08 junho 2008

A revista LER


Em Portugal lê-se muito. Demasiado. Não só pelo número de títulos publicado, como pela variedade e multiplicidade de material impresso (não se lêem apenas livros, há que pensar em jornais, revistas, rótulos) e outro (blogues, TV, Net).

A relevância literária do que se lê não será, do ponto de vista da arte, significativo. Poderá mesmo dizer-se que a maior parte dos que lêem estão, ao nível da formação e do gosto, desfasados do tempo. Qual é o espanto? O mesmo se passa com a música, com as artes do palco ou com as artes plásticas.

O que não deixa de ser caricato é ver o que lêem quantos a si mesmos se consideram esclarecidos, informados, cultos, cosmopolitas. Mesmo quando não dizem que livros lêem, fazem sugestões de leitura ou propagandeiam revistas soit disant literárias.

Veja-se a LER. Aquilo tresanda a bafio. Não há ali nada que mostre ousadia, rasgo, vida. Literatice há q.b.. Mas vida, incomodidade, medo, anseios, raivas, estoicismo, conquistas – zero, nicles, népia.

Por que razão os supostos adoradores da arte ou da arquitectura contemporânea correm a aplaudir a dita cuja? Será pela mesma razão que o vulgo venera marcas? Será pela confusão entre arte e religião? Será porque ler exige reflexão, confronto, inquietação e, a partir de certa idade (senão sempre), deixa de se ter estômago para isso?

O director da LER diz que é «uma revista independente sobre livros e sobre a vida que anda nos livros». Não se percebe onde está a independência se aquilo é editado pelo Círculo de Leitores (que pertence a um grupo editorial concreto e forte). A revista conserva a estrutura que tinha quando Francisco José Viegas era director, embora com outro aspecto gráfico. Continua a não haver secções para as ciências humanas e sociais (Antropologia, Filosofia, História, Psicologia, Sociologia, …) pese embora o número de títulos editados. Não há (ainda não) secções reservadas à literatura dos outros países de língua portuguesa. Não há secções dedicadas às literaturas dos países que compõem a União Europeia. Fala-se dos pequenos (editores, livreiros) mas não há uma secção que lhes seja exclusivamente dedicada. E o rol de nãos poderia continuar.

O que é, então, a LER? Por enquanto um imenso bocejo. Muito papel para nada.

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