Vasco Graça Moura, poeta e escritor, mas também político, tem sido uma das vozes mais activas contra o Acordo ortográfico. Na edição de hoje do Público explica, uma vez mais, porquê.
Razões legais: «o acordo previa a elaboração de um vocabulário ortográfico comum que devia estar pronto até 1994 e que nunca foi feito. Mas também previa a elaboração de um vocabulário técnico-científico, e esse ainda menos foi feito.»
Razões históricas: «O segundo grupo de problemas tem a ver com as bases do próprio acordo. Há uma grande diversidade de critérios, em que umas vezes se invoca a história das palavras, outras a etimologia, outras o desuso e outras a pronúncia. Não há, por isso, um critério seguro. É uma norma que implica que na grafia portuguesa desapareçam consoantes ditas mudas que têm um papel muito importante em primeiro lugar no testemunho etimológico, porque a grafia transporta consigo uma carga de informação histórica, cultural e etimológica.»
Razões etimológicas: «Há ainda um terceiro aspecto que tem a ver com as vogais átonas - i, e, o, u -, que remete para dicionários e vocabulários. O acordo não diz como deve ser, remete para dicionários que não se sabe de quando são. Por exemplo, a palavra criar, que vem do latim crear - se eu consultar um dicionário do princípio do século XX, provavelmente a palavra vem com e, crear, creador, creação. Um dicionário de meados do século já tem criar com i. Qual é o critério que me leva a estabelecer a regra para escrever hoje? Isto gera muito mais incerteza.»
Razões económicas: «vou ler um texto da APEL relativo ao acordo de 1991: "A entrada em vigor do acordo provocaria uma recessão na compra de dicionários, enciclopédias e prontuários [...], milhões de livros ficariam desactualizados. [...] Acresce-se o pesado custo da reactualização e reprogramação da rede de leitura pública e dos livros escolares e de literatura infanto-juvenil. [...] As pequenas e médias editoras não teriam capacidade para suportar a reconversão e seriam levadas à falência. [...]".»
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