Quando a esmola é muita, o pobre desconfia. Quando a teimosia é recorrente, o pobre encolhe os ombros. E à custa desse encolher de ombros, Portugal viveu demasiado tempo sob alçada do Estado Novo. Algo cujos efeitos nefastos ainda se fazem sentir - atraso do país em relação aos demais países da Europa; problemas estruturais e económicos que ainda não conseguimos ultrapassar; falta de participação dos cidadãos na vida comunitária; grande abandono escolar; iliteracia cultural.
Portugal conseguiu realizar, em trinta anos de democracia, progressos notáveis: a vida das pessoas mudou tanto que o bem-estar se tornou quotidiano. Mas ainda há coisas sinistras. Uma delas é a tríade que encabeça o monstro do Ministério da Educação. Figuras baças que, por desconhecimento do que é a realidade do ensino básico e secundário e com as cabeças formatadas por uma cultura pidesca e burocrática, resolveram criar um suposto modelo de avaliação do trabalho do professor que não só não avalia nada, como tem intuitos absolutamente perniciosos, na linha mais soez do Estado Novo: constranger o corpo docente a uma amálgama obediente.
Ora, os professores, nestas três décadas de democracia, foram protagonistas de uma escola diferente, democrática, embora cheia de problemas e de questões mal resolvidas, pois sobre as escolas têm sido despejados decretos-lei atrás de decretos-lei que tudo querem controlar.
Esses professores cresceram com a democracia e a pouco e pouco, desde que esta equipa ministerial iniciou funções, viram-se enxovalhados, amesquinhados e constrangidos a cumprir o despautério de um Cérbero que nem de olhos fechados está desperto, tal a ânsia de agradar ao chefe Sócrates.
O dito modelo de avaliação só é possível porque os professores, ao contrário de outros grupos profissionais, nunca possuiu um código deontológico que definisse as suas funções. Viu-se, por isso, entregue ao famigerado Estatuto cujos efeitos estão à vista: fantochada.
Em que é que isso contribuiu para melhorar a escola e o ensino? Em nada. Mas já piorou as coisas, com mais uma mãozinha ministerial que tenta a todo o custo que a escola seja entendida como um jardim de infância dos 3 aos 19 anos.
A continuarmos neste caminho não há democracia que aguente. Um país sem pessoas bem formadas é um país fantasma. A formação tem custos e o Estado, pelos vistos, não está na disposição de os suportar (até porque eleitoralmente rendem pouco ou nada), mas também não tem coragem para reformular a Constituição e eliminar a gratuitidade do ensino.
O Estado quer que todos andem na escola e está-se nas tintas para a aprendizagem ou para a formação. Até porque estas almas pardas parecem ser da opinião de que a escola pública é para a ralé.
O que lhes interessa, como aos tugas salazarentos, é o que ganha um professor e que essa massa salarial permaneça baixa, pois assim será mais fácil domesticá-lo e conduzi-lo qual títere.
Não lhes interessa que os professores invistam em formação científica, mas que invistam em formação... iliterária, que cumpram o que os cérebros iluminados e Maria e Jorge e Valter decidem.
A tal simplificação é bem a prova de que as iluminárias apenas estão preocupadas com o dinheirinho. Como se estivessem no ministério das finanças. De educação, está visto, não percebem nem querem perceber nada.
Não podia estar mais de acordo. Como escreveu Alfredo Barroso há um 'bafio salazarento' em todo este processo...
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