17 novembro 2008

Simplex

Portugal é um país curioso. Herdeiro da Inquisição e do Estado Novo foi capaz do 25 de Abril e de integrar. Mas parece apostado em regredir ao tempo do maccarthismo e do estalinismo. Quanto mais caça às bruxas e quanto mais burocracia melhor: parece ser o lema de quantos correm pressurosos atrás do vazio e prescindem da sua natureza de sapiens por medo de perder o emprego.
Os tempos não correm de feição à democracia ou à crítica. O medo generaliza-se e vemos pessoas que até há pouco tinham algum sentido de humor completamente intoxicadas, numa correria burocrática que apenas as desgasta e cujos resultados não servem para nada, excepto evitar que os seus próprios salários aumentem (sim, sim: trabalham mais e ganham menos).
Algo que no país da inveja colhe bons dividendos, pois a miséria ainda está muito interiorizada (os telemóveis, nets e demais tecnologias são apenas a máscara que não consegue esconder o que está por detrás dela). No país da miséria as pessoas gostam de se nivelar miseravelmente. Quanto mais pobres todos, mais felizes, pois o mérito irrita a maralha. O único mérito que reconhecem é o do poder mais boçal (o do quero, posso e mando).
Para muitos, educação é sinónimo de ocupação de tempos livres. Por isso, tudo o que cheire a estudo, esforço, empenho, rigor (científico), criatividade cheira mal. O que as pessoas querem é facilidade e promiscuidade. Os anúncios debitam fantasias diária e constantemente e sonhar é que é bom. Sonhar que a vida vai ser um mar de rosas, porque neste momento é um emaranhado de espinhos. Sonhar que tudo cai assim do céu, qual dádiva divina ou qual milagre.
Por isso, doutoramentos ou mestrados não têm qualquer valor. A malta é toda igual, tenha o antigo quinto ano do liceu ou um doutoramento. Olha, olha, o antigo quinto ano do liceu vale mais do que qualquer doutoramento. Naquele tempo é que era. Isto para não falarmos da antiga 4.ª classe, que essa, então, dá logo direito a cátedra universitária.
Um país que desbarata recursos e "capital humano" é um país votado ao fracasso. Mas isso, já todos parecem ter interiorizado com o leite materno ou com o leite em pó. O que importa agora é cumprir outro desígnio: afastarmo-nos cada vez mais dos países mais desenvolvidos. Ficarmos cada vez mais pobres. Criados, empregados de mesa, apanha bolas serão os grandes empregos do futuro (não porque sejam bem pagos, mas porque serão os únicos).

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