27 março 2010

Joaquim Manuel Magalhães


Num livro com menos de 200 páginas está tudo aquilo que Joaquim Manuel Magalhães pretende ser, agora, enquanto poeta. Um toldo vermelho é nada menos nada mais do que uma obra de síntese. Onde o autor rasurou e reescreveu o que havia publicado.
Joaquim Manuel Magalhães chega à idade da reforma com um fôlego e um ímpeto que fazem lembrar os idos de 1970. O único senão é haver já quem saiba de memória alguns dos poemas e tenha levado a mal o fundo trabalho de limpeza a que o autor os submeteu, alterando-os radicalmente.
A prosódia acima de tudo? Quase. Mantém-se uma intensidade laminar que sempre caracterizou a sua poesia. Acentuou-se a propensão barroca que havido ficado contida em livros anteriores. Criou-se uma nova tensão, que aposta mais na linguagem e menos no sentido. E há um claro afastamento da ideia de partilha, seja por via do enriquecimento vocabular, seja pela rasura dos fios narrativos.
Joaquim Manuel Magalhães aproxima-se de um filão posto de lado há já algumas décadas, onde brilham nomes como Aquilino Ribeiro ou Tomás da Fonseca e que também chegou a seduzir poetas como Vasco Graça Moura.
O resultado é: vazio. Um vazio cheio de palavras, cheio de nervo, mas vazio. Cujo sentido, como assinalou e bem Luís Miguel Queirós, apenas funciona em contraponto com os poemas anteriores.
Verbos e conectores podem ser postos de lado - nada disso é novo. A mecânica interna pode ser uma paixão - há pessoas que adoram desmontar relógios. A arte contemporânea pode ser culturalmente bem remunerada e contaminar o espaço público - mas inevitavelmente o croché será arrumado na prateleira respectiva.
Resta-nos pois o desassossego, a inquietação e a insatisfação de ver uma obra poética reduzida a um colorido quadro de ladrilhos e mosaicos bizantinos e a certeza de que as bibliotecas existem por alguma razão.

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