29 novembro 2008

Farhad Hakimzadeh, o vândalo iraniano


Ao longo de sete anos, um gentleman e intelectual iraniano consultou livros na British Library e noutras bibliotecas, e, com um bisturi, foi tirando páginas, mapas e ilustrações. As obras ficaram irremediavelmente danificadas.

O bisturi de Farhad Hakimzadeh estragou 150 livros. Livros raros. Esse acto comprometeu uma parte dos mapas que documentam os primeiros contactos entre europeus e as regiões do Médio Oriente e China.

Fê-lo por dinheiro? Não. Hakimzadeh, 60 anos, é um empresário iraniano que vive no Reino Unido (com passaporte americano), formado em Harvard, editor e conhecido intelectual. Na altura dos acontecimentos era director do Iran Heritage Foundation, uma fundação sem fins lucrativos criada em 1995 para promover e preservar a história, a língua e a cultura do Irão.

O primeiro alerta foi dado em Junho de 2006 por um leitor de uma dessas bibliotecas que requisitou um exemplar de A Relation of Some Yeares Travaille Begunne Anno 1626, de Thomas Herbert, e chamou a atenção dos responsáveis para a falta de algumas páginas.

Especialistas examinaram a obra e confirmaram que as páginas tinham sido meticulosamente cortadas. Foi então montada uma complexa operação para encontrar o autor do crime e também para perceber quais as obras que tinham sido amputadas. Através dos registos electrónicos foi possível fazer uma lista com os nomes de todos os leitores da British Library que tinham requisitado o livro em questão e depois foram examinar outras obras consultadas por essas pessoas. Foi assim que descobriram outros livros estragados - todos relativos ao mesmo período histórico e versando sobre a relação da Europa com a região que hoje designada como Síria e Bangladesh.

As páginas foram cortadas mesmo junto à espinha do livro e os mapas (um dos quais avaliado em 32 mil libras - 38 mil euros) foram removidos dos capítulos, quase sem deixar qualquer rasto. Apesar das evidências, a primeira reacção de Hakimzadeh foi negar tudo. Quando a polícia efectuou buscas em sua casa (Knightsbridge, Londres), em Julho passado, encontrou alguns dos mapas, páginas e ilustrações desaparecidas soltos e outras enxertadas em edições menos valiosas das mesmas obras.

No total, Hakimzadeh tinha requisitados 842 livros, dos quais 150 foram mutilados. Algumas das páginas arrancadas foram recuperadas mas outras continuam desaparecidas.

Uma das obras que ele mutilou é portuguesa, A Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, uma edição de 1620.

Outras obras danificadas por este estranho intelectual:

Istoria de la China i Cristiana empresa hecha en ella, de Matteo Ricci (1621).
Breue relacion, de la peregrinacionque ha hecho de la mayor parte del mundo, de Sebastian Pedro Cubero (1688).
J. G. W’s Ost-Indian – und Persianische Reisen, de Johann Gottlieb Worm (1745).
Mithridates, de Nathaniel Lee (1693).
Novus orbis regionum ac insularum veteribus incognitarum, de Simon Grynaeus (1537)
Historia della Persia, de Giovanni Pasta (1650).

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