25 abril 2008

Credo, cruzes, canhoto!!!


É impressão minha ou os políticos portugueses vivem no mundo da lua?

Pode um Presidente da República fazer alarde, como aconteceu hoje com Cavaco Silva, da ignorância de muitos jovens sobre o 25 de Abril e o seu significado, e partir para a denúncia de uma «notória insatisfação» dos portugueses com o funcionamento da democracia? Pode. Cavaco Silva foi, durante anos, primeiro-ministro e é hoje o chefe da Nação portuguesa. Um português não fica bem com a sua consciência se não falar. É preciso falar. Falando a coisa fica menos pesada. Fazer alguma coisa para mudar isso é que não. Basta falar. Os outros que façam.

O 25 de Abril de 1974 mudou o país? Mudou. Mas os portugueses continuam a sofrer diariamente os 48 anos de ditadura mais o lastro de vários séculos de Inquisição. Estão moldados pelo medo. O medo torna-os cúmplices, senão actores principais, do polvo que é a classe dirigente e grande parte da classe económica do país. Políticos, gestores e empresários que ao longo destas três décadas nos conduziram até onde estamos: à beira do precipício.

Que precipício? O de sempre, a miséria.

A miséria urbana e rural (em três décadas o cimento e o alcatrão destruíram quase tudo, para gáudio de bancos, stands de automóveis, agências de viagens e algumas prostitutas de luxo) não dão mostras de regredir. Se há coisa de que os portugueses gostam é de gritar o seu atraso cultural. Um atraso que se manifesta nas grandes e nas pequenas coisas. Por exemplo, no modo como a Filosofia, a História e a Literatura são paulatinamente afastadas dos programas escolares, em nome do tão propalado sucesso. O sucesso cá é sempre sinónimo de ignorância e de vale tudo. Os custos dessa militância educativa vão-se fazendo sentir a pouco e pouco. Primeiro é a falta de memória, depois a falta de referências, a seguir a dificuldade em contra-argumentar. Ao analfabetismo dos avós sucede a iliteracia escolarizada dos netos. Parabéns Portugal, continuas a cumprir o teu destino.

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