08 março 2008

Maria Gabriela Llansol (1931-2008)


Maria Gabriela Llansol, escritora portuguesa, é autora de uma obra com cerca de 30 títulos publicados. Ganhou muitos prémios, mas poucos ouviram falar dela e menos ainda a leram.
Maria Gabriela Llansol Nunes da Cunha Rodrigues Joaquim, mais conhecida como Maria Gabriela Llansol, nasceu em Lisboa, no dia 24 de Novembro de 1931 e morreu em Sintra, a 3 de Março de 2008.
O seu primeiro livro, Pregos na Erva, data de 1962. O último, Desenhos a Lápis com Fala - Amar um Cão, é de 2008.
Sobre si, a autora disse: "_____ eu nasci em 1931, no decurso da leitura silenciosa de um poema". A sua escrita era mesmo assim, com linhas e espaços em branco.
Depois do curso de Direito, em 1955, e do curso de Ciências Pedagógicas, em 1957, inicia um trabalho de experiência pedagógica que leva para a Bélgica, Lovaina (1971-79), onde põe em prática uma experiência inovadora com a linguagem. É já a busca de uma língua "nova", a "língua sem impostura", tão presente em Um Beijo dado Mais Tarde (1990), a que fará surgir um texto "novo". No meio dessa experiência escreverá O Livro das Comunidades (1977), o primeiro da Trilogia Geografia de Rebeldes.
Alexandra Lucas Coelho, no Público, escreveu: «Maria Gabriela passou 20 anos na Bélgica. Ao regressar a Portugal, foi viver para Colares e depois para Sintra. Vivia com o compromisso que pedia à escrita, longe do poder e dos seus príncipes. A mesa de trabalho era o lugar onde se sentia "inteiramente feliz". E o texto ou vinha ou não vinha. "Não sou escritor", escreveu, para dizer que não se inquietava se não viesse.
Os livros foram saindo, na Afrontamento, na Regra do Jogo, na Rolim, na Relógio d'Água, e mais recentemente na Assírio & Alvim. O "livro-fonte" chamava-se
O Livro das Comunidades. Uma comunidade não é a massa, será mesmo o seu contrário.
A de Maria Gabriela Llansol é uma comunidade de rebeldes, marginais, malditos, figuras "intensas" da história, da poesia, da filosofia, da pintura, da Bíblia, dos sonhos, convocadas pelo texto, tão reais como a realidade de descascar ervilhas enquanto se ouve Bach - são Bach e Anna Magdalena Bach, Myriam e Témia, Nietzsche e Rilke, Eckart e Ana Peñalosa, Ibn" Arabi e Kierkegaard, Tomás Müntzer e Robinson Crusoé, Kafka e Hölderlin, São João da Cruz e Aossê (o nome que Maria Gabriela encontrou para Fernando Pessoa).
Todo eles são família e aparecem no texto tão naturalmente como o peixe rosa-avermelhado ou o velho gato vadio, o castanheiro ou os metrosíderos, a jarra de faiança verde ou a tesoura para cortar os pavios das velas, ou aquele momento em que Maria Gabriela vê a A Festa de Babette - porque tudo é a vida viva agora, uma intercepção de rostos, memórias, visões, fulgurações, fragmentos, elipses. Quando não se vê, como quando há um eclipse, aparece um travessão. O texto ficou opaco.
Há uma passagem em que Maria Gabriel Llansol escreve: "Quem traz algumas mutações estilísticas, algumas propostas poderosas de mutação do olhar pode não ser bem-vindo mas não pode, de certeza, ser dispensado." Uma obra que dá tudo - "fazer de nós vivos no meio do vivo" - exige tudo. O texto de Maria Gabriela Llansol implica profundamente o leitor, os seus leitores foram formando uma comunidade firme, devotada mesmo, mas nunca foram uma massa, nem com o empurrão fugaz que podem dar os prémios de literatura (e em Portugal ela teve-os quase todos, incluindo por duas vezes o Grande Prémio APE de Romance e Novela, a última das quais com Amigo e Amiga, de 2006).»

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