19 julho 2010

Arquitectura e BD: um diálogo em Paris

Sendo a BD por definição uma manifestação artística urbana, a cidade é o território natural dos criadores. Umas vezes com características futuristas, noutras mais virados para o retro, a BD proporciona uma viagem fascinante pelas possibilidades da arquitectura.
Isso mesmo se pode ver em Paris na exposição Archi & BD: La Ville Déssinée: 150 autores, mais de 300 obras que vão de 1900 até aos dias de hoje.
Há exemplos para todos os gostos: a cidade reinventada, de António Jorge Gonçalves; divisões e cortes, de Bertall; estruturas e construção, de Chris Ware; interior versus exterior, de Joost Swarte; personagem viva, de Winsor McCay; locais e ruas, de Daniel Clowes; épocas, de Eddie Campbell.
As cidades imaginárias, fantásticas ou artificias, todas elas mais símbolo do que cenário: Neo Tóquio, Gotham, Radiant City, Urbicand, Mega City One, etc.
Além da presença da BD na obra de arquitectos como Sant’Elia, Jean Balladur e gabinetes, BIG, Coop Himmelblau e Herzog & De Meuron.



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Fonte: El País

13 julho 2010

Harvey Pekar (1939-2010)



Filho de imigrantes polacos, nasceu a dia 8 de Outubro de 1939 e morreu ontem, em Cleveland, Ohio. Pekar tornou-se bastante popular quando a sua série de BD, publicada inicialmente em 1976, foi adaptada para o cinema em 2003, com Paul Giamatti no papel do autor. Filme que conquistou o Grande Prémio do Júri de drama no Festival de Sundance.
"American Splendor" é um retrato de Harvey Pekar, que revela o seu pessimismo crónico e cómico, a relação que tinha com os amigos, com a mulher e a sua rotina como arquivista de hospital e coleccionador de discos de vinil.
Pekar era o argumentista. Os desenhos corriam pelas mãos de amigos, como Robert Crumb.
O artista tinha, além de problemas de cancro da próstata e hipertensão, graves crises de depressão. Foi encontrado morto pela mulher.

Tavík František Šimon (1877-1942)









Pintor checo que se dedicou à pintura, ao desenho e à gravura.
Viveu e trabalhou em Paris antes da I Grande Guerra (entre 1904 e 1914), onde foi muito apreciado. Regressou depois à sua Boémia natal e aí viveu durante a Guerra, tendo depois ido para Praga, onde morreu, em 1942. Durante o regime comunista, a sua obra foi esquecida e denegrida. A pouco e pouco tem sido recuperado, contando com muitos admiradores em diversas partes do mundo.
Há um sítio que lhe é inteiramente dedicado e que pode ser visto aqui.

08 julho 2010

Plano Nacional de Leitura: à atenção do


As crianças têm uma imaginação activa, uma inteligência activa. Querem aprender a pensar. Na Idade Média, amarrava-se as crianças ao berço para as imobilizar. Hoje, amarramos a mente das crianças exactamente da mesma forma.
Se me confiarem uma turma de crianças, comprometo-me a fazer com que elas leiam Camões com muitíssimo entusiasmo. É preciso dizer-lhes que são inteligentes e que vão conseguir ler essa obra. As crianças adoram palavras complicadas, termos difíceis, histórias onde não se percebe tudo. Mas a indústria não quer isso, quer tornar as coisas mais simples – e então fazem resumos, simplificam, publicam coisas idiotas para crianças [...]

O facto de nascer num sítio é um puro acaso, não define nada.

Alberto Manguel

Alberto Manguel

Nem toda a gente é leitora, mas acho que, no fundo, é porque as circunstâncias fazem que não sejamos todos leitores. A possibilidade está em todos nós. O que quero dizer é que suponho que há pessoas que nunca se apaixonam, suponho que há pessoas que nunca viajam, suponho que há pessoas que não têm uma certa experiência do mundo. E da mesma maneira, existem muitas pessoas que não são leitoras. Mas a possibilidade está dentro de nós.

Estamos a transformar-nos cada vez mais em meros consumidores. É essencial reflectirmos sobre isso, porque estamos a perder uma liberdade que define a nossa condição humana.

[...] um dos grandes problemas actuais dos bibliotecários é que os jovens que chegam às bibliotecas, e que estão habituados a utilizar a Internet para fazer uma espécie de colagem de informação, não sabem ler. Não sabem percorrer um texto para extrair aquilo que precisam, repensá-lo, dizê-lo com as suas próprias palavras, comentá-lo, associá-lo ou resumi-lo – e sobretudo, memorizá-lo –, actividades que fazem parte da leitura enquanto acto criativo. Estão habituados à ideia de que, como isso está lá e está acessível, já é deles. Não é assim.

A escola, a universidade, deveriam ser o lugar onde a imaginação tem campo livre, onde se aprende a pensar, a reflectir, sem qualquer meta. Mas isso é algo que estamos a eliminar em todo o mundo. Estamos a transformar os centros de ensino em centros de treino. Estamos a criar escravos. Somos a primeira sociedade que entrega os seus filhos à escravidão, sem qualquer sentimento de culpa.
Nesses centros de aprendizagem, estamos a criar seres humanos que não confiam nas suas próprias capacidades e que começam a acreditar que o seu único objectivo na vida é arranjar trabalho para conseguir sobreviver até chegar à reforma – que também já lhes estão a tirar.

Como já disse, há uma perda de prestígio do acto intelectual. Hoje, uma pessoa pode perfeitamente admitir que é estúpida, que passa o seu tempo a jogar jogos de vídeo ou que só se interessa pela moda. Não vai chocar ninguém. Antes, tínhamos vergonha de dizer coisas dessas, mas hoje é realmente espantoso ver o número de pessoas adultas que jogam jogos totalmente imbecis.

Fonte: Público

Abençoada nação

O governo de Portugal é privilegiado em vários domínios, desde logo tem uma imensa massa amorfa de cidadãos que tudo aceitam pacificamente. Segundo o Eurostat, há em Portugal cerca de 2,5 milhões de pobres, dos quais mais de 200 mil em situação de miséria extrema. O número de milionários cresceu 5,5%, de 10400 para 11 mil.
O desemprego aumenta, a população inactiva cresce, o garrote cai sobre os assalariados que pouco ganham. Mas ministros, deputados, directores gerais e muita outra gente continua a banquetear-se à mesa do orçamento. Dizem que é "justiça social".

Portugal e uma certa cultura


A crise tem mexido e inquietado quem em Portugal se dedica aos negócios da cultura e está dependente do Estado ou dos dinheiros públicos para realizar as suas actividades, muitas vezes por questões que têm a ver com a forma da lei.
Realizadores e produtores de filmes, museus e outros manifestam-se publicamente contra a política do governo de há tempos a esta parte.
A cultura de que falamos dá poucos votos. Não é popular, no sentido em que o analfabetismo da população passa ao lado de quase tudo. E embarra numa classe dirigente também ela grosso modo semi-analfabeta e muito preocupada com a sobrevivência política.
Portugal é um país europeu que sofre ainda consequências de políticas que fecharam o território nacional e os seus habitantes ao mundo. Mas que sempre alimentou uma classe empresarial pouco criativa e muito dada a fazer depressa grandes fortunas. Só nas duas últimas décadas se notou uma certa aposta no binómio I&D, investigação e design. E os resultados dessa aposta parecem ganhos para alguns. Mas ainda se continua a laborar muito na base da mão de obra barata, em salários miseráveis e num tipo de estratégia empresarial quase obsoleta. Em Portugal os empresários ganham para "investir" em automóveis, vivendas e outros luxos afins, num sinal claro de miséria mental.
Que os governantes olhem sistematicamente para a cultura como um prolongamento da propaganda ou como um desperdício evidencia a ignorância que os norteia. A cultura está intimamente ligada à vida dos nossos dias. Basta olhar para aquilo que as pessoas têm por bom e que desejam, falemos de bens de primeira necessidade ou de outro tipo de bens.
Apesar de dar emprego a muita gente, o Estado continua a ter uma dinâmica pesada, mais preocupada com o custo do que em perceber como é em cultura que se deve falar de investimento, criação e potenciação de energia vital.
É fácil confundir marketing e propaganda com actividade cultural porque ambos trabalham ao nível da percepção e da criação de discursos que são assimilados pelas pessoas e as podem inspirar a ser melhores profissionais, melhores cidadãos, melhores pessoas. (Quando nos ficamos pelo marketing, a preocupação é quase só financeira, tendo em vista o lucro de alguns).
Por isso é doloroso ver que os agentes culturais têm de vir para as páginas dos jornais (1, 2, 3)reclamar pelo que deveria ser o cumprimento de um imperativo nacional. E mais doloroso é quando se vê como os supostos representantes do povo, por ele eleitos se incomodam tanto em viajar em económica ou em executiva (em tempos de crise e de contenção) mas não se preocupam com a sobrevivência nacional. Fazem-nos, é certo, dentro da velha tradição lusa de olharem para os umbigos e para as suas carteiras e benesses. Fazem-no demonstrando uma vez mais que o país é miserável não pela falta de produtividade das pessoas em geral, mas pela falta de produtividade deste tipo de gestores/legisladores.

01 julho 2010

Daqui a um ano temos a casa de Manuel de Arriaga


O Solar dos Arriagas, cuja edificação teve lugar durante a primeira metade do século XIX, é actualmente designado como Casa Manuel de Arriaga, por aí ter nascido (a 8 de Julho de 1840) e vivido até aos 18 anos Manuel José de Arriaga Brum da Silveira, que se tornaria, em 1911, o primeiro Presidente da República Portuguesa.
A reabilitação do edifício custará aos cofres da Região Autónoma dos Açores um milhão de euros. O projecto de arquitectura e especialidades é da responsabilidade do ateliê dos arquitectos Rui Pinto e Ana Robalo. Na casa haverá um espaço em que se evoca a personalidade mas também ideais e valores da República. A inauguração está prevista para o segundo semestre de 2011.

Vida no planeta Terra




A vida pluricelular terá surgido no planeta há 2,1 mil milhões de anos e não há 600 milhões, como se pensava até hoje. O recuo temporal deve-se à descoberta, em África, de uma série de fósseis complexos com 2,1 mil milhões de anos, por um grupo internacional de cientistas, liderado por Abderrazak El Albani, da Universidade de Poitiers, em França. Os organismos descobertos teriam vivido em água do mar, em ambiente raso e com pouco oxigénio.
As primeiras formas de vida na Terra surgiram há 3,5 mil milhões de anos e não passavam de seres unicelulares (com uma única célula), como as bactérias, e sem núcleo interno para "guardar" o material genético. Estes seres sem núcleo celular são os chamados procariotes. Os mais complexos, com núcleo celular, são designados eucariotes.
Em Franceville, a equipa de El Albani encontrou mais de duas centenas de fósseis com dimensões entre um e 12 centímetros, pluricelulares e eucariotes. Têm uma forma arredondada e em espiral - a equipa confirmou sem margem para dúvidas a sua origem biológica - e a sua datação acabou por explodir como uma bomba: 2,1 mil milhões de anos.
O eucariote (com núcleo celular) mais antigo que se conhecia, chamado Grypania spiralis, tem 1,6 mil milhões de anos e, mesmo assim, era composto de uma única célula. Daí a alteração radical que esta descoberta vem implicar na visão que a ciência tem sobre a evolução da vida na Terra.
Vem tudo explicado no artigo Large colonial organisms with coordinated growth in oxygenated environments 2.1 Gyr ago (doi:10.1038/nature09166), de Abderrazak El Albani e outros, que pode ser lido na Nature. Ou, para quem for assinante, aqui.

Fontes: 1 e 2