22 janeiro 2010

Joaquim Manuel Magalhães

Teorias Literárias

3

O poeta era brasileiro e de turismo.
Na meia língua dos dois ensaboou-me
com um baião de galanteria .
Loas de grasnar a tolo e, é claro, o
talmente verdade a sua ladainha.

Emplumei-me de rubores a consentir
tudo o que requeria: introduções,
selecções, montras de livraria. Um festim
de recalques borbulhava compensado:
«Faça o que quiser. A sei eu autorizo.»

O brasileiro resfolegava de elogios.
Ganhara as férias, tinha pronta a lista
da antologia e mesmo em editora de segunda
já palmara em troca agradecida um
piqueno florilégio luso de versos seus.

Aviões passavam para bem mais longe
às seis da tarde desse dia.
Calcados pela vigarice, no super
mercado de abraços, esgueirámo-nos
cada um para a sua maravilha.

[in Alguns livros reunidos, Contexto, 1987, pág. 117]

Sem comentários:

Enviar um comentário