01 março 2009

Porque há tanta gente a acreditar no Pai Natal?


«Os cursos com médias mais altas, como Medicina, são tendencialmente preenchidos por alunos de famílias com mais recursos, revela um estudo na Universidade de Lisboa, que conclui que o acesso ao ensino superior não é “apenas uma questão de mérito”.»

Ou é de mim ou é óbvio. Pensar, ler, estudar exige estímulo, ambiente adequado, algum esforço e isso só é possível quando o meio envolvente cria condições e exige resultados.

Portugal vive muito para as fachadas, para as encenações. É um país, como em tempos disse um pensador, algo esquizofrénico. E muita boa gente julga que a sua vida pode mudar se... acontecer um milagre (por alguma razão somos um dos países que mais dinheiro gasta em jogos do tipo euromilhões). Mas os milagres são-nos por isso mesmo: por serem raros.

Portugal não tem, ao contrário doutros países, uma tradição tão classista como por exemplo o Reino Unido. Mas adopta os mesmos princípios escolares: mediocridade, indiferença, tédio, passatempo. Só que isso destina-se às classes baixas, já que as ricas frequentam outro tipo de escolas.

A educação anda há muito pelas ruas da amargura. Fruto de muitos anos de Salazar, a que se veio juntar uma democratização acelerada do ensino. E como se isso não bastasse, ao caldo de pais analfabetos, famílias desestruturadas, baixos rendimentos, altos consumos de álcool e drogas juntou-se a ideia de que a escola é inclusiva se for uma fachada. Isto é, se fizer com que todos transitem de ano de escolaridade mesmo sem terem adquirido conhecimentos (ou, como agora se gosta de dizer: competências).

A maior parte dos alunos não consegue concentrar-se senão durante mínimas fracções de tempo. Nas aulas, tudo se lhes afigura aborrecido. Os ritmos de estudo resumem-se a alguns minutos nas vésperas de testes. Acresce a dificuldade em distinguir o que é essencial do que é acessório, o não perceber o que é relevante ou axial e que justifica um determinado ponto de vista, ou ainda o transitar de ano sem ter adquirido conhecimentos (relacionar matérias, perceber a complexidade e a interdependência de assuntos, ...).

A maior parte, claro. Os tais que se julgam muito espertos por não serem capazes de executar determinado tipo de raciocínios e de tarefas.

Assim, entre 2003 e 2008, as vagas dos cursos que requerem notas mais elevadas, como Medicina, Belas Artes e Farmácia, foram preenchidas principalmente por alunos com origem em famílias mais favorecidas, cujos pais são “quadros dirigentes e superiores das empresas ou da administração pública, especialistas das profissões científicas e intelectuais, técnicos e profissionais de nível intermédio”.

Sócrates continua a trabalhar para o faz de conta e anunciou hoje ao seu partido que vai conceder bolsas de estudo a alunos entre os 15 e os 18 anos. Que eu saiba essas bolsas existem há muito e sempre deixam de fora alunos das classes médias baixas porque os rendimentos do agregado familiar sempre ultrapassam os plafonds que a lei determina. Ou seja, alguns dos que precisavam mesmo da bolsa não a obtêm. Mas isso que importa? O que interessa é que os títulos das notícias veiculem as boas intenções do PS e de Sócrates. Se isso vai ou não mudar alguma coisa só interessa a meia dúzia (e não é com meia dúzia que se ganham eleições).

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