08 agosto 2009

AL BERTO (1948-1997)

Al Berto, 1996

© Luísa Ferreira

CASA

.

.

durante a noite

a casa geme agita-se aquece e arrefece

no interior frio do olho da tua sombra sentada

na cadeira aparentemente vazia

.

esperas acordado sem sono

que a temperatura da casa se funda

com a temperatura incerta do mundo

depois

escreves exactamente isto: o horror dos dias

secou contra os dentes – e rouco

dobrado para dentro do teu próprio pensamento

ferido

atravessas as sílabas diáfanas do poema.

.

levantas-te tarde

atordoado

para extinguires o lume ateado

junto à memória da casa – respiras fundo

para que o gelo derreta e afogue

a vulgar noite do mundo.

.

olhas-te no espelho

atribuis-te um nome um corpo um gesto

dormes

com a árvore de saliva das ilhas – com o vento

que arrasta consigo esta chuva de fósforo e

estes presságios de tranquilos ossos

.

.

Al Berto, O medo


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