24 fevereiro 2009

Ainda o caso do livro apreendido em Braga


Diz e bem o deputado António Filipe: só uma "decisão judicial fundamentada na prática de um crime" pode justificar uma intervenção da polícia. "A actuação da polícia no caso em questão é um precedente grave que tem que ser devidamente explicado".

O livreiro a quem a PSP de Braga apreendeu cinco exemplares de um livro que reproduz na capa uma pintura de Gustave Courbet, por a considerar "pornográfica", vai recorrer aos tribunais. António Lopes vai também enviar exposições ao Presidente da República e aos grupos parlamentares da Assembleia da República. "Sei que a PSP não recebeu ordens do ministério da Cultura, mas a verdade é que se sentem, actualmente, à vontade para o fazer", afirmou. Para o empresário, "esta deve ter sido a primeira vez que um livro foi apreendido depois do 25 de Abril".

Já a PSP tenta sair airosa da coisa dizendo que havia “perigo de alteração da ordem pública” pois “Havia vários grupos de crianças a visitar a feira que, depois de se aperceberem da obra, arrastaram vários colegas para a verem. Os pais não gostaram da situação, começaram a ficar inquietados e pediram aos organizadores que retirassem os livros”.

Ora da próxima vez que um grupo de pais exigir, por exemplo, que seja retirado um carro da PSP que se encontre num parque de estacionamento, a polícia agirá com a mesma prontidão e retirará o veículo.

Há desculpas esfarrapadas que, por envolverem sexo, são facilmente aceites. O problema está na falta de educação dos pais e da PSP que não só desconhecem o que seja arte, música e literatura contemporânea, como se relacionam com tudo o que tenha a ver corpo humano do mesmo modo malsão dos regimes ditatoriais ou dos orientadores religiosos mais inquisitoriais.

Este caso do livro apreendido, juntamente com manifestações recentes de altos membros da Igreja católica mostra bem que a educação anda pelas ruas da amargura e que o regime democrático tem de se deixar de fantasias e começar a preparar os seus cidadãos como deve ser, sob pena de cairmos não tarda nalguma caça às bruxas.

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