09 abril 2008

Se a escola não fosse a escola mas fosse um milagre


Transcrevemos da revista “Pública” um excerto de «Abandono escolar Histórias exemplares», com texto de Ana Cristina Pereira. Comentários para quê?

Ana , 14 anos , 5.º ano de escolaridade, «Não quer saber»
- Não gosto da escola.
- Porquê?
- Sei lá. Não tenho vontade de lá estar. Quando estou na escola não estou a fazer nada.
- E os professores não te mandam fazer alguma coisa?
- Eu é que mando neles. Desde o 4.º ano que eu é que mando neles. Sou rebelde. No 3.º ano "mandei" com uma cadeira num colega.

(…)

Os pais não lhes conseguem impor regras. "Ele não me bate e o resto é letra", gaba-se Ana. "Eu às vezes mereço umas chapadas, o meu pai não dá e se calhar é por isso que abuso", contrapõe a amiga. "Ando maluca para ir para um colégio, qualquer dia começo a partir tudo, a assaltar lojas a ver se me metem lá." Ana interrompe o "show": "O meu pai também diz que me vai pôr num colégio. Já nem ligo, ele não tem coragem, diz que já esteve lá e sabe o que é aquilo."
Jéssica masca a pastilha elástica de modo tão exagerado que Ana lhe dá uma cotovelada. O gesto desperta uma memória dentro de quem tanto masca: "Um dia, uma "stora" virou-se para mim: "Deita a chiclete fora." E eu: "Não deito". E ela: "Deita isso fora ou sai." E eu sempre a fazer bolinhas: "Não deito." Ela puxou-me e eu dei-lhe um estalo. No fim, ela é que pediu desculpa."

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