18 junho 2008

O facilistismo

Sou pai. E professor. Dói-me ver o estado comatoso do ensino público. A culpa é do país, não do governo A, B ou C. Mas nem por isso deixa de ser grave que a ministra queira apresentar serviço e garantir que estamos no melhor dos caminhos (quer ela dizer «por causa do que eu faço»). Porque isso é mentira e a sra. ministra sabe-o. E para mim, como creio que para outros, quando a ministra diz “Estamos todos de parabéns” há como que uma reacção cutânea de aversão. Se ela tivesse começado com este discurso, sabíamos que era assim mesmo. Mas usá-lo agora não só não lhe fica bem como soa totalmente a falso.

Herdámos um país analfabeto (fruto das políticas de Salazar, que nos fechou a Europa e o Mundo). Os filhos desses analfabetos puderam alfabetizar-se assim que a escola se democratizou. Só que o embate foi de tal ordem que a escola deu-se mal com a geração do baby boom. E desde então somos confrontados com o dilema democrático da «escola para todos» (gratuita e obrigatória). O Estado consome fortunas com isso e os resultados são fracos (senão por que caminhariam gradualmente as provas para o infantilismo?).

Há muita gente que se dá mal com a interpretação, com a leitura, com o raciocínio, com a ordem, com a geometria… Mas não se pense, como fazem tantos, que isso se deve apenas à escola. Porque não deve. Os pais contribuem (e de que maneira) para a calamidade. E aquilo que miúdos e crescidos observam também tem a sua quota de responsabilidade na indolência generalizada.

A sanha estatística deste governo, que continua a política da terra queimada, orientando a escola para os alunos mais fracos, em detrimento dos bons alunos, prejudicando os que se podem desenvolver em nome dos que detestam a disciplina, é sinal de que algo está muito mal. E de que é necessário acabar com o “eduquês” e outros mitos do politicamente correcto. Enquanto a bitola for a estatística não vamos longe. Assim que a bitola for a realidade nua e crua, ou seja, o dinheiro, a coisa muda de figura. Começa a ser tempo de quem desbarata recursos deixar de beneficiar da gratuitidade do ensino. Onerando, por exemplo, os impostos dos encarregados de educação desses alunos. Começa a ser tempo, também, de definir objectivos para o país. O que é que o Estado pretende da escola? O discurso que ornamenta a lei de bases do sistema educativo não tem dado bons resultados. Mas quem fala disso?

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