quem paga impostos? Toda a gente? Sim, mas uns pagam, outros fazem de conta. Veja-se quanto paga a indústria farmacêutica em Portugal: 0,16 %. Sim, 0,16 %. Ou seja, quem mais ganha menos paga. Abençoado governo que estimula a indústria. E como essa indústria contribui para a riqueza do país: pagando 0,16% dos seus lucros.
No geral, os 195 laboratórios farmacêuticos tiveram um volume de negócios que ultrapassou os 5 300 000 000 de euros entre 2005 e 2007. Mas pagaram de IRC menos de 9 milhões de euros.
Isto é que é a maneira de fazer negócios à portuguesa. Ganhar muito e depressa.
Que faz o governo? Titubeia, assobia para o lado, teme.

Fonte: 1

19 outubro 2010

Prioridades

Os salários são desnecessários, logo: cortam-se.
As pensões desnecessárias são, por isso: reduzem-se.
Os apoios são excrescências, pelo que vão à vida.
Mas pareceres, estudos e consultadoria são despesas absolutamente essenciais, por isso mantêm-se.
Seminários, publicidade e exposições são absolutamente imprescindíveis. E aumentam-se os gastos com esses itens.
Este Estado é abençoado. Abençoado pela incúria, distracção e ignorância de uma população que nem sequer sabe quanto trabalha para os bancos.
Governar assim é fácil, pois é.
De resto, em tempos de crise as medalhas são o sal da vida, por isso, o governo achou por bem aumentar a verba destinada a artigos honoríficos e de decoração.
Eu adoro este país. É o país onde o humor sempre faz parte da governação e da economia.

Fontes: a), b), c), d)

16 outubro 2010

Os exemplos vêm sempre de cima

Este governo é particularmente irritante pelos contínuos tiques de autoritarismo de que dá mostras. Sócrates, com maioria absoluta, revelou-se medíocre e, como qualquer medíocre, mostrou os dentes e deu um show de ditadurazinha à maneira salazarista. Com maioria relativa tentou fazer passar a mensagem de que estava tudo bem. Na hora da verdade, o seu ministro principal, chegou tarde e sem trazer tudo o que a lei o obrigava. MAIS EXEMPLOS PARA QUÊ?
Este governo é incompetente para resolver os problemas do país. Sócrates é um péssimo primeiro-ministro. De resto, o Orçamento do Estado "mais difícil" e "importante dos últimos 25 anos" - segundo palavras do tal ministro que se atrasa e não cumpre a lei, de seu nome Teixeira dos Santos - vai entrar sobretudo nos bolsos dos funcionários públicos e da classe média. Mais IRS e IVA, salários mais magros, pensões sem aumento e menos apoios sociais. O resto, é residual. Porque os cortes nas restantes despesas são pouco significativos. Mas, segundo essa sumidade que é TS, "O país precisa de um orçamento e este é o OE que o país precisa".
Que pensa o povo disso? Este povo que continua semi-analfabeto e que ainda não se habituou a viver em democracia? Uma parte significativa diz ámen a tudo. Segundo uma sondagem do Expresso, «a poupança é, para a maioria dos portugueses ouvidos no Barómetro do mês de Agosto, a melhor resposta à crise. 75,3% dos inquiridos vão procurar poupar mais e apenas 6,1% ponderam emigrar.
Apesar da crise e do pacote de medidas anunciado os inquiridos dividem-se quanto à greve geral. Questionados sobre se concordam com a convocação da greve a maioria 47% responde afirmativamente, mas 46,2% dizem que não. Semelhante divisão ocorre quando questionados sobre as alternativas do governo face à eventual reprovação do OE.»
Como por aí se diz, pelo quarto ano consecutivo, assistiu-se a uma rábula na entrega de um documento fundamental: depois do défice errado, da pen drive vazia, da conferência de imprensa a cinco minutos da meia-noite, a sucessão de atrasos que culminou com a falha deste ano o Governo mostra-nos que não trabalhou com tempo os números determinantes e decisivos, voltou a deixar para o fim questões que quer que todos considerem essenciais, e não soube, ou não estava preparado, para as dificuldades que todos anteviam.
O que se continua a dizer através dos actos aos portugueses é tão simples como isto: quem pode abusa, o resto é fazer de conta que se muda para tudo continuar na mesma.

14 outubro 2010

Números, tantos números

A CP teve, em 2009, prejuízos 231 milhões de euros (CP e CP Carga). A 12 de Junho do ano passado, por decreto-lei governamental, passou de Empresa Pública (EP) para Entidade Pública Empresarial (EPE). Um mês depois (13 de Julho), por despacho dos secretários de Estado do Tesouro e Finanças e dos Transportes, foram alterados os vencimentos dos seus gestores. O presidente que ganhava 4.725 euros passou a ganhar 7.225 euros (mais 52 por cento) e os vogais passaram de 4.204,18 euros para 6.791 euros (quase 60 por cento).
A CARRIS que em 2009 teve cerca de 41 milhões de euros de prejuízo, viu, por decisão governamental, os ordenados dos seus gestores igualmente aumentados de forma significativa em Março de 2009. O presidente ganhava 4.204 euros e passou a auferir de um ordenado mensal 6.923 euros (mais 65 por cento). Já os vogais passaram de 3.656 para 6.028 (mais 65 por cento).
Ou seja: o pagode aperta o cinto. O Estado esbanja com uma meia dúzia. Sempre com o aval do ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, o tal que dorme mal por causa das medidas que tem de tomar. Ele há cada uma... só mesmo num país dado à crendice!

Contra a obesidade estatal

O Estado existe para servir a população ou para garantir jobs for boys?
Quantos custam os boys ao erário público? Há dinheiro para lhes pagar, quando o número de pobres é já um quarto da população do país?
Diz quem sabe que se cortarmos em 10% a despesa dalguns institutos públicos, seria possível obter poupanças na ordem dos 500 milhões de euros. E se, tal como foi feito recentemente em Espanha, realizássemos fusões, extinções ou reduções mais drásticas nalguns destes institutos, não seria difícil obter economias acima dos 1000 milhões de euros.
Porque não se faz isso? Há dinheiro para esbanjar? Há prazer em ver crescer a pobreza?

13 outubro 2010

A produtividade dos nobres empresários tugas

As diferenças:

Em 1994, só um terço das 200 mil sociedades pagava IRC.
Em 2007, apenas 36 por cento das 379 mil empresas declararam actividade para pagar IRC.

Entre 1989 e 1996, foram 35 mil milhões de euros de prejuízos fiscais (78 por cento do lucro tributável).
De 1997 a 2002, mais 52,9 mil milhões (56 por cento do lucro tributável).
De 2003 a 2007 foram 44 mil milhões (37 por cento do lucro tributável).

E QUEM PAGA SEMPRE TUDO:

Em 1996, os rendimentos dos assalariados e pensionistas pagavam 86 por cento da receita do IRS.
Os independentes, os agrícolas, industriais, comerciantes, donos de prédios, de capitais e mais-valias pagavam os restantes 14 por cento.
Em 2008, a concentração agravou-se: os assalariados e pensionistas já pagam 92 por cento de todo o IRS.

Em resumo, como diz o título da notícia: «Quinze anos de combate a sério à evasão fiscal tornariam PEC "evitável"»

01 outubro 2010

Números são números

Diz António Vilarigues no Público de hoje:

"(...) os que defendem os cortes salariais, todos sem excepção, recebem mensalmente vencimentos equivalentes a 20, 30, 40, 50, 100 e mesmo mais salários mínimos nacionais. Na sua maioria, estão no patamar dos que ganham, em média, mais de 1666 euros por dia. Ou que nas conferências onde debitam as suas "soluções milagrosas" auferem, numa única HORA, o que um trabalhador com o salário mínimo nacional não obtém ao longo de 1 ANO!!! Curiosamente também, quase todos eles assumem (ou assumiram) responsabilidades governativas ou de direcção do "sistema". O que não os impede de se comportarem como virgens vestais."

(...) por que não se tributam a banca e os grandes grupos económicos com a taxa efectiva de IRC de 25% (o que renderia 500 milhões de euros, mínimo)? Ou as transacções em Bolsa (mínimo de 135 milhões de euros)? Ou as transferências financeiras para os offshores (cerca de 2200 milhões de euros, base 2009)? E por que não se tributam os que apostam na economia paralela e clandestina, que significará hoje cerca de 20% a 25% do PIB real? O que se traduziria na recolha, em impostos, de valores da ordem dos 16 mil milhões de euros/ano. Valor que, sublinhe-se, é várias vezes superior aos fundos comunitários."

"Reduzir os salários e as pensões é a solução, proclamam. Mas foram os salários e as pensões que provocaram a crise? Em 1975, a parte que as remunerações, sem incluir as contribuições sociais, representavam do PIB era de 59%. Em 2009, de menos de 34% do PIB!"