Bem vistas as coisas, o problema da cultura (nunca referido pelo ministro) é a falta de formação. Ou seja, um problema de educação. O ensino público não promove o gosto nem pela música, nem pelas artes plásticas (que tanto entusiasmam o senhor ministro), nem pelo teatro, nem pela dança, nem pela literatura. Sem público não há meios (lógica do discurso ministerial).
No entanto, o senhor ministro parece acreditar que o mais importante é o discurso (algo cada vez mais recorrente na retórica de diversos governos PSD e PS). Por isso, a excitação com o Museu da Viagem. E sempre tudo em Lisboa, claro, pois durante este ano e meio o senhor ministro já gastou muito com a província.
Claro que sem dinheiro não há milagres e o senhor ministro da cultura orgulha-se de ter feito bastante sem meios. A lógica centralista tem destas coisas, não se percebe que o "discurso" Portugal só começou a fazer sentido porque houve uma unidade linguística entre norte e sul, entre interior e litoral. Mas, mesmo para um ministro tão entusiasmado com discursos, isso parece ficar esquecido. É como se Portugal só fizesse sentido depois dos descobrimentos. Porque já há quem fala da primeira globalização e não há como estes chavões para entusiasmar a retórica política.
Numa coisa estamos de acordo com o senhor ministro: Portugal continua a ter uma élite cultural cujo discurso permanece contaminado pelos discursos oitocentistas. Ele próprio parece um exemplo cabal disso. Mal começou a falar do Douro viu-se que não tinha nada para dizer. Coisa estranha para um entusiasta dos discursos.
Tirem os políticos de Lisboa e levem-nos a passear pelo país. No mínimo, devem conhecer o território que vão gerir. Portugal não é apenas Lisboa.
Portugal pode produzir muitos discursos. Tem história para isso. Mas precisa que seja definida uma política: uma visão. Sem isso não há discursos que valham. E também precisa que a escola deixe de estar tão preocupada com a estatística e haja formação de formadores culturais, com circulação dos agentes pelo todo nacional. É preciso que o teatro circule, que a dança e o bailado façam o mesmo, que certas exposições nacionais, cheguem a todo o lado (e como deslocar obras é impossível, dado o custo, que as façam chegar virtualmente a todo o lado, como um desígnio político, como uma obrigação pública), para passarmos "da cultura do saber, a cultura dos doutores, para uma cultura do fazer".
No entanto, o senhor ministro parece acreditar que o mais importante é o discurso (algo cada vez mais recorrente na retórica de diversos governos PSD e PS). Por isso, a excitação com o Museu da Viagem. E sempre tudo em Lisboa, claro, pois durante este ano e meio o senhor ministro já gastou muito com a província.
Claro que sem dinheiro não há milagres e o senhor ministro da cultura orgulha-se de ter feito bastante sem meios. A lógica centralista tem destas coisas, não se percebe que o "discurso" Portugal só começou a fazer sentido porque houve uma unidade linguística entre norte e sul, entre interior e litoral. Mas, mesmo para um ministro tão entusiasmado com discursos, isso parece ficar esquecido. É como se Portugal só fizesse sentido depois dos descobrimentos. Porque já há quem fala da primeira globalização e não há como estes chavões para entusiasmar a retórica política.
Numa coisa estamos de acordo com o senhor ministro: Portugal continua a ter uma élite cultural cujo discurso permanece contaminado pelos discursos oitocentistas. Ele próprio parece um exemplo cabal disso. Mal começou a falar do Douro viu-se que não tinha nada para dizer. Coisa estranha para um entusiasta dos discursos.
Tirem os políticos de Lisboa e levem-nos a passear pelo país. No mínimo, devem conhecer o território que vão gerir. Portugal não é apenas Lisboa.
Portugal pode produzir muitos discursos. Tem história para isso. Mas precisa que seja definida uma política: uma visão. Sem isso não há discursos que valham. E também precisa que a escola deixe de estar tão preocupada com a estatística e haja formação de formadores culturais, com circulação dos agentes pelo todo nacional. É preciso que o teatro circule, que a dança e o bailado façam o mesmo, que certas exposições nacionais, cheguem a todo o lado (e como deslocar obras é impossível, dado o custo, que as façam chegar virtualmente a todo o lado, como um desígnio político, como uma obrigação pública), para passarmos "da cultura do saber, a cultura dos doutores, para uma cultura do fazer".
Um belíssimo texto que subscrevo na usa integralidade.
ResponderEliminarBravo!
Abriu a Bienal de Cerveira, pela primeira vez sem subsídio do Ministério da Cultura. Convidado para a abertura, o ministro cancelou à última hora, deve ter reparado que Vila Nova de Cerveira ficava a quatrocentos e tal quilómetros da capital. Se as artes plásticas entusiasmam tanto o homem, então coitadas das outras!... (http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=1317490)
ResponderEliminar