11 janeiro 2009

De cuecas no metro III



Quase todos os participantes entraram nas carruagens do metro vestidos. Depois, despiram com naturalidade calças e saias, pondo à vista de todos roupa interior mais ou menos provocante, nalguns casos discreta.
E sentaram-se ou encostaram-se nalgum canto, como se nada fosse, consultando o diagrama da rede, falando ao telemóvel, ouvindo música ou lendo um livro ou um jornal.
Os não-participantes reagiram em conformidade: olhos esbugalhados, cabeças viradas, dedos apontados, risos contidos, olhares de reprovação.
Talvez porque andara com as cuecas à mostra implica uma certa arte e as cuecas dos participantes nem sempre são bem escolhidas, quiçá por andarem geralmente encobertas. Estas iniciativas são por isso uma boa maneira de pôr a nu a formação estética de uma nação, que das calças ou saias para dentro descura tantas vezes o básico.
A estética da cueca é um bom ponto de partida para uma tese sobre o vestuário no início do século XXI.
Texto elaborado a partir do JN e Público (papel)





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