12 janeiro 2010

Amores tardios


O amor sempre foi perigoso. Refractário, ilegal, proibido, escandaloso, jocoso - vários adjectivos se lhe colam para descrever os perigos da paixão, do amor assolapado.
Muitas pessoas passam a vida atrás do amor. Outras tropeçam nele e deixam-se levar pela tempestade. Outras ainda fogem, com medo de perderem a cabeça.
O amor não olha a credos, idades, cores de pele nem a outros pormenores. Embora tudo isso influencie, e de que maneira, a tomada de posição de alguns amadores. Já os amantes sabem que o amor é tirano, quando chega exige tudo e não se interessa por mais nada que não seja a satisfação, o prazer, o encantamento.
Que o diga Iris Robinson, mulher do chefe do governo autónomo da Irlanda do Norte, deputada em Westminster e na Assembleia de Ulster, famosa pela sua personalidade e tendência em apelar para a Bíblia, num extremismo e puritanismo que agora se voltam contra ela.
Em 2008, caiu de amores por um rapaz de 19 anos, Kirk McCambley. Iris disse que se aproximou de McCambley para o ajudar a recuperar da morte do pai e que a relação se foi tornando mais séria com o tempo. Tão séria que a deputada do DUP arriscou não só o casamento, mas também o seu lugar na política para facilitar a vida ao namorado. Além disso, a mulher do primeiro-ministro Peter Robinson vê-se acusada de manipular um concurso público, em 2008, colocando o amante como o único candidato a reunir todos os requisitos para assumir a gerência de um café num parque municipal de Belfast. E de ter convencido dois promotores imobiliários da cidade a atribuir 50 mil libras (55,7 mil euros) para o namorado abrir o estabelecimento comercial numa das mais caras zonas da cidade.
A trapalhada é de tal ordem que Peter Robinson se viu obrigado a auto-suspender de funções para dar apoio à família. A família sempre teve esta função, de defender os indivíduos dos ataques de fora, mesmo quando os ataques vêm de dentro. E numa família que se alimenta publicamente do seu fundamentalismo religioso, o divórcio é proibido.
O extremismo religioso tem dessas coisas. E mostra como entre o blá blá da moralzinha e as pulsões do corpo, este sai sempre vencedor - Freud ganhou fama a falar do assunto.

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