15 outubro 2008

O cliente não quis pagar. O taxista disparou


Como nas noites anteriores, estava eu à espera do táxi que me iria levar a casa. O taxista parecia mal disposto, mas não liguei. A noite já me trouxe muitos rostos intoxicados pelo odor da morte. O que eu não sabia era que este me queria mostrar a passagem para o outro mundo.

Saí do emprego pelas cinco da manhã. Trabalho num hotel. A vida não é fácil para ninguém, eu sei. Mas que raio, aquele queria ganhá-la às minhas custas.

Faço aquele percurso diariamente e sempre o taxímetro marca o mesmo. Naquela noite não. A soma pretendida era exorbitante. Neguei-me a pagar e reclamei. O fulano, nem ai nem ui, saca de uma pistola, abre a porta, tira-me do carro com maus modos e dispara dois tiros. Devia estar bêbado ou narcotizado com outra substância, pois falhou. Consegui desenvencilhar-me e fugi. Alertei de imediato a polícia.

Dias depois, lia-se num periódico: «Lisboa. Um taxista, de 44 anos, disparou dois tiros contra um cliente que não aceitou o valor marcado no taxímetro, já que era bem superior ao que pagava diariamente pelo mesmo percurso. A vítima apresentou queixa à Polícia Judiciária, que viria depois a identificar e a deter o indivíduo. Foi ouvido em tribunal e saiu com a medida mais leve, termo de identidade e residência com apresentações periódicas na esquadra mais próxima da residência. A empresa que o contratou foi informada pela PJ do crime, mas nada há que impeça o arguido de continuar a exercer.»

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