Grande parte dos lugares comuns de agora foram forjados entre o século XIX e o século XX. A coisa é particularmente exemplar no que respeita ao discurso social e político. Veja-se o que dizia Ramalho Ortigão há mais de um século, falando do Portugal da época: "A indisciplina geral, o progressivo rebaixamento dos caracteres, a desqualificação do mérito, o descomedimento das ambições, o espírito de insubordinação, a decadência mental da imprensa, a pusilanimidade da opinião, o rareamento dos homens modelares, o abastardamento das letras, a anarquia da arte, o desgosto do trabalho, a irreligião, e, finalmente, a pavorosa inconsciência do povo."
Muitos cairão na tentação de ler estas palavras como se fora um retrato do presente. Quando nem sequer são um retrato da época. Apenas a opinião inflamada de um autor dotado e zangado com o país.
O tom azedo e caricatural com que Ortigão fala diz muito dele próprio e da conta em que se tinha. Elevada, claro, acima da choldra infecta. O problema é que a suposta choldra era apenas e tão-só a choldra de um classe dirigente mal formada, gulosa, pouco apta a perceber o mundo à sua volta, embora fosse endinheirada e gozasse de boa vida.
O problema era que, como diz, Maria Alice Samara, investigadora do Instituto de História Contemporânea (IHC) da Universidade Nova de Lisboa e especialista na Primeira República: "Tal como julgavam os republicanos, assistiu-se a um abastardamento do regime liberal. Os homens que estavam no Governo não representavam o povo, eram criaturas do rei. O ambiente de crise permite aos republicanos a apresentação de uma resposta nova, de uma regeneração, que é também feita com outras sensibilidades políticas"(Público).
Os republicanos foram muito hábeis e veicularam ideias. Ideias que colhiam cada vez mais adeptos e venceram. Mas, como se viu depois, os problemas mantiveram-se, apesar de muitas boas obras. E mantiveram-se porque a classe empresarial e dirigente continuou igual a si mesma: medíocre.
Muitos cairão na tentação de ler estas palavras como se fora um retrato do presente. Quando nem sequer são um retrato da época. Apenas a opinião inflamada de um autor dotado e zangado com o país.
O tom azedo e caricatural com que Ortigão fala diz muito dele próprio e da conta em que se tinha. Elevada, claro, acima da choldra infecta. O problema é que a suposta choldra era apenas e tão-só a choldra de um classe dirigente mal formada, gulosa, pouco apta a perceber o mundo à sua volta, embora fosse endinheirada e gozasse de boa vida.
O problema era que, como diz, Maria Alice Samara, investigadora do Instituto de História Contemporânea (IHC) da Universidade Nova de Lisboa e especialista na Primeira República: "Tal como julgavam os republicanos, assistiu-se a um abastardamento do regime liberal. Os homens que estavam no Governo não representavam o povo, eram criaturas do rei. O ambiente de crise permite aos republicanos a apresentação de uma resposta nova, de uma regeneração, que é também feita com outras sensibilidades políticas"(Público).
Os republicanos foram muito hábeis e veicularam ideias. Ideias que colhiam cada vez mais adeptos e venceram. Mas, como se viu depois, os problemas mantiveram-se, apesar de muitas boas obras. E mantiveram-se porque a classe empresarial e dirigente continuou igual a si mesma: medíocre.
caro "pisca de gente"
ResponderEliminar"Os republicanos foram muito hábeis e veicularam ideias. Ideias que colhiam cada vez mais adeptos e venceram. "
Não se esqueça de referir como "venceram"!!: à lei da bala, à lei da bomba e do terrorismo social. Nem em 16 anos a "coisa" estabilizou"... tiveram surgir 2 ditaduras umas das quais colheu ideias e muito mais...
cumprimentos,
João Amorim
À lei da bala? E eu a pensar que o 5 de Outubro tinha sido mais ou menos pacífico.
ResponderEliminarOlhe que isso de ter havido disparos não foi assim tanto como deve pensar. Mas para o confirmar, o melhor é ir aos livros. A net, infelizmente, é parca em informação fidedigna.
O problema é que o "5 de Outubro" se prolongou anos e anos, com todo o tipo de violências e de abusos. Incompetência governativa, descalabro financeiro, derrota na guerra mundial, ataque aos sindicatos e igreja, cerceamento radical dos cadernos eleitorais e da liberdade de imprensa. cadeias cheias de presos políticos, assassínios generalizados, etc. Não se pode resumir "a república" a uma data. Consistiu num longo e angustiante processo.
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